Saúde

Ipasgo dá fim ao serviço móvel que fazia atendimento de mulheres no interior de Goiás

A Clínica Móvel de Saúde da Mulher, do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do…

A Clínica Móvel de Saúde da Mulher, do Instituto de Assistência dos Servidores Públicos do Estado de Goiás (Ipasgo), um caminhão que percorria semanalmente as cidades goianas para dar atendimento às mulheres, encerrou suas atividades.

A decisão de não renovar o contrato com a empresa que alugava o caminhão ao Instituto foi tomada no último dia 30/11. Ao total, em dois anos e seis meses de atendimento, mais de 43 mil mulheres usuárias do Ipasgo ou do Sistema Único de Saúde (SUS) foram atendidas em 73 cidades.

Em média, segundo dados da Diretoria de Saúde, 2,5 mulheres tiveram constatação de algum problema de saúde, através de exames feitos. Eram feitos laudos através de exames de Mamografia, Ultrassom e Papanicolau. Pelo menos quatro cidades deixarão de ser atendidas nesse ano: Piranhas, Alvorada do Norte, Posse, além de Minaçu.

(Foto: Internet)

Em nota a Assessoria de Imprensa do Instituto nega que houvessem cidades com agendamento para que o serviço atendesse em datas próximas. A assessoria reconheceu que a Clínica Móvel da Mulher atendeu em todas as regiões de Goiás, mas justificou que o fim do projeto se deu pela não renovação do contrato com a empresa que prestava o serviço.

Em carta aberta, o diretor de saúde do Ipasgo Rogério Cândido da Silva se dirigiu ao governador Marconi Perillo, ao Fórum dos Servidores Públicos do Estado e aos usuários do Instituto. Ele revela o fim do atendimento e ai nda diz que, em gestões passadas, haviam “pagamentos ‘por fora’ para conseguir agendar uma consulta.”

 

Leia a carta na íntegra:

 

Rogério Cândido da Silva

Diretor de Saúde do Ipasgo, Rogério Cândido da Silva: Estão desmontando tudo o que foi feito

CARTA ABERTA

(Em especial ao Governador Marconi Perillo , ao FORUM dos servidores e aos usuários do Ipasgo)

Na condição de Diretor de Saúde do Ipasgo, único representante dos servidores na alta direção desta autarquia e diante dos últimos acontecimentos, me sinto no dever de prestar informações sobre o meu trabalho no referido cargo.

Quando aqui cheguei, há cerca de cinco anos, o Ipasgo enfrentava uma serie de problemas. Alguns da mais alta gravidade.  A dificuldade de marcar consultas, na capital e no interior, o pagamento “por fora” de valores para conseguir agendar uma consulta, valores exorbitantes nos pagamentos de coparticipação em alguns procedimentos oncológicos, a inexistência de trabalhos de ação preventiva e a pediatria. Esta nos causou um enorme desgaste junto à opinião pública.

Um a um fomos resolvendo os problemas. Primeiro e mais imediato, as consultas, começamos atendendo os usuários diretamente, pessoalmente ou por telefone. Minhas duas secretárias atendiam cerca de cinquenta usuários por dia cada uma.  Um trabalho que recebe elogios até hoje. A demanda foi tanta que precisamos ir adiante. Implantamos o agendamento eletrônico de consultas através da Gerencia de regionais e postos. Contando com uma equipe de colaboradores de alto nível, Gerentes e Coordenadores, foi e é um sucesso. Hoje ainda atendemos individualmente os poucos problemas que não são solucionados pelo sistema. Com essas medidas resolvemos os problemas de marcação de consultas e das cobranças indevidas.

O segundo e grave problema era o alto valor da coparticipação em quimioterapias e radioterapias. Usuários dilapidavam seu patrimônio para enfrentar esses tratamentos. Levei o problema para a alta direção e algumas propostas para a isenção desses valores. Com a ajuda providencial do Governador que subsidiou temporariamente os custos conseguimos resolver esse grande problema.

O terceiro era a inexistência de programas de ação preventiva. A gerência de ação preventiva criou diversos programas: Liga da Hipertensão, mãe bebê, Ipasgo sem tabaco, atenção ao idoso (melhor idade) e a Clinica Móvel de Saúde da Mulher que atendeu 32.410 usuárias do Ipasgo, e acompanhamento de 2.226 mulheres que tiveram seus exames com algum tipo de alteração (média de 2,5 mulheres por dia). Programas elogiados e com grande procura.

