FUTURO

Campinas 215 anos: O bairro que ajudou a construir Goiânia viu a sua própria história se perder no tempo

Após virar bairro e polo econômico, Campinas perdeu sua essência cultural

O Clube Social de Campinas abrigava eventos culturais, como o carnaval de 1952 - Foto: Acervo Hélio de Oliveira

Após a inauguração de Goiânia, Campinas deixou de ser um município autônomo e foi integrada à nova capital como um de seus bairros. Na época, a população local parece ter aceitado bem a mudança, influenciada pela promessa de modernização propagada pelo então prefeito de Campinas. A ideia era que a região se beneficiaria do desenvolvimento proporcionado pela construção da nova capital.

No entanto, com o passar do tempo, Campinas perdeu sua infraestrutura urbana e seu papel administrativo. Os prédios que abrigavam temporariamente as repartições públicas foram transferidos para o centro de Goiânia, e o bairro, aos poucos, perdeu sua identidade cultural. Os cinemas de rua, por exemplo, foram desativados, enquanto Goiânia consolidava seu espaço como polo cultural e administrativo.

O historiador Sérgio Felício ressalta a relevância econômica de Campinas para Goiânia, no entanto, lamenta que o bairro seja reconhecido apenas como um polo comercial e não tanto por sua história, cultura e comunidade.

O declínio da identidade de Campinas contrasta com as memórias de quem viveu seus tempos áureos.

Beto Selva, curador do Instituto Bariani Ortêncio, reforça o impacto das mudanças ao longo do tempo. Ele, que diz ter vivenciado a época áurea do bairro, relembra quando o local era considerado residencial e tranquilo: “Vivi em Campinas de 1948 a 1968, a última fase em que Campinas era como uma cidade independente. A gente ainda dizia: ‘Vou para Goiânia’ ou ‘Vou para Campinas’.”

Ele destaca o papel histórico do bairro na formação de Goiânia: “Os padres redentoristas trouxeram profissionais da Alemanha e montaram escolas que formaram a primeira turma de trabalhadores da construção da capital. Campinas foi base para Goiânia.”

Sobre a vida cultural, Beto recorda: “Tinha cinema, footing na porta do Cine Campinas, famílias de imigrantes alemães, italianos, até russos. Era cosmopolita, isso na década de 1950.”

Ainda sobre as transformações, ele relembra a segurança do bairro: “Não tinha violência. Eu lembro, inclusive o Bariani Ortêncio menciona no livro dele, tinha um ladrão que era o Boca Larga, famoso, que no fim de semana bebia cachaça demais, mas todo mundo ficava tranquilo. Ele era um ladrão que não abusava de ninguém, não era violento”, explicou Beto.

Mudanças e desafios atuais

Embora tenha se tornado referência comercial, aqueles que dependem da parte econômica do bairro enfrentam desafios. A empresária Margareth Maia defende melhorias: “Precisamos modernizar Campinas, com novas iluminações, mais segurança, tirar pessoas em situação de rua das praças e do ginásio, além de retirar os pontos de reciclagem improvisados. Campinas é um bairro de poucos moradores, mas o comércio é forte.”

Ela também critica a falta de apoio do poder público: “Precisamos de estacionamento organizado, trânsito fluido e menos multas abusivas. Se o comércio voltar a ter movimento, a prefeitura também arrecada mais.”

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