Crítica

Castlevania: apenas um gostinho

Série animada da Netflix é excelente, mas a temporada curta a impede de criar asas

A Netflix estreou na última sexta-feira (7) a primeira temporada de Castlevania, adaptação em anime da franquia de jogos de mesmo nome, feitos pela Konami.

Tecnicamente, a série adapta Castlevania III: Dracula’s Curse, um dos primeiros jogos estabelecidos na linha do tempo do cânone dos games e impõe corpo à narrativa.

Seu maior defeito é ter uma temporada excepcionalmente curta: apenas quatro episódios de 25 minutos. Apesar de ser muito boa, a série só ganha força no seu útlimo episódio, deixando os fãs, agora, na expectativa até o ano que vem.

O bom

Talvez o primeiro grande mérito de Castlevania é, surpreendentemente, ter levado o material original a sério e dar tons sombrios à ele. Vale lembrar que embora a animação seja em estilo japonês ela foi feita por produtores muito americanos: Warren Ellis e Adi Shankar.

O resultado é uma animação em aparência oriental, mas com timing e escrita tipicamente ocidental, sem muitos maneirismos japoneses, com algumas raras exceções.

O seriado explora bem sua temática macabra de vampirismo e criaturas das trevas. Tudo é muito sinistro em Castlevania, até mesmo algumas cenas que são bem escuras e mal-iluminadas.

Outro ponto forte é que Shankar e Ellis deram corpo à narrativa. Lançado originalmente em 1989, Dracula’s Curse tinha apenas um esqueleto de uma história e que serviu para estabelecer a pegada assaz cartunesca e exagerada dos jogos. Trevor Belmont era um herói infalível e Drácula era o mal encarnado, sem precisar de motivos ou ter um plano.

O desenho animado muda isso. Todo o primeiro episódio é dedicado a estabelecer Drácula como um vilão extremamente poderoso, mas tridimensional. O seguinte estabelece Trevor: um herói caótico bom e alcóolatra, no melhor estilo Han Solo, que se faz de despreocupado, mas que não aguenta testemunhar a injustiça calado.

Ambas as mudanças enriqueceram os personagens e os produtores fizeram o mesmo pelo contexto. Neste seriado, a família Belmont vive em desgraça, a magia é malvista e encarada como coisa do demônio e, por se passar em 1476, tem na Inquisição um vilão maior e comum, com os enforcamentos e fogueiras da Igreja Católica à todo vapor.

Isso contribui até mesmo para enriquecer dois dos três aliados de Trevor, apresentados nesta temporada, como a maga Sypha (Grant, o pirata, ainda não deu as caras, mas quem sabe no ano que vem).

O mau

Isto não é exatamente algo ruim, mas é melhor ressaltar: não veja esta série com crianças. Destinada à adultos, os quatro episódios são recheados de palavrões, desmembramentos e muita sanguinolência. É uma série de terror e há muita violência gráfica.

A dublagem brasileira ficou muito boa, mas não excelente (a dublagem de One Punch Man, que acabou de entrar na Netflix, dá de dez). Fora isso, a animação foi feita com base na dublagem em inglês, então isso prejudicou um pouco o timing dos brazucas, resultando em algumas mudanças pequenas ou cortes mínimos.

Mas o maior defeito é, naturalmente, o tamanho da temporada. Quatro episódios é muito pouco e muito problemático. Todos os episódios são introdutórios, formando a base da base da história e aí, quando a aventura parece que finalmente vai começar e deslanchar, a temporada acaba.

Isso é muito ruim, porque o público não apenas fica frustrado como é muito tentador ao expectador achar os primeiros episódios chatos e largar a série de mão inteiramente.

O veredito

Castlevania é, sem sombra de dúvidas, a melhor adaptação que um video game já teve para uma mídia audiovisual. Ela não apenas adapta, mas expande e enriquece o conteúdo da original e o torna acessível a um grande público.

Tecnicamente a série se sai muitíssimo bem e possui uma boa trilha sonora. Seu maior defeito, porém, é ser muito curta. Isto com certeza vai frustrar muita gente que vai ter que esperar até 2018 para ver os próximos oito episódios da segunda temporada.