iFood se compromete a pagar R$ 6 mi em pesquisas em acordo com MPs
Ação diz que aplicativo iFood e agências infiltraram agente em manifestação para desmobilizar movimento de entregadores

Em um acordo assinado com o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Trabalho (MPT), o iFood se comprometeu a financiar R$ 6 milhões em pesquisas e projetos que analisem as relações de trabalho com entregadores, mercado publicitário, de marketing digital e responsabilidade social dos controladores de plataformas.
O Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) resultou de uma investigação do MPF e MPT a partir de indícios de que a empresa teria usado as redes sociais para desmobilizar movimentos de entregadores por melhores rendimentos e condições de trabalho. A ação teria ocorrido em parceria com as agências de comunicação Benjamim e Social QI.
O iFood, a Benjamim e a Social QI também deverão fazer uma campanha de marketing digital sobre a importância do respeito ao direito à informação na internet. A informação foi levantada por uma reportagem do site Agência Pública.
“Para que tenham seu direito à informação respeitado, os cidadãos precisam saber se é uma empresa que está postando determinado conteúdo na internet, em qual contexto e para qual finalidade. Isso é especialmente importante para que eles possam formar livremente sua opinião sobre assuntos de relevância pública e, a partir disso, exercer um outro direito fundamental: a liberdade de expressão, que deve ser isenta de interferências indevidas ou ocultas”, disse o procurador da República Yuri Corrêa da Luz.
“Esses direitos [liberdade sindical, os direitos de greve e de negociação coletiva] são fundamentais, sendo parâmetros mínimos, previstos na Constituição Federal e em tratados internacionais de direitos humanos, para que os trabalhadores tenham meios de promover a sua organização, fomentar a solidariedade entre os membros do grupo e expressar adequadamente a voz coletiva de seus integrantes”, disse o procurador do Trabalho Renan Kalil.
Por nota, o iFood se manifestou: “a respeito da solicitação da Agência Pública, o iFood informa que não teve acesso aos documentos mencionados e, portanto, não pode opinar sobre o conteúdo destes. A empresa recebe regularmente abordagens e propostas de campanhas de diversas agências de comunicação, porém nunca teve relação comercial com a empresa SocialQi”.
A Social Qi, por sua vez, respondeu: “Como a reportagem não disponibilizou o acesso requisitado aos materiais mencionados, não pudemos sequer verificar sua autenticidade, muito menos tecer comentários sobre seu suposto teor, que pode ter sido alvo de edições, manipulações e adulterações de um ex-funcionário, por exemplo”.
Por fim, a Benjamin Comunicação disse: “A Benjamim não concorda com práticas como produção de fake news, uso de bots ou perfis falsos para interações ou compra de likes e seguidores, sempre realizando seu trabalho dentro da legalidade.”
Veja as notas na íntegra:
Benjamim Comunicação declarou: “A Agência de Comunicação Benjamim foi contratada pelo iFood para realizar pesquisa de opinião e monitoramento de postagens nas redes sociais e tem em seu escopo ouvir assuntos ligados ao ecossistema do food delivery.
A Agência de Comunicação Benjamim recebe constantemente propostas solicitadas e não solicitadas de diferentes agências de comunicação e não aprovou junto ao iFood ideias ou campanhas propostas pela Social QI, sua subcontratada por um curto período em 2021 para monitoramento de redes sociais para diversos clientes. A reportagem da Agência Pública não permitiu acesso aos supostos documentos que foram oriundos da Social QI. Estranhamos uma reportagem que não tenha uma checagem dupla, com várias fontes, para autenticidade de supostas denúncias.
A Benjamim não concorda com práticas como produção de fake news, uso de bots ou perfis falsos para interações ou compra de likes e seguidores, sempre realizando seu trabalho dentro da legalidade.”
A agência Social Qi retornou à reportagem via nota, copiada na íntegra: “A Social QI é uma agência de marketing digital que faz monitoramento de redes sociais e ações de comunicação para clientes em todo o país. É prática do mercado fazer propostas para clientes atuais ou em prospecção, sugerindo ações, sempre respeitando os limites legais, que podem ou não serem aprovados ou realizados pelos clientes.
Como a reportagem não disponibilizou o acesso requisitado aos materiais mencionados, não pudemos sequer verificar sua autenticidade, muito menos tecer comentários sobre seu suposto teor, que pode ter sido alvo de edições, manipulações e adulterações de um ex-funcionário, por exemplo.
No desenvolvimento de nossos negócios, realizamos diversos trabalhos em parceria com a Agência Benjamin, inclusive propondo possíveis ações de comunicação para seus clientes. Nesse contexto, fomos contratados pela Benjamin em 2021 para realizar monitoramento de redes sociais sobre o mercado de entrega de refeições no Brasil, e apresentamos propostas de trabalho, que não necessariamente foram aprovadas pela agência.
Baseado apenas pelas perguntas enviadas pela reportagem, supomos que a Agência Pública esteja fazendo referência a uma possível proposta de trabalho que a Social QI sugeriu à Benjamin sobre a criação de um “marco regulatório”, a qual não foi aprovada pela agência e, portanto, não foi realizada.”
A reportagem também buscou contato com o iFood, que retornou via nota, reproduzida na íntegra: “A respeito da solicitação da Agência Pública, o iFood informa que não teve acesso aos documentos mencionados e, portanto, não pode opinar sobre o conteúdo destes. A empresa recebe regularmente abordagens e propostas de campanhas de diversas agências de comunicação, porém nunca teve relação comercial com a empresa SocialQi.
A atuação do iFood nas redes sociais se dá estritamente dentro da legalidade, não compactuando com o uso de perfis falsos, geração de informações falsas, automação de publicações por uso de robôs ou compra de seguidores.
O iFood realiza suas comunicações institucionais apenas por seus canais oficiais e contrata agências, como a Benjamim Digital, especializadas em pesquisa de opinião, campanhas de comunicação e monitoramento de redes sociais que acompanham temas em diferentes plataformas.”