TERCEIRA IDADE | ELEIÇÕES 2020

Descrentes com política e com medo da covid, idosos desistem de votar

A descrença com o sistema político e com os representantes da população já bastaria para…

A descrença com o sistema político e com os representantes da população já bastaria para que a abstenção fosse alta neste domingo, dia de votação. Veio a pandemia do coronavírus e convenceu ainda mais pessoas a não comparecer às urnas para o exercício da democracia. Principalmente idosos, que compõem o grupo de risco. É o caso de Antônia da Cruz Martins, de 66 anos, que em entrevista ao Mais Goiás disse ter visto uma série de candidatos que usaram a covid-19 para se promover. Antônia decidiu que ficará em casa neste 15 de novembro.

“Quando é época de eleição eles [os candidatos] vem na porta da gente pedir voto, mas 4 anos depois fingem que nem conhecem. Acho eles estão tirando muito proveito do vírus e politizando a pandemia”, afirmou Antônia.

O aposentado Antônio Ferreira Lopes, 57 anos, é cadeirante e afirma que ficará em casa. “Estou no grupo de risco e quase não saio de casa, tenho muito medo dessa pandemia. Mas, fico me informando pela internet e pela TV, muita coisa precisa de mudança”, diz.

O comportamento de Antônio, comum em grupos de risco, deve fazer com que o número de justificações e abstenções aumente em 2020. Para o cientista político Marcos Marinho, a abstenção desse ano pode superar a registrada nas eleições municipais de 2016. Na época, em termos nacionais, cerca de 25 milhões de eleitores deixaram de votar no primeiro turno. Atualmente, com a pandemia, a projeção é de que o número seja intensificado.

“A abstenção vai ser maior, uma vez que muitos não vão querer sair de casa, mas também pelo próprio cenário. Não há fator novo que motiva e atrai as pessoas para a urna.”, afirma.

Maria Luiza Cardoso, de 64, se divide entre o medo da doença e a descrença com dias melhores. “Fico com medo né? Já tenho 64 anos, quero evitar aglomeração. Mas também, cada um que entra é pior que o outro, não dá nem vontade de votar, se a gente tivesse uma pessoa que a gente botasse fé, até fazia força (sic)”, explica.

Eles querem votar

O receio e cuidados para evitar o contágio não são barreiras para que a agropecuarista Joeli Pereira Braga, 70 anos, evite a exposição no dia de votação. Mesmo com o risco, ela pretende comparecer. “É difícil já perdemos entes queridos, mas a gente vai vencer esse vírus. Vamos com todo cuidado, logo cedo, sem aglomeração”, diz.

Para a agropecuarista escolher os representantes políticos é imprescindível. “É importante, só deixarei de votar quando eu estiver impossibilitada, ou doente”, diz ela.

Livre da covid-19 há cerca de 4 meses, Dulcinéia Almeida, de 73 anos, é outra pessoa que vai superar o medo, no caso dela da reinfecção, para votar. “Vou participar pra ver se as coisas melhoram (sic), eu já até peguei o corona e me curei, é importante votar pra decidir uma vida melhor”, afirma Dulcinéia.

O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) recomenda que eleitores com mais de 60 anos devem, preferencialmente, votar pela parte da manhã, das 7h às 10h. No entanto, os mais experientes se dividem quanto à disposição de se exporem ao risco do coronavírus indo às urnas.

Dados da Secretaria Municipal de Saúde de Goiânia (SMS) apontam que o número de idosos infectados na capital ultrapassa os 11 mil, 16% do total. Já o número de óbitos em decorrência de complicações da doença, pessoas com mais de 60 anos representam 77% do total, com 1.339 mortes na cidade de Goiânia. Pesquisa da FGV revela que as taxas de letalidade de covid-19 entre pessoas com 80 anos ou mais de idade são 13 vezes maiores do que na faixa de 50 a 55 anos, o que marca este como um dos segmentos mais sensíveis às adversidades impostas pelo coronavírus.

Demanda: saúde precisa melhorar

Idosos em fila (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Uma pesquisa realizada pelo IBGE constatou que de 2012 para 2018 o índice de pessoas com mais de 65 anos de idade cresceu 26% no Brasil. Mas, apesar de serem considerados componentes da chamada “melhor idade”, os idosos enfrentam algumas dificuldades.

Em abril deste ano, o Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social) divulgou uma pesquisa que revelou que 59,64% da fonte de renda dos idosos vêm das aposentadorias da Previdência Social. O último reajuste, de janeiro deste ano, passou de R$ 998 para R$ 1.039, o que equivale a um aumento de 4,1% no valor mínimo pago nas aposentadorias e pensões de salário mínimo.

Entre os idosos entrevistados, a principal queixa foi a falta de melhorias na saúde. Cerca de 79% dos idosos recebem o atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Entretanto, mais de 20% relatam ter dificuldades em marcar exames e adquirir remédios, de acordo com outro estudo feito pelo Sesc, em parceria com a Fundação Perseu Abramo (FPA).

Além de problemas enfrentados na saúde e a ‘fraca’ aposentadoria citada pelos entrevistados, existem também registros de casos de violência contra idosos. Em agosto deste ano, dois idosos, de 62 e 83 anos, foram torturados com um facão na zona rural de Silvânia, Goiás.

Propostas de candidatos

Para pleito municipal deste ano, os candidatos com maior intenção de votos são, de acordo com a pesquisa Ibope divulgada na última quinta-feira (5), o ex-governador de Goiás, Maguito Vilela pelo MDB (35%), o senador Vanderlan Cardoso pelo PSD (26%) e a delegada Adriana Accorsi do PT (14%). Em suas propostas de governo, os três candidatos exaltam a necessidade de oferecer maior dignidade à terceira idade. Todos com ideias similares, como a capacitação de cuidadores e adequação de áreas de lazer.

Maguito

Em trechos da proposta de Maguito Vilela, o candidato afirma que deseja que a cidade de Goiânia seja ‘amigável à pessoa idosa’. “Eles se dedicaram a cuidar dos filhos e netos, produziram para a cidade e merecem a oportunidade de aproveitar os momentos de lazer”, afirma.

A principal ação de Maguito neste aspecto é a criação e expansão de redes de apoio em toda a cidade, por meio da construção de serviços de atividades recreativas, socioculturais, esportivas e terapêuticas.

Vanderlan

O candidato Vanderlan Cardoso afirma em sua proposta a necessidade da sociedade de reivindicar direitos sociais. “É óbvia a ideia de que o idoso é cidadão, merecedor de direitos sociais, porém nem sempre ele é visto dessa maneira, por isso a necessidade da atenção especial”, diz.

A fim de estabelecer os direitos dos idosos, Vanderlan propõe principalmente a criação de um Conselho Municipal do Idoso que deverá contar com um plano de combate à violência e um canal para denúncia de maus-tratos à pessoas idosas.

Adriana

A delegada Adriana Accorsi expôs em sua proposta exemplos atuais do descaso do governo federal com o público idoso. “A falta de humanidade escancarada já não é mais novidade, infelizmente. A assessora do ministro Paulo Guedes, afirmou em maio de 2020 que seria bom que as mortes por covid-19 se concentrassem entre os idosos”, afirma.

Adriana pretende reverter o cenário de descaso por meio, principalmente, da construção de um Programa Habitacional, fornecendo moradia digna, que deverá ser dotado de assistência à saúde, centro de vivências, praças com academias ao ar livre e horta comunitária.