DEZEMBRO VERDE

Protetora resgata cadela abandonada na véspera de Natal e denuncia aumento de casos em dezembro

Juliana explica que devido a viagens, mudanças e questões financeiras muitos animais são deixados pelas famílias

Cadela Menina (Foto: Arquivo)

O abandono da cadela Menina, resgatada há dois anos em estado de choque após ser deixada pela própria família na véspera de Natal, é um dos casos que ilustram o que costuma ocorrer todos os anos no mês de dezembro. A ativista Juliana Morais, que há mais de 20 anos atua no resgate de animais vítimas de maus-tratos, foi quem encontrou a cadela, descrita por ela como “desorientada” e totalmente assustada. Juliana explica que, em períodos de férias e feriados, o número de abandonos aumenta de forma significativa, criando um cenário de alerta para quem trabalha na proteção animal.

A protetora conta que Menina corria entre carros em uma avenida movimentada no setor Pedro Ludovico, em Goiânia, quando foi avistada por moradores, que pediram ajuda. Ao chegar ao local, ela encontrou o animal ferido, tremendo e incapaz de reagir a qualquer estímulo. “Foram dias de muita paciência e carinho até ela se recuperar”, comenta Juliana.

Algumas semanas depois, Juliana procurou a antiga família e ouviu a confirmação de que haviam viajado e simplesmente deixado a cadela para trás. Ela relata que explicou as penalidades previstas em lei e alertou que denunciaria qualquer novo caso envolvendo animais sob responsabilidade deles. Para a ativista, o episódio revela como muitos ainda tratam cães e gatos como objetos descartáveis. “O caso da Menina mostra como os animais continuam sendo vistos como coisas desprovidas de sentimentos”, afirma.

Juliana destaca que, enquanto alguns animais conseguem ser resgatados a tempo, milhares não têm a mesma sorte. Segundo ela, as justificativas apresentadas pelos tutores se repetem todos os anos: viagens, mudanças, dificuldades financeiras e até simples conveniência. “Ninguém deixa carro ou bens para trás, mas os animais, sim”, comenta.

Ela lembra ainda que o caso da Menina aconteceu justamente em um período marcado por mensagens de solidariedade e compaixão, mas que, na prática, se torna um dos mais difíceis para quem lida com abandono. “Na época de Natal, quando deveríamos colocar em prática os ensinamentos de amor e compaixão, acabamos crucificando seres inocentes. Não adianta falar de Deus se, com os animais, somos perversos”, diz.

Mobilização coletiva

Juliana reforça que a transformação real só virá quando houver uma mobilização coletiva e contínua. Ela explica que pequenas atitudes, como adotar um animal, apoiar campanhas de castração, oferecer lar temporário ou ao menos garantir água e comida a um cão ou gato em situação de rua, já representam passos significativos. “Se cada um fizer ao menos o básico, muita coisa começa a transformar”, afirma.

Segundo ela, as pessoas sofrem quando veem um animal abandonado, mas poucas realmente apoiam. “A sociedade reclama, lamenta, chora, mas não apoia, não resgata e nem mesmo adota“, pontua.

A protetora também observa que há uma percepção equivocada sobre o papel dos abrigos. Para Juliana, muitos acreditam que esses espaços funcionam como locais ideais e totalmente sustentados por doações, o que não corresponde à realidade encontrada no dia a dia. Ela afirma que os abrigos estão lotados e pedindo socorro, enquanto parte da população transfere a responsabilidade aos protetores e se exime de fazer sua própria parte. Para a ativista, essa responsabilidade é conjunta e envolve tanto a sociedade quanto o poder público.

Juliana ainda lembra que nenhum animal pertence às ruas. Em sua avaliação, a presença de cães e gatos abandonados é consequência direta do comportamento humano. “Nenhum animal é da rua, eles estão na rua porque alguém abandonou”, afirma a protetora.