Cirurgias inéditas desenvolvidas no HC-UFG ganham destaque internacional
Serviço de Otorrinolaringologia do HC-UFG é classificado como Serviço A (excelência máxima) pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF)
Dois trabalhos do Serviço de Otorrinolaringologia do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (HC-UFG), vinculado à Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh), acabam de ser publicados na revista científica Journal of Voice, a principal publicação do mundo em medicina e pesquisa da voz. Os estudos foram desenvolvidos em parceria com o Centro Estadual de Reabilitação e Readaptação Dr. Henrique Santillo de Goiânia (Crer) e o Programa de Pós-Graduação do Departamento de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), com o objetivo de confirmar a eficácia de novas técnicas cirúrgicas para tratamento de paralisia das pregas vocais.
Segundo o chefe do Serviço de Otorrinolaringologia do HC-UFG, Claudiney Cândido Costa, o primeiro estudo, intitulado Posterior endoscopic ventriculotomy and cordotomy in bilateral vocal fold paralysis in median position (Ventriculotomia endoscópica posterior e cordotomia na paralisia bilateral das pregas vocais em posição mediana, em português), é o primeiro do mundo a tratar pacientes com paralisia bilateral das pregas vocais realizando a abertura da banda ventricular — ou falsas pregas vocais — sem a necessidade de traqueostomia.
“As técnicas cirúrgicas mais utilizadas preconizam a cirurgia na prega vocal e em uma cartilagem chamada de aritenoide. Porém, isso aumenta o risco de complicações. Conseguimos tanto evitar a traqueostomia quanto revertê-la em pacientes que já tinham feito o procedimento antes de chegar ao HC-UFG. Não passar por traqueostomia melhora muito a qualidade de vida dos pacientes”, esclarece Claudiney, que conduziu as pesquisas durante o pós-doutorado na Unifesp.
A traqueostomia é usada para abrir as vias aéreas de um paciente que perdeu a capacidade de respirar por conta própria devido a diferentes fatores, como traumas, infecções graves e tumor na garganta. Entre os riscos do procedimento estão o sangramento por lesão da traqueia e vasos próximos, infecção e complicações respiratórias caso o tubo fique obstruído ou seu orifício se estreite ao longo do tempo, levando à necessidade de novas intervenções médicas.
Remoção de tumor
Já o segundo trabalho foi publicado sob o título Cervical transmembrane thyrohyoid video access (CTTVA) for glottic lesion resection: description of a new surgical technique and case report (Acesso de vídeo transmembrana tireo-hióideo cervical para ressecção de lesão glótica: descrição de uma nova técnica cirúrgica e relato de caso). De acordo com o médico, essa cirurgia possibilitou a remoção de um tumor utilizando técnica de vídeo através de uma incisão de aproximadamente um centímetro no pescoço dos pacientes, evitando o uso de traqueostomia e a necessidade de sonda gástrica para alimentação.
“Também se trata de um procedimento inédito e propiciou grandes vantagens para os pacientes, como uma recuperação mais rápida, a redução do tempo de internação e menor probabilidade de sequelas”, destaca Claudiney. “Fazer uma cirurgia menos agressiva e sem sequelas sempre é algo que todos os cirurgiões procuram e o fato de a revista Journal of Voice aceitar o trabalho com o título de ‘nova técnica cirúrgica’ é algo que valoriza muito esse trabalho, pois assim temos a chancela de um periódico internacional de grande importância e de alcance mundial”.
O vendedor de pneus Gilson Alves de Souza, 55 anos, também de Goiânia, foi o primeiro paciente do mundo a passar pelo procedimento, em março deste ano. “Eu tinha um tumor na laringe. Nem conseguia falar. Ou a minha voz não saía ou era muito baixa”, relembra.
“Depois da cirurgia, fui encaminhado para a UTI. No mesmo dia que saí de lá já consegui me alimentar, não tive nenhum empecilho. Se eu tivesse feito traqueostomia, teria precisado de sonda. Agora, minha voz voltou e minha corda vocal está toda reconstituída. Só tenho a agradecer a todos os médicos e residentes da equipe pelo esforço e atenção. Foram em busca de novas técnicas para me curar. O SUS é de suma importância para o tratamento dos mais variados tipos e casos”, celebra.
Para Claudiney, as novas técnicas favorecem pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS) e de países que possuem recursos limitados. “Esses procedimentos podem ser realizados com instrumentais que praticamente todos os hospitais universitários possuem, mas também poderão ser associados com instrumentos de maior custo, como aqueles com utilização de laser e a cirurgia robótica”, opina. “Os resultados positivos que colhemos mostra a importância das instituições públicas de saúde, pois esses trabalhos foram realizados nesses locais”.
Serviço de Otorrinolaringologia do HC-UFG
O Serviço de Otorrinolaringologia do HC-UFG é classificado como Serviço A (excelência máxima) pela Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) após avaliação de âmbito nacional, em 2024, destacando-se pela excelência em atendimento, formação de residentes, ensino e pesquisa. A ABORL-CCF realiza visitas em todos os serviços que oferecem residência em otorrinolaringologia no Brasil e faz uma classificação (A, B+, B-, C e D).
Como hospital terciário, a unidade recebe pacientes via regulação pelo Serviço de Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. Após atendimento pelos especialistas responsáveis, os pacientes são encaminhados para ambulatório específico.