pé na estrada

Casal de Goiânia constrói motorhome e parte em viagem rumo ao Alasca

Débora e Marquinhos, de 63 e 65 anos, estão cruzando países, culturas e desafios por onde passam

Casal de Goiânia constrói motorhome e parte em viagem rumo ao Alasca Débora e Marquinhos estão cruzando países, culturas e desafios
Foto: @viagensmagnificas62

Débora e Marquinhos, de 63 e 65 anos, trocaram a rotina em Goiânia por uma aventura sobre rodas. Com os filhos já casados e enquanto os netinhos não chegam, o casal decidiu realizar um antigo sonho: construir o próprio motorhome e sair dirigindo rumo ao Alasca, passando por países, paisagens e perrengues que estão transformando a vida deles — e encantando quem os acompanha pelas redes sociais.

Sonho nasceu de vídeos e floresceu em Machu Picchu

A ideia de cruzar as Américas não surgiu de uma hora pra outra. Segundo o casal, a inspiração veio de vídeos no YouTube com pessoas viajando de motorhome rumo ao Alasca. Mas o verdadeiro “estalo” aconteceu em 2015, quando eles estavam em Machu Picchu e conheceram um casal mais velho, vindo de Belo Horizonte, que pretendia ir até o Canadá de carro.

“Ficamos fascinados e começamos a pensar que algo assim também seria possível para nós”, lembra Débora.

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Foto: @viagensmagnificas62

Construção do motorhome

Em julho de 2021, eles compraram um furgão e começaram a transformação. O motorhome foi construído quase todo de forma artesanal por Marquinhos, com apoio de Débora, dos filhos e até dos cônjuges. “Não é um veículo de luxo, mas foi feito com muito carinho e tem tudo que precisamos para viver e viajar”, contam.

Durante o percurso, inclusive, o veículo passou por novas melhorias no Canadá, feitas com a ajuda de um sobrinho. A estrada virou oficina, lar e escola — e cada quilômetro rodado representa uma conquista pessoal.

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Foto: @viagensmagnificas62

Chamaram de loucura, mas eles foram mesmo assim

Antes de cair na estrada, o casal ouviu de muitos que estavam fazendo uma “loucura”. Afinal, não é comum ver alguém saindo de Goiânia com destino ao Alasca, num motorhome feito em casa. “Mas a gente sabia o que queria. Nos preparamos e seguimos. Sempre fomos aventureiros e despojados, só que com responsabilidade”, explicam.

Uma das particularidades da viagem é que eles evitam campings e costumam dormir em postos de gasolina, praças públicas ou até perto de hotéis luxuosos — uma estratégia que, segundo eles, tem se mostrado segura.

Vida sobre rodas: liberdade na bagagem

A adaptação à vida nômade foi quase instantânea. Acostumados a acampar por longos períodos no Araguaia, Débora e Marquinhos viram no motorhome uma evolução natural desse estilo de vida. “A liberdade de estar onde queremos e sonhamos, na nossa própria casa, é indescritível. Nem sentimos falta do conforto fixo”, afirmam.

Foto: @viagensmagnificas62

O dia a dia é simples, mas bem organizado: cozinham na van, lavam roupas em lavanderias e reabastecem a água conforme a disponibilidade em cada país. Os banhos são planejados, já que o motorhome comporta até 180 litros de água — suficiente para quatro dias.

Perrengues e superações

Nem tudo, claro, são flores. Um dos maiores sustos foi na Bolívia, ao descobrirem que o país enfrentava uma crise de combustível. “As pessoas dormiam até três dias nas filas para abastecer. E o nosso motor só aceita diesel S-10”, contam. A situação quase fez o casal abandonar a rota, mas com ajuda de um brasileiro que mora em Santa Cruz de la Sierra, conseguiram o combustível necessário.

Outro aperto veio nos Estados Unidos, ao encontrarem uma grande trinca no para-brisa — que não tem reposição, já que o modelo da van (Renault) não existe no país. A solução? Seguir viagem com o vidro trincado, reforçado com adesivo especial, e torcer para que não piore.

Casal de Goiânia constrói motorhome e parte em viagem rumo ao Alasca Débora e Marquinhos estão cruzando países, culturas e desafios
Foto: @viagensmagnificas62

Paisagens que emocionam e encontros que marcam

Quando perguntados sobre o lugar favorito até agora, eles não conseguem escolher um só. “Cada país tem seu encanto. O mar azul de San Andrés, a cidade colonial de Antígua, os vulcões da Nicarágua, a biblioteca do Capitólio nos EUA, as paisagens de Maine… é tudo único.”

Em um trecho no deserto do México, uma cena os marcou profundamente: ao lado de uma caixa d’água, encontraram uma mochila cheia de pertences — provavelmente deixada por um imigrante ilegal em fuga. “Foi muito chocante. Uma realidade que até então só tínhamos visto na TV”, diz Débora.

A nova fase da vida — e do relacionamento

A viagem também marca um novo capítulo no casamento. No dia 23 de julho, o casal completa 37 anos de união. “Sempre tivemos uma casa cheia, animada. Agora, com os filhos adultos, não queríamos viver o tal ‘ninho vazio’. Planejamos essa aventura para viver um novo ciclo, só nós dois, mas cheios de planos.”

Segundo eles, a sintonia e os gostos em comum facilitam a convivência intensa. “A gente se redescobre todos os dias. E é lindo perceber o quanto ainda temos a viver juntos.”

Foto: @viagensmagnificas62

Redes sociais se tornaram parte da jornada

Débora, que nunca teve redes sociais, agora edita vídeos, responde comentários e compartilha os bastidores da viagem. “Não sabia o que era CapCut. Hoje estou aprendendo tudo. Era para ser só um diário para amigos e familiares, mas virou um seriado para quase 3 mil pessoas”, brinca.

“Está sendo uma revolução na minha cabeça. Sou professora de microbiologia e só queria passear… Agora estou diante de uma nova vida.”

E quando chegarem ao Alasca?

O casal ainda não sabe exatamente o que vai fazer ao alcançar o destino. “Não pensamos em nada simbólico ainda. Talvez deixemos uma bandeira do Brasil e de Goiás por lá. Mas o mais importante nem é o fim — é o caminho, os encontros, as histórias acumuladas. É isso que vai ficar.”

Saudades?

Quando o assunto é o que mais sentem falta de Goiânia, a resposta é direta: “das pessoas”. “As coisas materiais, a cidade, os problemas… tudo continua lá. O que faz falta é o calor humano, os amigos, a família. Isso, sim, a gente carrega no coração.”

“A melhor idade para viver o seu sonho é a que você tem hoje”

Para quem acha que já passou da idade de fazer algo assim, Débora e Marquinhos deixam o recado:

“Não espere ter o melhor motorhome, nem o momento perfeito. Viva o agora, com o que você tem. A melhor idade para realizar um sonho é a que você tem hoje. O nosso motorhome foi feito por nós mesmos e nos trouxe até aqui. Está sendo incrível. Então, se organize e vá. Porque a vida não espera.”