Na rede privada, intubação chegou a ser feita com doentes amarrados por falta de insumos
Relatos ocorreram por falta de relaxantes musculares. Há previsão de que novo carregamento com o medicamento chegue esta semana.
A falta de relaxantes musculares nos hospitais de Goiás já fez com que profissionais de saúde tivessem que amarrar pacientes para que eles sejam intubados. O medicamento é essencial para realizar o procedimento, tão necessário no casos agudos de síndromes respiratórias, e utilizado com frequência no tratamento de pacientes em estado grave por causa da Covid-19.
Os remédios, como o próprio termo sugere, provocam o relaxamento da musculatura e permite um melhor acesso à via aérea. Isso, aliado ao uso de outras medicações, faz com que o pessoa que está com dificuldade para respirar não sofra no momento da intubação. Sem os insumos adequados, esse processo se torna extremamente doloroso e médicos, enfermeiros e técnicos de enfermagem não têm outra saída a não ser amarrar o doente.
A técnica parece absurda para os dias atuais, mas o presidente da Associação de Hospitais Privados de Alta Complexidade de Goiás (Ahpaceg), Haikal Helou relata que este não é o procedimento adotado pelos hospitais ligados à instituição, mas que houveram relatos no Estado que ela precisou ser usada devido à falta de insumos nos hospitais particulares goianos. Ele ainda esclareceu que há previsão de chegada de relaxantes musculares ainda nesta semana.
“Os insumos estão realmente faltando, estamos fazendo compras coletivas e temos um carregamento de relaxantes musculares para chegar esta semana, não dá para todos. Por isso, estamos fazendo um levantamento para saber quais hospitais precisam mais”, disse Helou.
O presidente ressalta a preocupação sobre não saber por quanto tempo essa situação permanecerá, já que não a demanda é muito superior à oferta dos medicamentos.
“Só há duas formas disso melhorar. Uma é diminuir o consumo e isso só é possível se as pessoas pararem de ficar doentes. A outra é ter acesso à uma maior quantidade de produto, mas isso tem se mostrado muito difícil por conta da alta procura nacional. O problema não ocorre apenas na nossa região”.
Para ele, a melhor estratégia no momento é de que a população siga todos os protocolos para evitar contrair o vírus. “Por meio de isolamento, uso de máscara e vacinação podemos diminuir o número de doentes e assim conseguir tratar aqueles que realmente não conseguiriam evitar a contaminação”, concluiu Haikal.
Colapso
Na tarde desta terça-feira (9), em entrevista concedida ao Mais Goiás, Haikal Helou manifestou preocupação quanto ao atual cenário da saúde do estado no enfrentamento à covid-19 e afirmou que a rede de leitos da associação já se encontra colapsada. Segundo Helou, as unidades da rede já estão há cerca de 10 dias com 100% dos leitos de unidade de terapia intensiva (UTI) ocupados.
A Associação dos Hospitais do Estado de Goiás (Aheg) entrou em contato com a redação por volta das 17h30 para se manifestar a respeito do assunto. Veja a nota:
1- O cenário descrito na reportagem não reflete e nunca refletiu a realidade de funcionamento dos mais de 250 estabelecimentos representados pela AHEG;
2- A AHEG reconhece e se soma às dificuldades que os hospitais da rede estão enfrentando, sobretudo os que estão na linha de frente do combate à pandemia, quanto à escassez de medicamentos que são utilizados no procedimento de intubação de pacientes em leitos de terapia intensiva. Além do mais, desconhece que a prática descrita na reportagem, de “amarrar pacientes”, tenha sido utilizada em qualquer que seja o hospital da rede privada goiana, onde os pacientes são tratados com dignidade e respeito. Tal afirmação apenas contribui para gerar o aumento de pânico na população;
3- Na condição de Entidade pioneira, que representa mais de 250 hospitais associados, a AHEG vem trabalhando, ao longo dos últimos meses, para auxiliar o sistema de saúde do estado a enfrentar a maior crise sanitária das últimas décadas, seja sensibilizando o poder público quanto às medidas necessárias de enfrentamento da pandemia, seja conscientizando a população para adoção de medidas preventivas, ou procurando alternativas para enfrentar o desabastecimento de insumos. O momento é de somar forças e procurar soluções que permitam salvar mais vidas!
Adelvânio Francisco Morato
Presidente da Associação dos Hospitais do Estado de Goiás e presidente da Federação Brasileira de Hospitais (FBH)