Polícia encontra cheque de presidente de ONG na casa de ex-secretário de Cultura de Goiânia
Investigação é parte da Operação Picadeiro, que apura o desvio de R$ 1,8 milhão por meio de emendas parlamentares na capital em anos anteriores e investiga se havia uma rachadinha com recursos públicos
A Polícia Civil encontrou um cheque da presidente da organização não governamental (ONG) Instituto Vida Gestão Ambiental Cultural e Educacional, Valéria Ataídes, no valor de R$ 52,5 mil na casa do ex-secretário de Cultura de Goiânia, Zander Fábio, durante a Operação Picadeiro, deflagrada na quinta-feira (31). Os detalhes foram divulgados pela TV Anhanguera. A ação apura o desvio de R$ 1,8 milhão por meio de emendas parlamentares na capital em anos anteriores e investiga se havia uma rachadinha com recursos públicos.
Conforme informação revelada pelo veículo de comunicação, a ONG presidida por Valéria recebeu quase R$ 340 mil em emendas do ex-vereador Leandro Sena. A instituição, antes empresa, se tornou organização não governamental para poder receber o recurso. Entretanto, só poderia garantir o valor com um ano de existência, mas a mudança havia um mês quando houve a destinação.
E teve, ainda, uma emenda de R$ 1,5 milhão do vereador Sargento Novandir para a ONG Instituto Vida Ambiental, presidida por Jean Lima, esposo de Valéria, para atividades circenses. A organização, contudo, alterou o destino do valor para exposição de carros antigos, mas não fez nenhum dos dois.
As investigações apontaram, ainda, que Haliston Baima era o elo entre os envolvidos. Ele era ex-servidor de Sena, ex-sócio da ONG de Jean e ex-conselheiro da ONG de Valéria. Todos deverão ser chamados para a polícia para novos esclarecimentos.
Zander, um dos alvos da operação, afirmou ao Mais Goiás que, sobre os fatos em investigação, “não foi o seu propositor ou executor, não tendo responsabilidade alguma sobre a questão, em face da legislação, que comanda ser impositiva a sua aplicação.” E completou: “Ainda, mister se faz anotar que, após a liberação das emendas impositivas, a entidade executora tem o prazo de 2 anos para prestar contas dos valores recebidos.” O portal não conseguiu contato com os envolvidos ligados às ONGs. O espaço segue aberto.
Investigação
A investigação apontou indícios de favorecimento a duas ONGs de fachada, com contratos que somavam R$ 1,8 milhão para eventos circenses e atividades culturais. As entidades são investigadas por inexistência física nos endereços declarados, ausência de experiência comprovada, falta de estrutura técnica e vínculo com um mesmo grupo familiar ou econômico.
Conforme apurado pelo Mais Goiás, as emendas que sustentaram os repasses partiram do ex-vereador Leandro Sena e do atual vereador Sargento Novandir, ambos com histórico de atuação na área cultural. Já Zander Fábio, à época titular da Secretaria Municipal de Cultura, teria autorizado e conduzido os trâmites administrativos que resultaram nos pagamentos suspeitos.
O delegado Bruno Barros, responsável pelo inquérito, afirmou que o plano de trabalho original previa três eventos circenses entre março e abril de 2024, mas o dinheiro só foi transferido em maio, sem comprovação da execução. “Em novembro, essa mesma ONG beneficiada solicitou a modificação do plano de trabalho e propôs, em vez dos eventos de circo, realizar exposições de carros. Isso chamou a atenção porque a lei não autoriza a mudança do objeto da parceria. Além disso, o novo plano de trabalho suprimiu a exigência de notas fiscais, o que cria obstáculos à fiscalização”, destacou em entrevista a TV Anhanguera.
Barros também apontou falhas elementares na conduta da Secretaria de Cultura durante a tramitação. “Não foi designado gestor para acompanhar a execução, não teve comissão de monitoramento, não foi exigida a prestação de contas. O dinheiro não foi depositado em conta específica, como exige a legislação. Faltou até parecer técnico para atestar que as ONGs tinham experiência e idoneidade para o projeto”, afirmou.
Apesar de não divulgar oficialmente os nomes, a Polícia Civil confirmou que os alvos poderão responder por peculato, falsidade ideológica, fraude à execução de convênios e associação criminosa. A Operação Picadeiro segue em curso, e novas diligências não estão descartadas. O portal também procurou os demais envolvidos.