JUSTIÇA

Cliente negro que foi ‘espionado’ por funcionário dentro de loja nos EUA deve receber US$ 4,4 milhões em danos

Policiais que responderam ao acionamento, reconheceram o então colaborador do Walmart como uma pessoa com histórico de ligar para a emergência com relatos falsos

Cliente negro que foi 'espionado' por funcionário dentro de loja nos EUA deve receber US$ 4,4 milhões em danos (Foto: Pixabay)

Um júri do condado de Multnomah, no estado americano de Oregon, determinou que o Walmart pague US$ 4,4 milhões (R$ 22,4 milhões) em danos a um cliente negro que foi “espionado” por um funcionário dentro de uma unidade da loja na cidade de Wood Village.

Michael Mangum entrou com um processo contra o Walmart por “retenção negligente” e ação de pessoa “que aciona a polícia com dolo indevido”. Segundo Michael, ele foi insultado por um funcionário num caso de discriminação racial.

De acordo com os documentos judiciais, o funcionário, identificado como Joe Williams, “espionou” o cliente, ordenou que deixasse o local e chamou a polícia quando ele se recusou. No entanto, assim que os agentes chegaram, eles reconheceram o funcionário como uma pessoa com histórico de acionar a polícia com relatos falsos sobre os clientes da loja. O mesmo se aplicava àquela situação, pois não encontraram nada que justificasse tomar alguma medida contra Michael.

O caso ocorreu em 26 de março de 2020, quando Michael estava com 59 anos. Consta no processo que ele foi àquela unidade do Walmart comprar uma lâmpada para sua geladeira. Mas enquanto escolhia produtos, notou um funcionário “espionando-o”. Quando Joe ordenou que Michael saísse, o cliente se recusou, dizendo que não tinha feito nada de errado.

Apesar do episódio, a emissora KGW8 informou, citando os advogados de Michael como fonte, que o Walmart manteve o funcionário problemático. Por fim, entretanto, ele acabou sendo demitido em 9 de julho de 2020 por “manuseio incorreto de US$ 35 de propriedade do Walmart”.

Segundo o processo, Joe acionou a polícia informando que uma pessoa “se recusava a sair” da loja e que, embora não estivesse agindo violentamente, nem parecia estar embriagada, teria “começado a a surtar” na frente dele.

Os advogados de Michael explicaram que os policiais do Gabinete do Xerife do Condado de Multnomah que responderam ao chamado não tomaram qualquer medida contra Michael pois Joe tinha uma “reputação de fazer relatórios falsos à polícia”

Depois do episódio, um gerente daquele estabelecimento ainda teria dito a Michael que a loja tinha sofrido “grandes perdas por roubo”, ao que o cliente teria reagido dizendo que isso não lhe dizia respeito.

“Seus empregos estariam em grande risco se ele tivesse sido acusado de um crime, mas ele se recusou a ser intimidado pelas mentiras e intimidações de Williams”, disse o advogado Greg Kafoury, que representa Michael, em um comunicado à imprensa. “Ele vive a mesma mensagem de auto-respeito que ensina aos jovens: “se defenda quando souber que está certo”. Por causa de sua coragem, fomos capazes de mostrar ao júri uma falta de responsabilidade inescrupulosa da maior corporação do mundo.

Em um comunicado enviado à KGW, Randy Hargrove, diretor sênior de relações com a mídia nacional do Walmart, questionou algumas das alegações dos advogados de Michael e disse que o Walmart considera o veredicto “excessivo”.

“Não toleramos discriminação. Acreditamos que o veredicto é excessivo e não é apoiado por evidências”, disse Hargrove. “O Sr. Mangum nunca foi parado pela Proteção Patrimonial do Walmart. Ele se intrometeu com nossos colaboradores, enquanto eles estavam vigiando e já pararam ladrões confirmados, e depois se recusou a sair, apesar de ser solicitado repetidamente por nossa equipe e policiais do condado de Multnomah. Estamos revisando nossas opções incluindo entrar com recurso”.