Abuso sexual

Promotoria apura suspeita de abuso sexual por médico prefeito no CE

O Ministério Público do Ceará apura denúncias de que o médico e prefeito da cidade…

O Ministério Público do Ceará apura denúncias de que o médico e prefeito da cidade cearense de Uruburetama (a 110 km de Fortaleza), José Hilson Paiva (PC do B), 70, abusava de pacientes mulheres. Ele nega as acusações e diz, por meio de seu advogado, que há perseguição política.

Vídeos que chegaram aos promotores, e que foram divulgados pela TV Globo no domingo (14), mostram Paiva em consultas onde supostamente abusa de pacientes. Há 23 mulheres diferentes, em 63 vídeos, sendo que 17 podem ter sido abusadas.

A Câmara de Vereadores de Uruburetama vai analisar se abre procedimento para investigar a denúncia, que poderia resultar no afastamento de Paiva.

“Em nenhum momento da humanidade existe esse procedimento, isso é asqueroso”, disse à TV Globo o médico Antônio Jorge Salomão, da AMB (Associação Médica Brasileira), que analisou os vídeos e constatou que os procedimentos adotados por Paiva não seguem as normas médicas de um ginecologista.

Nos vídeos, mulheres são colocadas de costas apoiadas em macas e em um deles ele coloca na boca o seio de uma paciente. Nesta segunda (15), Paiva não foi até a prefeitura e despachou da residência de parentes em Uruburetama -ele está receoso com sua segurança, diz a defesa.

O caso começou em 2018, quando um vídeo de Paiva praticando sexo com uma mulher no que aparentava ser um consultório viralizou em redes sociais. Na época ele admitiu o caso extraconjugal e disse ser consensual -ele é casado com a ex-prefeita da cidade, Maria das Graças Cordeiro de Paiva.

“Mas não era um consultório e sim uma local privado, no interior da cidade”, disse Kaio Galvão de Castro, advogado de Hilson Paiva. Ele afirmou ainda não ter tido acesso aos vídeos que os promotores receberam e por isso não poderia comentar o teor deles.

O advogado disse não ter falado ainda com o cliente sobre o motivo de filmar consultas, mas que, em 2018, pouco antes do vídeo que viralizou ter aparecido, o celular de Paiva foi roubado dentro de sua casa.

O vídeo estimulou algumas mulheres a denunciarem que teriam sofrido abuso em atendimentos feitos por Paiva.

Ao menos quatro, entre março e abril de 2018, vieram a público falar que perceberam atitudes estranhas do médico durante consultas, como apertos nos seios e até que o médico tirava o órgão genital para fora.

Os relatos são semelhantes aos feitos por mulheres entrevistadas pela TV Globo e que tiveram a identidade preservada.

“Ele sempre trancava a porta, mandava a gente entrar e mandava tirar a roupa. Pegava no seio, ficava pegando no corpo da gente, colocava o pênis na gente”, disse uma das mulheres que deu entrevista à TV.

O Ministério Público do Ceará informou que como o caso corre em segredo de justiça não se pronunciaria a respeito. A reportagem tentou uma posição do Cremece (Conselho Regional de Medicina do Ceará), mas não obteve resposta. O Conselho Federal de Medicina (CFM) também não se pronunciou.

Outro lado

Por meio do advogado Kaio Galvão de Castro, o prefeito José Hilson Paiva negou as acusações de abuso.

Em 2018, ele fez um pronunciamento para alguns moradores também negando as acusações que apareceram após a divulgação do primeiro vídeo. “Tudo foi consensual”, disse.

Paiva processou quatro das mulheres que o denunciaram a programas de TV, em 2018, por calúnia e difamação. Três delas, em audiência de conciliação, pediram desculpas a ele, segundo Castro.

Há vinte dias, o vice-prefeito de Uruburetama, Artur Wagner Vasconcelos Nery, seu filho Alexandre Wagner Albuquerque Nery, vereador na cidade, a esposa de Alexandre, Sandra Prado Albuquerque e o empresário Francisco Leonardo de Castro Bezerra Melo foram denunciados pelo Ministério Público do Ceará por extorsão.

José Hilson Paiva os acusa de pedirem sua renúncia mediante chantagem da divulgação de vídeos e fotos de atos sexuais do prefeito.

“Não recebemos ainda a notificação da denúncia”, disse o advogado Paulo Pimentel, que defende Alexandre Nery e Sandra Prado. Ele disse que seus clientes jamais comentaram sobre supostos vídeos contra o prefeito. “O que sei sobre esse caso soube pela mídia”, disse Pimentel.

A Polícia Civil do Ceará e os conselhos Federal e Estadual de Medicina ainda não responderam os questionamentos da reportagem.