Brasília

Interventor realoca servidores exonerados por Anderson Torres na Segurança Pública do DF

Ricardo Cappelli acusou o ex-titular da pasta de sabotagem por ter demitido funcionários antes dos atos de vandalismo na capital federal e viajado para os EUA

O interventor federal no Distrito Federal, Ricardo Cappelli, reintegrou aos quadros da Secretaria de Segurança Pública do DF gestores que haviam sido exonerados pelo ex-ministro Anderson Torres. Em férias nos Estados Unidos e com prisão determinada pelo STF, Torres ocupou o cargo de secretário de Segurança por cerca de uma semana, até ser exonerado no último dia 9, após os atos de depredação dos Três Poderes.

Em entrevista ao GLOBO esta semana, Cappelli acusou Torres de sabotagem. Ele afirmou que assumiu uma secretaria acéfala, depois que o ex-ministro exonerou os profissionais que trabalhavam na pasta até o dia 1º de janeiro. O interventor disse ainda que não vê como “coincidência” a viagem de Torres aos EUA antes das manifestações do fim de semana e que as férias do ex-secretário, que teve sua prisão decretada, só começaria oficialmente no dia 9.

Com a decisão de Cappelli, anunciada nesta quinta-feira, o delegado federal Milton Neves volta ao posto de secretário-executivo da SSP, cargo que ocupou por dois anos.

Neves atuou no Acre pela PF e foi agente na Polícia Civil do DF. Logo após assumir, Torres havia nomeado o delegado federal Fernando Oliveira para o cargo.

Outro que volta à pasta é o delegado George Estefani Couto, subsecretário de Inteligência. Ele ocupava o posto desde 2019. Em 2 de janeiro, Torres substituiu o policial pela delegada federal Marília Alencar, ex-diretora de Inteligência da Secretaria de Operações Integradas do Ministério da Justiça e Segurança Pública (Seopi).

Casada com o delegado da PF José Erasmo de Oliveira Júnior, ela e o marido são bolsonaristas declarados. Ambos participaram de manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff em 2016. No início de 2022, Erasmo chegou a curtir diversos posts no Instagram que criticavam Lula.

Outro gestor que retorna à SSP-DF é Heitor Antunes, subsecretário de Ensino e Gestão de Pessoas, cargo em que esteve nomeado por quase um ano. Coronel aviador da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB), ele havia sido substituído por Ricardo Braga, que foi diretor do Arquivo Nacional.

Com experiência em áreas estratégicas, os servidores participaram da elaboração do planejamento operacional colocado em prática no dia da posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas já estavam fora quando o plano de segurança do domingo, dia 8, foi discutido.

— Tenho plena confiança na Polícia Militar do DF, na Polícia Civil e no Corpo de Bombeiros. São homens e mulheres valorosos. As pessoas agora renomeadas são as mesmas que lideraram a operação de segurança exemplar no dia da posse do presidente — disse Cappelli.

Mudanças na segurança

Nesta quarta-feira, a defesa do governador afastado do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), afirmou em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF) que o plano de segurança elaborado para a manifestação de domingo sofreu “atos de sabotagem” das forças de segurança locais e acusa policiais de terem agido com “conivência” e “colaboração” com os manifestantes golpistas e de terem cometido “deserção”.

A peça foi encaminhada ao ministro Alexandre de Moraes, que no domingo afastou Ibaneis do cargo por 90 dias, por considerar que ele foi omisso na preparação do esquema de segurança do protesto.

No documento, os advogados admitem que a primeira impressão é de que houve “aparente falta de preparação para os atos anunciados”, mas argumentam que “diversos agentes aos quais incumbiam a execução do protocolo de ação seguiram pela inaceitável e criminosa linha da conivência e da colaboração com os grotescos atos terroristas, tudo à revelia do que havia sido previamente alinhado”.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, também havia afirmado, logo após as invasões, que o plano de segurança integrada determinado pelo governo do DF havia sido modificado na véspera das depredações dos prédios do Três Poderes. Segundo Dino, o trânsito de pedestres na Esplanada foi liberado, em desacordo com o que havia sido combinado entre a PM e a equipe liderada pelo ministro.