JUSTIÇA

Neto e Band são condenados a pagar indenização de R$ 500 mil a Sampaoli por acusação de racismo

Neto está sendo processado por calúnia e difamação contra Sampaoli

Jorge Sampaoli na beira do gramado comandando o Flamengo
Sampaoli em passagem pelo Flamengo. Foto: Gilvan de Souza - Flamengo

O ex-jogador e apresentador José Ferreira Neto, mais conhecido como Neto, da Band, foi condenado em primeira instância a pagar indenização por danos morais no valor de R$ 500 mil ao treinador Jorge Sampaoli, ex-Flamengo. A informação foi confirmada ao Estadão pela defesa do técnico argentino, acusado de racismo durante a exibição do programa “Baita Amigos”, no dia 17 de abril deste ano, e “Os Donos da Bola”, no dia 18 do mesmo mês. O caso corre na 1ª Vara da Justiça de São Paulo e cabe recurso.

Sampaoli havia entrado com uma ação cível, em junho, exigindo retratação pública de Neto pelas falas proferidas nos programas da emissora. Como não ocorreu, decidiu entrar também com um pedido criminal. O Grupo Bandeirantes entrou como polo passivo na ação. Nenhuma das partes respondeu às ações na Justiça, de acordo com a defesa do treinador argentino. A reportagem entrou em contato com a Band, mas ainda não obteve resposta até a publicação da matéria.

O valor de R$ 500 mil é, segundo a defesa, “simbólico”, e foi calculado com base nos ganhos que a emissora tem com anúncios ao longo de sua grade. As ofensas a Sampaoli duraram, de acordo com advogado de acusação, cerca de dez minutos, somados os tempos dos dois programas.

Na esfera criminal, que corre na primeira 1ª Vara Criminal de São Paulo, a juíza Aparecida Angélica Correia definiu o prazo de 15 dias para que a defesa reúna as expressões e declarações consideradas ofensivas, por parte do apresentador, para a análise. Neste âmbito, apenas o apresentador Neto é processado, por calúnia e difamação.

NETO X SAMPAOLI: RELEMBRE O CASO

No dia 17 de abril, Neto comentou sobre a passagem do técnico pelo Santos, em 2019. Segundo o apresentador, Sampaoli foi racista com um funcionário do clube. “Um cara que trata mal o Arzul, que é negro… E que é igual a mim, que é igual a você e que é um ser humano incrível… Esse cara, o Jorge Sampaoli, fazia o Arzul ficar fora do vestiário. Ele fez muitas pessoas contratadas antes dele perderem o emprego. Esse cara é nojento”, afirmou Neto.

Em outro momento, Neto chegou a dizer que seria uma vergonha o Flamengo escolher Sampaoli para substituir Vítor Pereira no comando técnico. “Vocês não dão moral para as pessoas que são do próprio País, aí vocês dão moral para um cara como esse, que muitas vezes tratou as pessoas de uma maneira tão racista, de uma maneira tão hipócrita…”, disse Neto, durante o programa “Baita Amigos”.

“Esse baixinho aí. Esse idiota aí. Isso aí é uma vergonha, pinto pequeno, não sabe nada de bola. É uma vergonha o Flamengo contratar um cara desse”, afirmou, no programa da Band.

O art. 144 do Código Penal, utilizado para a intimação de Neto, cita que “se, de referências, alusões ou frases, se infere calúnia, difamação ou injúria, quem se julga ofendido pode pedir explicações em juízo.” É neste artigo que se baseia a defesa do treinador flamenguista. “Esse procedimento serve, para trazer ao conhecimento do poder Judiciário, que houve um possível delito contra a honra”, explica Raphael Feitosa Fisori ao Estadão.

Sampaoli chegou ao Flamengo em abril deste ano, após demissão de Vítor Pereira. Antes do time rubro-negro, passou pelo Santos, em 2019 – trabalho citado por Neto –, e Atlético-MG, entre 2020 e 2021, únicas equipes que treinou no Brasil.