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Remédio para combater calvície encomendado pelas Forças Armadas pode causar disfunção erétil

A disfunção erétil é um dos efeitos colaterais mais comuns do uso da finasterida, medicamento…

Remédio para combater calvície encomendado pelas Forças Armadas pode causar disfunção erétil Aeronáutica, Exército e Marinha finasterida
(Foto: Freepik)

A disfunção erétil é um dos efeitos colaterais mais comuns do uso da finasterida, medicamento usado para tratar a calvície. Já o remédio mais conhecido contra a impotência e a perda de libido é a sildenafila, vendida sob o nome comercial de Viagra. O que ambos têm em comum? Os dois foram alvos de licitações das Forças Armadas nos últimos anos.

Após a revelação do caso, os deputados federais Elias Vaz (PSB-GO) e Marcelo Freixo (PSB-RJ) pediram que o Ministério Público Federal (MPF) investigue a aprovação da compra de 35 mil comprimidos de Viagra em 2020 e em 2021. A representação foi enviada na terça-feira. O Tribunal de Contas da União (TCU) apura o caso.

“A compra de remédio para disfunção erétil para as Forças Armadas vai na contramão da eficiência e probidade na administração pública. (…) Os processos de compra do Viagra revelaram, ainda, que a Defesa adquiriu os medicamentos com superfaturamento de até 143%”, diz o documento.

As informações sobre possíveis efeitos colaterais constam na bula da finasterida registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A substância é indicada não só para o crescimento e para evitar a queda de cabelo em homens, mas também contra hiperplasia prostática benigna (HPB) — conhecida popularmente como próstata aumentada —, respectivamente nas versões de 1mg e de 5mg.

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É essa última dosagem que consta nos pregões realizados pelo Ministério da Defesa. A disfunção sexual e a queda de libido são dois dos eventos adversos mais comuns para ambos os tratamentos.

— A finasterida realmente tem a disfunção erétil como um dos efeitos colaterais. Não é incomum acontecer, é uma queixa frequente de pacientes que a usam por diversos motivos — pontua o professor da Universidade de Brasília (UnB) e cardiologista do Hospital Sírio-Libanês, Carlos Rassi.

Dados do Portal da Transparência e do Painel de Preços do Ministério da Economia mostram que a finasterida foi alvo de nove pregões em 2021, com valor total de R$ 90.814,94. Os produtos se destinariam aos comandos da Aeronáutica, do Exército e da Marinha.

As licitações foram feitas, em sua maioria, por meio de pregões de registro de preços, um certame em que empresas apresentam propostas de preços de determinados produtos. A companhia com a melhor oferta fica obrigada a fornecer os itens pelo preço durante a vigência do contrato.

Em um dos casos, entretanto, a finasterida foi adquirida por meio de dispensa de licitação, em que uma empresa é apontada previamente para oferecer o produto. Esse contrato foi firmado pela Base Naval do Rio Grande do Norte, vinculada ao Comando da Marinha.

Já entre os 35 mil comprimidos de Viagra, 28.320 unidades iriam para a Marinha, 5 mil para o Exército e o restante, 2 mil, para a Aeronáutica, mostram documentos. As dosagens são de 25mg e de 50mg. As Forças Armadas justificaram a compra como sendo destinada ao tratamento de Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), doença rara que aumenta pressão arterial e atinge vasos sanguíneos dos pulmões.

Segundo Rassi, a versão para essa HAP vai de 20mg a 80mg até três vezes ao dia, sendo 240mg a dose máxima do medicamento. Já para a disfunção erétil, de 25mg a 100mg diariamente. Não há contraindicação de uso da finasterida e do Viagra pelo paciente desde que haja receita médica.

— No começo, ele (o Viagra) foi lançado para tratamento de hipertensão pulmonar. A descoberta de que ele tinha função no acompanhamento da disfunção erétil veio a partir de um efeito colateral — explica o docente.

O Ministério da Defesa negou a compra da finasterida por parte da pasta e do Hospital das Forças Armadas. Já a Aeronáutica, o Exército e a Marinha não responderam até a publicação deste texto.

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