Felicidade

O cuidado de si e a vida possível!

Não é nova e tão pouco desconhecida, da maioria das pessoas, a frase que diz…

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Não é nova e tão pouco desconhecida, da maioria das pessoas, a frase que diz “conhece-te a ti mesmo”. Esse pensamento encontra espaço em diversos lugares de nossa sociedade. Uma ideia pensada por instituições religiosas, familiares e educacionais. Uma ideia sustentada pela vontade de buscar algo que não conhecemos ainda, para então existirmos… Um pensamento que, na maioria das vezes, já traz prontas as formas de certo e errado. De bem e mal. Do que é permitido e do que é proibido.

Esse “conhecer a si mesmo” não é libertador, não nos impulsiona em direção ao nosso melhor, mas nos arrasta para a tradição que tem um modo de viver pensado e planejado para cada pessoa e nesse caso, conhecer é descobrir o que já pensaram para nós. A profissão certa, o que é correto, as leis, os costumes, as crenças e as formas de vida que são incentivadas e aceitas. Esse não é o pensamento da vida, mas o pensamento das instituições que engessam a vida no que ela tem de mais bonito e forte.

Somos envolvidos por essa forma de pensar desde criança. Essa forma de pensamento nos incentiva e por vezes nos obriga a descobrir (encontrar) um modelo de vida pronto e acabado para vivermos. As instituições que fabricam esse modelo já sabem exatamente o que vamos encontrar, mas somos levados a acreditar que a descoberta nos revelará algo novo, algo que sempre desejamos e sonhamos.

Esse pensamento limita a vida e por isso faz-se necessário enfrentá-lo, desmontá-lo e substituí-lo por um pensamento capaz de produzir para cada sujeito um modo de vida que se pareça com ele mesmo. Nessa condição a produção é individual; a ideia é criar para si e não para o outro. É viver eticamente e não moralmente. Na vida ética a dimensão maior é a própria vida, é o modo de viver e cada sujeito vai experimentar o que é bom para si mesmo. Viver e deixar o Outro viver. Não existe mais nada a ser descoberto, mas será preciso criar, com a própria subjetividade, um modo de vida potente e capaz de nos libertar e nos permitir criar um espaço de si e para si onde essa nova vida seja possível.

O cuidado de si é uma tonalidade afetiva que liberta a vida lá onde ela é prisioneira. Não condiciona nossa busca por algo pensado e criado por outros para nós, mas nos incentiva a cuidar de nós mesmos, de criar uma vida que seja parecida com nossos desejos, uma vida capaz de ser vivida por nós. O cuidado de si é um não definitivo às instituições que criam vidas em série e distribuem modos de viver para cada sujeito tirando deles a oportunidade de cuidar de si, de experimentar algo de sua própria criação. O cuidado de si inaugura uma nova forma de ser no mundo, valoriza nossa subjetividade e aposta que somos capazes de criar um modo de vida próprio que funcione eticamente e que respeite a nossa singularidade.