O quarto problema e de maior gravidade era a pediatria. Chegamos ao ponto de não termos atendimento de urgência e emergência. Procurei o Presidente e propus a implantação de um pronto atendimento próprio. O Ipasgo, até então, não tinha nenhum serviço próprio. Cheguei a ser taxado de louco. Hoje temos um dos melhores serviços em pediatria do Brasil. O índice de resolutividade chega à casa dos 98%. Temos ambulâncias e plantão cirúrgico 24 horas.

Em decorrência destes programas enfrentamos algumas dificuldades.  Algumas especialidades não tinham um número de médicos suficiente. Em especial, endócrino pediatra, alergistas e geriatras. Lutamos por quase um ano para convencer a alta direção de necessitávamos de um centro de especialidades. Fomos vitoriosos e iniciamos a adaptação de um prédio no setor universitário para nossa finalidade. Ali também iria funcionar o centro de atenção ao idoso. O prédio fora adaptado para atender essas duas importantes demandas. Durante a construção conseguimos resolver com muito sucesso o problema da geriatria. Um tratamento diferenciado bastou para a solução do problema.

Para minha surpresa, na reunião que fora convocada para normatizar o funcionamento do centro de atenção ao idoso e de espacialidades, o projeto foi retirado da diretoria de saúde e o centro de atenção ao idoso foi excluído. Indaguei qual o motivo da exclusão dos idosos, já que era uma demanda do Governador, a resposta dada por um membro da alta direção foi textualmente: “velho a gente cuida em casa”. Até hoje as especialidades de alergistas e endócrinos pediatras não atendem a demanda.

Na inauguração do centro de especialidades contamos com a presença do governador. Ali presenciamos uma cena inusitada. O Governador Marconi, em seu discurso, pediu que déssemos mais atenção ao idoso. Vi pessoas engolindo seco e baixando a cabeça, talvez de vergonha pela atitude com os nossos idosos.

Não satisfeito providenciamos, sem que ninguém da alta direção soubesse, a implantação do centro de atenção ao idoso em outro local e com outro nome. Melhor idade. O programa funcionou com um sucesso absoluto.

Outra dificuldade foi a de dar uma atenção melhor ao nosso usuário do interior. A falta de médicos dificultava a solução desse problema. Investimos na construção de postos. Com a ajuda providencial da DGPF, adaptamos nossas unidades no interior com ambulatórios. Ali colocamos médicos das mais diferentes especialidades. Concomitante, para tornar mais atrativo para os médicos, priorizamos a realização de convênios com as prefeituras, aumentando assim o número de usuários no interior e a demanda para os médicos.  Passamos de menos de vinte convênios para quase cento e cinquenta. De janeiro a julho deste ano os convênios representaram um saldo positivo de R$ 33.955.591,82. 

Todos os serviços de atenção ao usuário foram implantados e acompanhados pela diretoria de saúde durante esses anos.

Agora vamos falar dos últimos acontecimentos. O Fórum que representa os servidores indicou em lista tríplice os nomes para  a presidência do Ipasgo. Tal atitude foi tomada levando em consideração a promessa feita pelo Governador Marconi que o presidente do Ipasgo seria indicado pelos servidores. Mais uma vez, indicado pelo SINTEGO, meu nome compõe a lista como o mais votado. Salientando, indicado pelo SINTEGO.

Sem que o Governador tenha tomado uma atitude nesse sentido, e o fórum que representa os servidores até então sem tomar qualquer medida, me encontro em uma situação desconfortável e extremamente preocupado com o futuro do Ipasgo.

Como represália á Diretoria de Saúde, vamos enumerar aqui o que estamos presenciando. Fim da clinica móvel de saúde da mulher, regras para celebração dos convênios que representou o seu fim, retirada dos médicos que atendiam o centro de atenção ao idoso e do programa da hipertensão (programas capengando), retirada dos médicos dos nossos postos no interior, retirada de duas coordenações da diretoria, uma das quais é a pediatria, volta de coparticipação de valores elevados, cotas para exames e, em breve, para consultas. Sem dúvida um retrocesso de anos e com prejuízo para o usuário e custo político elevado.

Resumindo: estão desmontando tudo que foi feito pela Diretoria de Saúde.

 

Rogério Cândido da Silva