INVESTIGAÇÃO

PF aponta uso de oficinas clandestinas e notas frias para desviar dinheiro do Samu em Goiânia

Servidores municipais são investigados por envolvimento

Ambulância SAMU
Ambulâncias encontradas durante operação (Foto: Divulgação/PF)

Uma investigação da Polícia Federal aponta que ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) de Goiânia foram alvo de fraudes em serviços de manutenção entre 2022 e 2024. De acordo com a PF e a Controladoria-Geral da União (CGU), servidores municipais eram responsáveis por levar as viaturas para oficinas clandestinas e simular serviços para justificar o pagamento de notas frias emitidas por empresas credenciadas.

De acordo com a PF, ao menos dez pessoas participavam das irregularidades, incluindo quatro servidores municipais responsáveis pela fiscalização dos serviços. O delegado da PF André Monteiro explica que esses servidores atuavam tanto na execução quanto na supervisão das manutenções, o que tornava possível a fraude.

Segundo o delegado, “eles [os servidores] atuavam nas duas pontas: eram responsáveis por fiscalizar o contrato, mas também executavam ou simulavam os serviços, muitas vezes de forma superfaturada”.

A CGU analisou uma frota de 17 ambulâncias próprias do município. A superintendente do órgão em Goiás, Suzana Kroehling, diz que foram encontradas notas duplicadas e serviços cobrados repetidamente em intervalos muito curtos, incompatíveis com a rotina do Samu. “Trocar o freio de uma ambulância quatro vezes em um mês não é razoável, o que indica que o serviço possivelmente não foi prestado”.

Suzana explica que o material apreendido será analisado pela CGU para ampliar as evidências e que novas auditorias podem ser iniciadas, dependendo dos achados. Ela ressalta que o contrato responsável pelas manutenções permanece vigente.

Oficinas clandestinas pertenciam a servidores

A CGU também identificou serviços realizados em oficinas clandestinas, algumas delas pertencentes a servidores envolvidos no esquema. Kroehling afirma que tanto o município quanto o Ministério da Saúde podem adotar medidas legais e administrativas para recuperar os valores desviados e responsabilizar os envolvidos.

Na manhã desta sexta-feira (28), a PF cumpriu nove mandados de busca e apreensão em Goiânia e Aparecida de Goiânia. Durante a operação foram recolhidos celulares, documentos e notas fiscais. O material pode indicar a participação de outras pessoas e empresas, além de possíveis irregularidades em contratos que seguem em execução.

Ex-prefeito nega envolvimento

Em nota, o ex-prefeito Rogério Cruz afirmou que não é investigado e não está entre os alvos da operação. Ele disse que as suspeitas dizem respeito a rotinas técnicas da Secretaria Municipal de Saúde, sob responsabilidade dos setores específicos da pasta.

A atual gestão da prefeitura destacou que as irregularidades se referem ao período anterior e que está colaborando com os órgãos responsáveis pela investigação. Informou ainda que, neste ano, toda a frota do Samu foi substituída e que o serviço opera com 22 ambulâncias alugadas, com relatórios enviados regularmente ao Ministério da Saúde.