MEDO

Família de Moïse desiste de administrar quiosque onde congolês foi morto no Rio de Janeiro

Prefeitura havia proposto que familiares ficassem com a concessão de dois quiosques até 2030, sem pagar aluguel

Família de Moïse desiste de administrar quiosque onde congolês foi morto no Rio de Janeiro
Família de Moïse desiste de administrar quiosque onde congolês foi morto no Rio de Janeiro - (Foto: Divulgação/ Rio de Paz)

A família de Moïse Mugenyi Kabagambe desistiu de assumir a concessão dos quiosques onde o congolês foi espancado e morto no dia 24 de janeiro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. A informação foi adiantada pelo jornal O Globo. Segundo o advogado Rodrigo Mondego, da comissão de Direitos Humanos da OAB-RJ, os familiares estão com medo, principalmente desde que o responsável pela concessão de um dos quiosques disse que não sairia de lá.

“A partir daí a família ficou com muito medo. Eles não querem mais conflito com ninguém”, afirma.

​Parentes de Moïse disseram que se sentiram intimidados por dois policiais militares que os abordaram após o crime em duas ocasiões, relato que está sendo apurado pela Corregedoria da Polícia Militar.

No dia 7 de fevereiro, familiares do congolês e a Prefeitura do Rio formalizaram um termo de compromisso para que eles pudessem administrar os quiosques Tropicália e Biruta, onde Moïse foi morto, sem pagar aluguel até fevereiro de 2030.

A cessão do Biruta ainda dependeria de pendências na Justiça —a concessionária Orla Rio, responsável pelos estabelecimentos, teria que retomar a posse do lugar, que foi cedido pelo operador original a terceiros. Quem o administrava era um policial militar e sua irmã, segundo os funcionários afirmaram à polícia.

Um dos três presos temporariamente pelo homicídio, Aleson Cristiano Fonseca, trabalhava ali. Já Brendon Alexander Luz da Silva era funcionário da Barraca do Juninho, em frente aos quiosques e também gerida pelo policial. O terceiro preso, Fabio Pirineus da Silva, vendia caipirinhas na areia.

A ideia seria que os dois quiosques fossem transformados em uma espécie de memorial em homenagem à cultura africana, incluindo um painel com uma foto do jovem morto. Mondego afirma que a família desistiu de administrar os dois quiosques na Barra da Tijuca, mas está aberta a alternativas. “Eles topariam, inclusive, [assumir] algum outro quiosque. Sabemos que existem quiosques vazios na zona sul”, diz.

O objetivo dos familiares, segundo o advogado, é marcar uma reunião com a prefeitura e a Orla Rio na próxima segunda-feira (14) para discutir outras possibilidades.

Com medo após as ameaças, parentes de Moïse têm recebido ajuda de algumas organizações para garantir a própria segurança. Eles precisaram, por exemplo, se mudar do local onde moravam. Por enquanto, porém, ainda não recebem proteção oficial do governo do estado.

A pasta de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos disse que os familiares poderiam entrar no programa Provita, que visa a proteger vítimas ou testemunhas de ameaças. Mondego afirma, no entanto, que os parentes do congolês resistem à ideia porque teriam que cortar laços com a comunidade.