CORONAVÍRUS

São Paulo deve acabar com uso obrigatório de máscara em ambientes abertos na quarta-feira (9)

O governador João Doria (PSDB) se prepara para comunicar o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em…

Bom Jesus instituiu uso obrigatório de máscara contra Covid sem consultar Estado, diz SES
Bom Jesus instituiu uso obrigatório de máscara contra Covid sem consultar Estado, diz SES (Foto: Reprodução - Pixabay)

O governador João Doria (PSDB) se prepara para comunicar o fim da obrigatoriedade do uso de máscara em ambientes abertos em todo o estado de São Paulo a partir da próxima quarta-feira (9). Doria deverá tirar a máscara, literalmente, durante entrevista coletiva, no jardim do Palácio dos Bandeirantes, na capital, para anunciar a flexibilização.

Na terça (8), o governador, secretários estaduais e o Comitê Científico da Covid-19 terão uma reunião com a expectativa para fechar todo o trâmite da liberação.

A princípio, a máscara só poderá ser tirada em via urbana e ambientes a céu aberto —como área externa de bares e restaurantes, além de parques e praças, por exemplo. Alguns impasses, como a liberação do acessório em áreas livres de escolas, estações de metrô e terminais rodoviários, onde há aglomerações de pessoas, ainda serão discutidos de forma mais abrangente na reunião de terça.

Antes de a decisão ser anunciada, o comitê científico monitora se haverá curvas que indiquem queda ou crescimento de infecção pelo coronavírus após o Carnaval.

A flexibilização em São Paulo poderá ocorrer após quedas nas médias móveis de óbitos, desde o final de fevereiro, além do alto índice de população imunizada. Este último fator deverá ser explorado por Doria, que é pré-candidato do PSDB para as eleições à Presidência da República, com o principal patrocinador para o fim da obrigatoriedade das máscaras.

Dados do governo de São Paulo, atualizados às 13h desta sexta, indicavam que 88,5% de toda a população, incluindo crianças acima de cinco anos, alcançaram o esquema vacinal completo.

“Ao mesmo tempo, em paralelo [à imunização contra Covid-19], houve uma queda progressiva de internações nos últimos 30 dias. Temos hoje uma queda de 62% de internações nas enfermarias e 52% em UTI, mostrando que vacinar foi a melhor escolha e é baseado nisso que o comitê científico para essas medidas de retomadas”, disse o secretário de Saúde, Jean Gorinchteyn durante entrevista na quinta (3).

O último relatório do consórcio de veículos de imprensa apontou nesta quinta que a média de óbitos é de 451 por dia, redução de 46%. A de infecções é de 46.460, queda de 58%.

Doria também optou pela flexibilização na esteira do que tem ocorrido em outros estados como Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Santa Catarina. No Distrito Federal, ela deixará de ser exigida em locais abertos a partir de segunda (7).

No Rio, o decreto concede autonomia para que cada um dos 92 municípios fluminenses decida sobre o fim da obrigatoriedade mesmo ambientes fechados. Já no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina, a suspensão do uso atinge apenas menores de 12 anos. Especialistas demonstram incertezas em relação ao abandono do equipamento.

“O que me preocupa é se estamos tomando a decisão através de critérios ou por [motivação] política. Será que todas as regiões do estado de São Paulo estão na mesma situação?”, diz o virologista Maurício Lacerda Nogueira, professor da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp). “Lá atrás houve critérios bem definidos, com a classificação de cidades em faixas vermelha, verde, laranja, amarela. Que agora também seja transparente e fácil de entender pela população.”

Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia), considera a flexibilização precitada e não descarta o viés político.

“Sabemos que a proteção contra a ômicron se dá a partir da terceira dose. Esse número de 88% da população imunizada considera quem completou o esquema com duas doses”, afirma Raquel.

Outro alerta, diz a infectologista, é a incógnita em relação ao saldo do Carnaval. “Tivemos quatro, cinco dias de festas e aglomerações. O prudente seria, pelo menos, esperar as três próximas semanas para ter uma ideia da curva da Covid-19.”

“Essas justificativas, para mim, são muito mais válidas para agradar o eleitor. Se precisarmos voltar a usar máscaras em maio, junho, a adesão será péssima, a não ser que pese no bolso da pessoa”, completa a médica.

Marcos Antônio Cyrillo, diretor da SBI, também demonstra insegurança com o nível de adesão à terceira dose, o que, para ele, não é considerado mais como a “dose de reforço”. Das 100.464.418 doses aplicadas em São Paulo até nesta sexta (4), 20.674.698 são adicionais. As demais são 41 milhões (1ª dose); 37 milhões (2ª dose); e 1,2 milhão (dose única).

“Para liberar, o governo deve levar em consideração como está a vacinação da população, a taxa de contágio como os Estados Unidos têm feito. O governo seguramente tem este trabalho, é o que esperamos”, diz o infectologista.

Desde maio de 2020 que o uso de máscara em todo o estado de São Paulo tem sido obrigatório como forma de combate e prevenção ao novo coronavírus. Pelo decreto, quem for flagrado sem o acessório, poderia sofrer advertência a prisão de até um ano, além do pagamento de multa.

Por último, o valor da infração para o cidadão em situação irregular era de R$ 552,71 e, para estabelecimentos comerciais, R$ 5.294,38 para cada frequentador sem a proteção. No caso de o estabelecimento não apresentar placa, em local visível, com informação sobre a obrigatoriedade também a multa de R$ 1.380,50. A fiscalização da medida é de competência das prefeituras.