Suspensão de garantias

OAB diz ser inconstitucional um eventual estado de sítio por causa de coronavírus

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) considera inconstitucional um eventual estado de sítio por…

OAB diz ser inconstitucional um eventual estado de sítio por causa de coronavírus
OAB diz ser inconstitucional um eventual estado de sítio por causa de coronavírus

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) considera inconstitucional um eventual estado de sítio por causa da emergência com o coronavírus.

O posicionamento, anunciado em parecer, foi publicado após a declaração do presidente Jair Bolsonaro nesta sexta-feira (20) de que a medida “ainda não está” no radar do governo.

No estado de sítio são suspensas garantias constitucionais, como sigilo de comunicações, liberdade de imprensa e liberdade de reunião.

A medida precisa do aval do Congresso Nacional.”Não há dúvida de que a situação atual produz sensações de pânico e de temor na população”, diz a nota da OAB. “Esses sentimentos não podem, no entanto, ser explorados para autorizar medidas repressivas e abusivas que fragilizem direitos e garantias constitucionais.”

O documento é assinado pelo presidente da OAB, Felipe Santa Cruz, e pelo presidente da Comissão Nacional de Estudos Constitucionais da Ordem, Marcus Vinicius Furtado Coêlho.

O parecer pontua que não há um cenário de impossibilidade de atuação do Estado dentro das regras democráticas que autorize a suspensão da própria Constituição. Assim, “o recurso a tal medida extrema no contexto atual se mostra flagrantemente inconstitucional e descabido”.

Para a entidade, não é possível “comparar as restrições abusivas” que decorreriam da decretação de estado de sítio às medidas restritivas sobre direitos, como a liberdade de circulação e de reunião fundamentadas em questões médicas e sanitárias.

A recente aprovação de projeto de decreto legislativo para declarar estado de calamidade pública, diz o texto, “é medida adequada para resolver desafios institucionais”. O documento, elaborado também na sexta-feira (20), será encaminhado à AGU (Advocacia-Geral da União) e aos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP).

Em entrevista à imprensa nesta sexta, Bolsonaro disse que decretar estado de sítio seria uma medida extrema e que não considera que ela seja necessária neste momento. “Ainda não está no nosso radar isso, não. Até porque isso, para decretar, é relativamente fácil de fazer uma medida legislativa para o Congresso Nacional”, afirmou.

À Folha de S.Paulo Marcus Vinicius disse que o parecer da OAB vem em reação a uma aparente normalidade com que o presidente trata do tema. “Tão logo verificamos que o presidente disse ‘ainda não’ considerar decretar o estado de sítio, mas que isso poderia ser feito rapidamente, a OAB ficou absolutamente preocupada”, disse ele, que já presidiu a Ordem.

“É possível combater o coronavírus sem a necessidade desse instrumento, é possível dentro das leis decretar o fechamento de locais públicos, determinar isolamento, fechamento do comércio, em nome da saúde.”

O advogado ressaltou que a população não tem questionado as medidas sanitárias e não há notícias, por exemplo, de iniciativas judiciais contra as restrições. “O momento é de colaboração entre governos e Poderes.”

Marcus Vinicius disse que a declaração de Bolsonaro reacende preocupações com uma escala autoritária no país e relembrou às menções recentes ao AI-5, o mais duro da ditadura militar. Instituído em 1968 durante a ditadura no Brasil (1964-1985), o AI-5 revogou direitos fundamentais no país.

Bolsonaro sempre defendeu o regime militar. Em novembro passado, o ministro Paulo Guedes (Economia) disse que as pessoas poderiam se assustar se alguém pedir o AI-5 diante de uma possível radicalização dos protestos de rua no Brasil.

Dias antes, um dos filhos do presidente, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), havia dito que, caso a esquerda radicalizasse, uma resposta possível seria um AI-5.

A OAB ainda elaborou outro parecer em que recomenda a todas as organizações sociais, incluindo igrejas e templos religiosos, a suspensão de cultos e encontros como forma de combater a disseminação do vírus.

Bolsonaro também criticou ações para fechar igrejas durante pandemia. Em entrevista veiculada na noite da sexta-feira (20) no SBT, o presidente contradisse orientações sanitárias e defendeu que a igreja “é o último refúgio das pessoas”.