Respeito

“Apanhei porque sou gay”: vítimas narram histórias de preconceito no Dia contra a Homofobia

Nesta sexta-feira (17) é celebrado o Dia Internacional contra a Homofobia, data marcada pela luta por direitos…

Nesta sexta-feira (17) é celebrado o Dia Internacional contra a Homofobia, data marcada pela luta por direitos humanos e pela diversidade sexual, contra a violência e o preconceito. Em dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública (SSP), só em Goiás foram registrados 327 crimes contra homossexuais no ano de 2018.

Segundo relatório do Grupo Gay da Bahia (GGB) divulgado nesta sexta-feira, entre janeiro a 15 de maio deste ano, o Brasil registrou 141 mortes de pessoas LGBT. A média é de uma morte a cada 23 horas.

Homofobia é uma realidade enfrentada desde cedo pelo cabeleireiro Callius Adriano, 25 anos. Aos 16 anos, ele voltava à noite para casa quando se deparou com um grupo de pessoas que, a princípio, conversaram tranquilamente, mas depois o atacou.

“Ao virar a esquina da rua de casa, eles começaram a jogar garrafas de cerveja. Uma quebrou na minha cabeça e fez cortes profundos. Fiquei em choque e triste, principalmente pela covardia de pessoas que na minha frente não me trataram mal, mas esperaram eu virar as costas para me agredir. Apanhei porque sou gay“, lamenta.

Fui maltratado em um emprego por ser gay

O administrador Marco Antônio*, 36 anos, conta que o preconceito geralmente começa na família “onde deveria haver apenas amor” e que cresceu ouvindo piadas de mal gosto de familiares. Casado há dois anos, Marco e seu marido pretendem adotar uma criança em breve.

“As pessoas se incomodam com nossa felicidade e acham no direito de opinar sobre a sexualidade alheia. Já fui xingado e maltratado em um emprego por ser gay. Um amigo já foi internado após apanhar em um bar denominado como bar hétero”, declara.

Hoje morando em São Paulo, Marco Antônio se diz preocupado com a situação do país atualmente. “Os políticos que deveriam olhar para o bem social, hoje causam a discórdia e são homofóbicos. Ainda sonho com um mundo onde as pessoas gastem o tempo ajudando o próximo, e não apontando o dedo e jogando pedras”, conclui.

Na escola, era chamado de ‘viadinho’

Quando tinha apenas 15 anos de idade, Glaydson Barreto*, hoje com 26, estava com amigos no Parque Vaca-Brava. O estudante conta que apareceram várias pessoas correndo e, um deles, o golpeou com um chute nas costas.

“Caí no chão e machuquei um lado do meu rosto. Uma pessoa que eu nunca tinha visto na vida fez isso comigo por causa da minha aparência, é triste. Sofri preconceito durante toda minha vida. Na escola, era chamado de ‘viadinho’. Clientes de um restaurante que eu trabalhei já inferiorizaram minha sexualidade para se sentirem superiores. Nós gays recebemos xingamentos gratuitos simplesmente por andar na rua” relata.

(Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil)

Lorena Oliveira, 21 anos, relembra o dia que estava com a namorada na praça de alimentação de um shopping no Centro de Goiânia. Era o aniversário de namoro do casal e, para agradecer um presente que tinha ganhado, Lorena deu um abraço e um selinho na namorada.

“Após alguns minutos, um dos seguranças do shopping chegou e falou que havia famílias ali que poderiam ficar incomodados, pois é um local público. Não estávamos fazendo nada de errado e continuamos no mesmo lugar. O segurança continuo nos cercando e passado um tempo, após darmos outro selinho, ele pediu para nos retirarmos do estabelecimento. Sei dos meus direitos e, justamente por ser um local público, eu poderia sim ficar ali e foi o que eu fiz”, conta.

O Mais Goiás fez contato com o shopping, mas o estabelecimento não se pronunciou sobre o ocorrido.

Goiás

No site do Tribunal de Justiça de Goiás (TJ-GO), são vários os casos classificados como homofobia. Em um dos relatos, ocorrido em junho de 2018 na cidade de Jussara, três homens invadiram a residência de um casal homoafetivo, quebraram os eletrodomésticos do casal, causando às vítimas o prejuízo no valor de R$ 6.600,00.

Após depredarem a casa, os três renderam uma das vítimas e o agrediram utilizando uma arma de fogo e golpes com pedaços de madeira. Os denunciados somente cessaram as agressões quando imaginaram que a vítima estava morta”, lê-se na decisão.

A vítima sofreu traumatismo craniano, um corte profundo no maxilar direito; hematoma em maxilar esquerdo e edema nos ouvidos.

Em abril deste ano, dois homens foram presos após matar o fisioterapeuta Carlos Augusto Araújo na cidade de Formosa, em mais um crime de caráter homofóbico.

Vitor Fonseca Campos e Handerson Pires dos Reis, presos em Formosa (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Vitor Fonseca Campos e Handerson Pires dos Reis, presos em Formosa (Foto: Divulgação/Polícia Civil)

Criminalização

Enquanto a GGB aponta que das 141 mortes de pessoas LGBT no Brasil, 126 foram homicídios e 15 suicídios, o julgamento sobre a criminalização da homofobia e transfobia continua no Supremo Tribunal Federal (STF). A votação deverá ser retomada no dia 23 de maio e, até o momento, quatro ministros votaram a favor de enquadrar os casos como crime.

Os ministros Celso de Mello e Edson Fachin entenderam que o Congresso Nacional foi omisso ao discutir o tema e que houve demora do Legislativo em aprovar uma lei para proteger homossexuais e transexuais.

Data

Escolhido como o Dia Internacional contra a Homofobia, 17 de maio de 1990 foi a data em que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a palavra homossexualismo da Classificação Internacional de Doenças (CID), por não constituir distúrbio ou perversão. No Brasil, passou a fazer no calendário oficial em 2010, no governo do presidente Lula (PT), atendendo a uma reivindicação do movimento LGBTQ brasileiro.

*Os nomes foram alterados pra preservar a identidade dos envolvidos.