CERCA DE 200 VÍTIMAS

Camareira é suspeita de fingir ter leucemia para aplicar golpes em Pirenópolis

Estima-se que cerca de 200 pessoas a ajudaram, com valores diferentes. Grupo de amigas fez tatuagem com o nome da camareira

Camareira de 25 anos é suspeita de fingir ter leucemia para aplicar golpes em colegas de trabalho (Foto: Reprodução - Redes Sociais)

Uma camareira de 25 anos é suspeita de fingir ter leucemia para aplicar golpes em colegas de trabalho, na cidade de Pirenópolis. O recepcionista do estabelecimento, Matheus Milagre, de 25 anos, denunciou que a jovem pedia dinheiro para fazer exames e comprar remédios. Estima-se que cerca de 200 pessoas a ajudaram, com valores diferentes. Amigas chegaram a tatuar o nome da suspeita como forma de homenagem.

“Nós ficamos muito sensibilizados e com muito medo de perder nossa colega, então fizemos vaquinhas, rifas e doações, juntamos bastante dinheiro. Ela sempre mandava mensagem pra alguém falando que tinha que fazer um exame no dia seguinte e a gente se virava pra juntar dinheiro pra ela”, revelou Matheus ao G1.

Homenagem na pele

Sensibilizadas com a suposta situação da camareira, três amigas até fizeram tatuagens para homenageá-la. Duas delas, que optaram por não se identificar, afirmam que estão se sentindo traídas e decepcionadas.

“Eu considerava ela demais, ela é madrinha do meu filho. Estou me sentindo triste, magoada, traída. A gente confia na pessoa, ajuda de coração e acontece essa coisa. Eu nunca esperava isso dela, nesses 4 anos que eu a conheço”, ponderou. A colega disse que pretende remover a tatuagem, mas a mágoa e a frustração vão persistir para além da marca na pele.

Segundo as amigas, a camareira disse que estava com a doença no final de setembro deste ano. Mas foi nesta semana que eles registraram o caso na polícia.

Recuperações rápidas

Uma das colegas da camareira, cujo nome não foi divulgado, revelou que a jovem ia ao banheiro do trabalho e “sangrava” pelo ouvido, nariz e abria a porta pedindo ajuda. Após essas crises, ela ia embora e não deixava ninguém levá-la ao hospital, nem mesmo o namorado.

Entretanto, as crises repentinas eram seguidas de recuperações rápidas e despertaram a desconfiança dos colegas.

“Ela fazia a cirurgia para retirada dos coágulos na cabeça, tinha até paradas cardíacas e no outro dia estava na empresa para trabalhar. Falava que fazia quimioterapia e apresentava estar bem fisicamente. Então, algumas atitudes fizeram elas desconfiarem até que um dia ela foi pressionada a falar a verdade, já que nunca havia apresentado nenhum exame onde comprovava a veracidade da doença”, descreveu a colega.

Grupo de vítimas

Em um grupo por um aplicativo de mensagens, mais de 50 pessoas se reuniram para denunciar a camareira. Algumas das pessoas se dizem vítimas do golpe, mas preferiram não se identificar. Leia abaixo:

“Me senti muito enganada, eu e minhas amigas fizemos de tudo pra ajudar, fizemos orações e pedimos dinheiro para várias pessoas para ela pagar os exames. Fiquei muito triste e no final descobri que era tudo mentira, sendo que poderíamos estar ajudando quem realmente precisa”, disse ao G1 uma mulher que doou R$ 50.

Comprovantes de transferências feitas para Débora (Foto: Reprodução – Arquivo Pessoal)

“Me senti enganada, pois nos mobilizamos para ajudar, sendo que a pessoa mentiu ter uma doença tão grave, é muito triste”, falou uma moça que deu R$ 600 para a camareira.

“Fiquei chocado com a frieza dela. Pois ela via o sofrimento de todo mundo, muitas pessoas doavam dinheiro mesmo sem ter condições”, finalizou Matheus, que doou R$ 55.

Investigação

O delegado Tibério Cardoso disse que a Polícia Civil está investigando o caso. Ele detalha que a camareira procurou a polícia para realizar uma denúncia com uma “história bem absurda”.

Segundo o delegado, a camareira alega que uma terceira pessoa a “induziu” a aplicar os golpes. No entanto, a polícia ainda não sabe se essa pessoa de fato existe ou se é apenas uma tentativa da suspeita de se precaver dos golpes aplicados por ela.

A suspeita ainda não foi ouvida formalmente e, segundo o delegado, as vítimas estão indo até a delegacia para registrar boletins de ocorrência. Como nem todos foram ouvidos, não é possível estimar quanto a camareira teria conseguido.

Tibério revelou também que a polícia já contatou um farmacêutico que vendia medicamentos à camareira. Objetivo é conseguir uma relação dos medicamentos que a camareira adquiriu durante esse período.

O que diz a camareira?

O Mais Goiás não conseguiu contato com a suspeita e nem com sua família. Mas ao G1, uma pessoa dizendo ser irmã dela falou que a jovem estaria internada há 3 dias. A camareira estaria com dores no abdômen e esôfago e aguarda o resultado de exames.

Por mensagem, o pai da suspeita disse que a filha foi usada por outra mulher que teria dito que a jovem tinha câncer. A família, que é do Maranhão, revelou que essa mulher apareceu na vida da camareira há 4 meses.

“Ela forjou essa doença, eu acho que ela dopava a minha filha e inventava que esses remédios eram caros. A mulher pegava o dinheiro para comprar os remédios”, narrou.

O pai reconheceu que a filha teve culpa em não checar os dados dessa terceira mulher. No entanto, ele acredita na inocência da jovem.

“De sábado pra cá ela tá vomitando sangue, mas ela não tem câncer, ela forjou tudo para pegar esse dinheiro, minha filha não tem esse dinheiro. Se ela tivesse, a gente não estaria nessa cidade, mas sim no Maranhão”, desabafou.

Segundo o pai da Camareira, foram encontradas substancias semelhantes à soda cáustica no estomago dela. Em nota, o Hospital Estadual de Urgências da Região Noroeste de Goiânia Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol) informou que a camareira está internada na unidade.

O hospital informou que a suspeita possui o estado de saúde geral regular, consciente e respirando espontaneamente. No entanto, por questões de ética médica, não passou informações de sobre o problema de saúde que causou a internação.