Mãe de bebê em protocolo de morte encefálica relata dor intensa e ameaças em Goiânia
Criança respira com ajuda de aparelhos e não tem chances de sobrevivência
A mãe da bebê de três meses que segue em protocolo de morte encefálica após sobreviver a uma tentativa de homicídio supostamente praticada pelo pai, em Anápolis, afirma viver dias de dor intensa em meio a ameaças, durante a internação da filha, em Goiânia. Ao Mais Goiás, Nayara Rodrigues revelou detalhes da vida com o suspeito – que tem histórico de violência – e deu a versão dela sobre o episódio que culminou com a hospitalização da criança com traumatismo craniano.
Segundo a mulher, no último domingo (10/8), ela deixou a bebê Elza Mariana aos cuidados do pai para que pudesse trabalhar e sustentar os filhos. Horas depois, no entanto, a criança foi socorrida, após passar mais de cinco minutos sem respirar. Enquanto o pai afirmava que a filha teve um engasgo pós-amamentação, equipe médica ressaltou evidências de que, na verdade, a criança pudesse ter sido vítima de maus-tratos.
“Estou sendo ameaçada de morte, estão dizendo que vão me matar. O que eu podia fazer? Tinha que trabalhar. Eu já estou morta por dentro. Ele já me matou, mas me deixou viva. Por minha filha, eu quero justiça. Não só pela minha Elza, mas por todas as crianças que sofrem. Eu nunca teria deixado ela em casa se imaginasse que isso ia acontecer”, destaca a mãe.
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A delegada Aline Lopes, titular da Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA) de Anápolis, ressalta que as lesões encontradas na bebê indicam que ela foi agredida enquanto estava sozinha com o pai. O homem, que já tinha mais de 20 passagens criminais, várias no contexto de violência doméstica, segue em prisão preventiva.
Esperança e apelo por justiça
Para Nayara, o estado de saúde da filha é resultado de uma vida familiar deteriorada pelo controle exercido pelo marido, que gasta com drogas o dinheiro previsto para sustento dos quatro filhos. “Pedi para ele ficar com as crianças, já que estava desempregado e gastando toda a herança do pai, não é muito, com drogas. Eu precisava sair para poder comprar alimento e pagar contas”, contou.
Diante do diagnóstico médico grave, a rotina de Nayara, agora, é uma mistura entre o desejo por justiça e esperança de que a filha se recupere. “Ela tá lutando, o coraçãozinho dela tá batendo. Ainda tenho esperanças de pegar ela no colo, viva. Três médicos já me desenganaram. Falta só mais um exame para fechar o protocolo da morte e liberar o corpo da minha filha”, disse. “Só quero Justiça, pelo que ele fez com a minha filha não merece estar vivo. Se ele for solto, eu vou presa.”
Convívio com a violência
Nayara reforça que convive com a violência do marido desde que começou a se relacionar com ele, aos 12 anos. “Conheci ele muito nova, tinha 12 anos e ele 16. No começo, era carinhoso, mas depois passou a usar drogas e se tornou violento. Entrei em depressão e comecei a usar drogas também, mas só para tentar lidar com a situação. Pedi à minha mãe que me internasse, mas ela não tinha forças. Ele foi meu primeiro em tudo. Mas depois que minha filha nasceu, ela me salvou, nunca mais usei”.
As agressões, porém, continuaram. Diversas denúncias de violência doméstica foram formalizadas, de modo que o último processo, registrado em junho, continua em andamento. Apesar de ter se separado do marido diversas vezes, acreditava nas promessas dele enquanto questionava sua independência financeira. No começo do ano considerou ir embora para São Paulo, onde mora seu pai, mas também não teria apoio financeiro.
Ciúme exagerado
Após o nascimento do segundo filho, os episódios de violência se intensificaram, principalmente porque Nayara tentava manter contato com familiares. “Ele quebrava portas, me prendia dentro de casa e controlava minhas conversas e visitas à família. Demonstrava ciúmes exagerados, inclusive dos filhos, mas sempre tentei protegê-los.”
Nayara relatou que, ao se tornar mãe, desenvolveu instinto de proteção e passou a se defender para impedir que o marido atacasse os filhos. “Perdi cabelo, emagreci muito, me senti um lixo com o que ele dizia. Pedi ajuda, tentei me afastar, mas era difícil. Sempre defendi meus filhos com unhas e dentes. Hoje, pensando melhor, com minha filha neste estado, temo que o controle e as ameaças que ele fazia poderiam ter atingido eles na minha ausência.”
Fim do protocolo nas próximas horas
A bebê Elza Mariana está na última fase do protocolo de morte encefálica, segundo diagnóstico dos médicos do Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). A criança permanece na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), sem chances de vida, e respira com ajuda de aparelhos. O encerramento do protocolo pode acontecer nas próximas horas.
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