Motorista isolou idosa rica da família e forjou união estável após morte dela, diz polícia
Vítima possuía patrimônio avaliado em R$ 60 milhões
A Polícia Civil de Goiás concluiu a investigação que apura a morte da produtora rural Maria Guiomar Leão, de 84 anos, e indiciou quatro pessoas pelos crimes de homicídio doloso, estelionato, falsidade ideológica e associação criminosa. A idosa, que possuía um patrimônio estimado em R$ 60 milhões, morreu no dia 24 de novembro de 2023, em Goiânia. O principal suspeito do crime é o motorista dela, Vanderlei Sardinha Rates, que foi indiciado por sete crimes, incluindo tentativa de fraude processual, furto e apropriação indébita.
De acordo com o delegado Alex Rodrigues, responsável pelo inquérito, o grupo teria agido de forma coordenada para isolar a vítima da própria família, apropriar-se dos bens dela e, após sua morte, tentar forjar uma união estável com o objetivo de herdar parte do patrimônio.
As investigações mostram que Vanderlei se aproveitou da confiança da idosa, para quem trabalhava desde 2014, e usou o contexto da pandemia de Covid-19, a partir de 2020, para controlar a rotina da vítima, dificultar o contato com familiares e assumir o controle de suas finanças. Ele chegou a transferir centenas de milhares de reais para contas de outras pessoas, especialmente para uma namorada, com quem mantinha relacionamento estável em outra cidade do interior de Goiás.
A polícia localizou registros de um pedido de casamento, fotos, vídeos e compras que somam mais de R$ 700 mil em presentes para essa mulher. Vanderlei dizia ser fazendeiro e dono de uma grande fortuna.
Além de Vanderlei, também foram indiciados:
- Geraldo Henrique Mascarenhas, médico ortomolecular: por homicídio doloso, falsidade ideológica e estelionato tentado. Ele teria mantido a vítima em clínica sem estrutura adequada, retardado o encaminhamento hospitalar e assinado documentos falsos, incluindo uma declaração de união estável.
- Vanderlei Gebrin, dentista: por falsidade ideológica, estelionato tentado e fraude processual tentada. Ele assinou declaração falsa sobre a suposta união e tentou influenciar uma colega a omitir dados sobre o estado clínico da idosa, além de solicitar a destruição de mensagens que poderiam incriminá-lo.
- Larissa Nogueira Alves, advogada: por falsidade ideológica e estelionato tentado. Segundo a polícia, ela coordenou tentativas de acordos fraudulentos com os herdeiros legítimos, sugeriu o uso de testemunhas falsas e tentou excluir familiares da partilha de bens.
O golpe
Logo após a morte de Maria Guiomar, Vanderlei procurou a família dizendo que queria ser o inventariante do espólio e que ingressaria na Justiça para o reconhecimento da união estável. No dia seguinte, ajuizou os dois processos. A polícia descobriu, porém, que não havia nenhum vínculo amoroso entre ele e a vítima.
Entre as evidências reunidas estão:
- Interceptações telefônicas, que comprovaram a coordenação entre os investigados;
- Análise bancária, com transferências irregulares da conta da idosa;
- Depoimentos de testemunhas, que reforçaram que não havia relação afetiva entre ela e o motorista;
- Documentos médicos e jurídicos forjados, incluindo uma aliança com o nome da verdadeira namorada do investigado.
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Patrimônio bloqueado
A vítima era divorciada e não tinha filhos. Administrava sozinha uma fazenda em Edéia (GO), apartamentos em Goiânia, além de aplicações financeiras, joias, veículos e mais de R$ 730 mil em espécie. O patrimônio permanece bloqueado pela Justiça para garantir o direito dos herdeiros legítimos.
A investigação resultou na expedição de mandados de busca e apreensão, com a consequente recuperação de bens. Também foram realizados o sequestro de imóveis e bloqueio de contas bancárias, além da quebra dos sigilos bancário e telefônico dos envolvidos. Interceptações telefônicas foram autorizadas para ajudar a revelar toda a trama criminosa.
“Este caso demonstra a vulnerabilidade de pessoas idosas e a necessidade de proteção contra esquemas criminosos organizados. A investigação revelou uma associação criminosa que atuou de forma coordenada para se apropriar do patrimônio da vítima, chegando ao extremo de contribuir para sua morte através de negligência médica deliberada.”, afirmou o delegado Alex Rodrigues.
O inquérito foi concluído e encaminhado ao Poder Judiciário. Os quatro investigados responderão na Justiça pelos crimes atribuídos.