Israel declara Irã como principal frente de guerra e diz que Gaza passou a ser ‘posição secundária’
Ataques a mais de 150 alvos em território iraniano marcam nova fase do conflito; Teerã ameaça bases dos EUA, Reino Unido e França

(AGÊNCIA O GLOBO) – Em uma mudança drástica na condução da guerra, as Forças Armadas de Israel anunciaram neste sábado que o Irã se tornou sua principal frente de combate. Gaza, até então epicentro da ofensiva israelense, foi rebaixada a uma posição secundária. O novo foco de Israel no Irã aumenta o risco de um conflito regional de grandes proporções, com potencial envolvimento direto de potências ocidentais.
A tensão segue em alta, com ofensivas e contra-ataques sendo registrados em múltiplas frentes desde a madrugada de sexta-feira — até este sábado, foram registradas 78 mortes e cerca de 300 feridos no Irã, e três mortes e mais de 80 feridos em Israel. Também neste sábado, Israel afirmou que os ataques iniciais, lançados na sexta-feira (noite de quinta-feira em Brasília), mataram nove cientistas nucleares — antes, havia informação de seis.
Ainda neste sábado, Israel bombardeou defesas aéreas e lançadores de mísseis do Irã, intensificando suas operações contra o país. O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, afirmou que concluiu uma reunião de segurança com autoridades militares alertando que novos ataques do Irã poderão levar à destruição total da capital iraniana. O israelense declarou que o governo iraniano está “transformando os cidadãos do Irã em reféns e criando uma realidade na qual eles pagarão um preço alto”.
— Se [líder supremo do Irã, aiatolá Ali] Khamenei continuar a disparar mísseis contra a retaguarda israelense, Teerã vai queimar — reforçou.
Sob a justificativa de que o Irã estava se aproximando de um ponto “sem retorno” rumo à bomba atômica, nas últimas 24 horas as Forças Armadas de Israel lançaram um ataque sem precedentes em solo iraniano, atingindo mais de 200 instalações nucleares e militares e matando alguns dos mais altos comandantes do país. Foi a primeira vez que as forças israelenses admitiram ter mirado a instalação nuclear de Fordow, um dos pontos mais sensíveis do programa nuclear iraniano, embora a estrutura não tenha sofrido danos graves.
— O caminho para Teerã está aberto. Nossas forças podem agora operar livremente sobre o espaço aéreo iraniano — disse o chefe do Estado-Maior do Exército de Israel, tenente-general Eyal Zamir, após ataques que, segundo ele, neutralizaram sistemas de defesa aérea do Irã.
Área subterrânea profunda
Autoridades iranianas, por sua vez, afirmaram que removeram equipamentos de Fordow antes dos ataques à fortificada instalação nuclear. Citado pela agência estatal Irna, Behrus Kamalvandi, porta-voz da Organização de Energia Atômica do Irã, disse que os danos nos arredores da instalação são “administráveis”. O local — construído em uma área subterrânea profunda e protegido por baterias antiaéreas — abriga centrífugas utilizadas no enriquecimento de urânio, essenciais para o desenvolvimento de armas nucleares.
Neste sábado, aviões israelenses concentraram bombardeios sobre Teerã, enquanto o Irã tentava responder com salvas de mísseis e drones, na entrada do segundo dia da guerra aérea. Israel deixou claro que pretende desmantelar o programa nuclear iraniano, e Teerã prometeu fazer Israel se arrepender.
O Exército israelense também divulgou imagens dos bombardeios. A ofensiva, segundo as autoridades de Israel, continuará com foco em instalações nucleares, bases militares, lançadores de mísseis balísticos e alvos humanos considerados estratégicos, como cientistas nucleares e oficiais de alto escalão.
O presidente americano, Donald Trump, afirmou que os Estados Unidos ajudarão a defender Israel, e autoridades americanas foram citadas na imprensa dizendo que forças dos EUA já participaram da derrubada de drones e mísseis iranianos que se aproximavam do território israelense. O presidente da França, Emmanuel Macron, também disse na sexta-feira que seu país apoiaria a defesa de Israel contra represálias do Irã.
O governo britânico, por outro lado, já havia informado anteriormente que não deu suporte militar à ofensiva de Israel contra o Irã e tampouco ajudou a derrubar drones iranianos. Em conversa com Netanyahu na sexta-feira, o premier britânico, Keir Starmer, destacou o direito de Israel à autodefesa, mas ressaltou a necessidade de uma solução diplomática.
Com a maior parte dos projéteis disparados contra Israel sendo interceptada antes de alcançar seus alvos, o Irã tenta dissuadir o apoio ocidental a Tel Aviv. Mas uma eventual concretização da ameaça, feita neste sábado pela mídia estatal iraniana, representaria um grande risco para Teerã, ao provocar o envolvimento direto de potências ocidentais no conflito — num momento em que o país já sofre com os bombardeios sustentados de Israel, publicou o jornal britânico The Guardian.
O Papa Leão XIV também fez neste sábado um apelo para que as autoridades iranianas e israelenses ajam com “responsabilidade e razão” diante da escalada militar entre os dois países. Em uma das declarações mais firmes por parte do Pontífice desde o início de seu papado, há cinco semanas, Leão disse acompanhar a situação “com grande preocupação”. Ele ainda destacou que o compromisso com a construção de um mundo mais seguro, livre da ameaça nuclear, deve ser buscado por meio de “encontros respeitosos e de um diálogo sincero”.
— Neste momento tão delicado, desejo renovar com força o apelo à responsabilidade e à razão — afirmou o Papa na Basílica de São Pedro. — Ninguém jamais deve ameaçar a existência de outro povo. É dever de todas as nações apoiar a causa da paz, iniciar caminhos de reconciliação e promover soluções que garantam segurança e dignidade para todos.