Em depoimento, Moro reclama de perseguição e evita responder perguntas de acusadores
Ações que podem levar à cassação do mandato do senador serão julgadas em janeiro pelo TRE do Paraná

DA AGÊNCIA O GLOBO
Em depoimento prestado nesta quinta-feira (7) ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná (TRE-PR), o senador Sergio Moro (União Brasil-PR) disse que é alvo de “perseguição” nas ações movidas pelo PT e pelo PL que podem levar à cassação do seu mandato.
O time jurídico do PT preparou uma lista de aproximadamente 200 perguntas, em um esforço para transformar o depoimento em uma espécie de sabatina, mas o ex-juiz federal da Lava-Jato avisou que não responderia aos questionamentos elaborados pelo partido do presidente Lula.
Os advogados do PT tentaram ler as perguntas durante o depoimento, mas o pedido foi indeferido pelo relator do caso, desembargador Luciano Carrasco Falavinha.
A equipe de acusação do PT chegou até a levar para a sala de audiência um livro de Moro, intitulado “Contra o sistema da corrupção”, com uma série de páginas marcadas com post-its. O PT pretendia confrontar Moro com as declarações escritas por ele mesmo no livro.
O senador do União Brasil também se negou a responder aos questionamentos dos advogados do PL. O depoimento durou cerca de 45 minutos.
Segundo relatos obtidos pela equipe da coluna, Moro se limitou a responder aos questionamentos feitos pelo desembargador Falavinha, que o indagou sobre um contrato firmado pelo advogado Luís Felipe Cunha, primeiro suplente do senador.
O contrato foi de R$ 1 milhão, dividido em quatro parcelas de R$ 250 mil, para atuar na defesa de Moro durante o período de pré-campanha. Moro, no entanto, alegou que não se envolveu na negociação nem desses valores nem de outros contratos firmados pelo Podemos ou pelo União Brasil, respectivamente sua antiga e atual legenda.
Durante a audiência, Falavinha avisou que o depoimento de Moro marca o encerramento da fase de coleta de provas. As ações devem ser julgadas pelo plenário do TRE do Paraná em 22 de janeiro do ano que vem.
Conforme informou o blog, o PT pretende usar uma relação de voos fretados usados por Moro durante a campanha eleitoral do ano passado para reforçar as acusações de que o ex-juiz federal da Lava-Jato praticou caixa 2 e abuso de poder econômico em sua ofensiva política para se tornar senador pelo Paraná.
De acordo com o União Brasil, o valor total do fretamento das aeronaves para Moro e aliados chegou a R$ 625 mil.
O PT pretendia confrontar Moro com os gastos desses voos fretados, além de questionar o senador sobre contratos milionários feitos pelo Podemos, sua antiga legenda, para a elaboração de publicidade no rádio e na TV no primeiro semestre de 2022.
A legenda tentou lançar Moro pela Presidência da República, mas ele mudou os planos e optou por mudar de partido e disputar uma cadeira de senador pelo Paraná.
Os processos contra Moro no TRE do Paraná investigam caixa 2 e uso indevido dos meios de comunicação – mas para haver um novo pleito, é preciso que Moro seja cassado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O caso só deve chegar ao TSE no ano que vem, apesar da pressa do PT de resolver a questão o quanto antes.
“O silêncio do senador é medo. Sabia que não teria como explicar os crimes que cometeu. É uma pena que o Senador deixe de se explicar para a sociedade e seus eleitores. Tínhamos 200 perguntas para fazer para ele, sobre os milhões para seu suplente, jatinhos, motoristas etc. com dinheiro público, do povo. Para alguém que defendeu tanto a moralidade da política, seu silêncio é decepcionante e, para nós, uma confissão de culpa”, disse em nota o advogado Luiz Eduardo Peccinin, autor da ação do PT.
Para o advogado Gustavo Guedes, defensor de Moro, a audiência foi importante para demonstrar a tentativa dos acusadores de “inflarem indevidamente” os gastos de pré-campanha de Sergio Moro.
“Seguiremos comprovando nas alegações finais que 98% daquilo que os partidos autores apresentaram deve ser descartado. E o que sobra não representa abuso nenhum. A eleição do senador Moro foi legal e legítima”, afirmou Guedes.
A Justiça Eleitoral do Paraná havia autorizado o depoimento de Moro por videoconferência, mas também havia colocado a possibilidade de o parlamentar prestar o depoimento presencialmente – e até mesmo de não comparecer à audiência, caso assim preferisse.
Mesmo assim, o parlamentar fez questão de ir pessoalmente ao TRE do Paraná.