O QUE SE SABE?

“Queremos saber quem foi o culpado”, diz filha de vítima de acidente na BR-153

A idosa Aparecida Ribeiro, de 63 anos, é uma das seis vítimas fatais do acidente…

"Queremos saber quem foi o culpado", diz filha de vítima de acidente na BR-153 (Foto: Reprodução - Arquivo Pessoal)

A idosa Aparecida Ribeiro, de 63 anos, é uma das seis vítimas fatais do acidente de ônibus na BR-153, ocorrido na véspera do Natal (24), em Aparecida de Goiânia. Em entrevista ao Mais Goiás, a filha dela, Wylla Mara Ribeiro, disse que a família quer saber quem é o responsável pelo acidente. “A gente quer uma resposta. Imagino que não só eu e minha irmã, mas a família de todas as outras cinco vítimas, né? Porque todos nós fomos destruídos neste fim de ano e para toda a vida, porque sempre vai ficar faltando uma pessoa. A gente quer uma resposta de quem foi o culpado”, afirma Wylla.

A filha comentou sobre a dor de perder a mãe pouco tempo depois de também perder o pai, para a Covid-19. “Tá sendo difícil demais. Há 1 ano perdemos meu pai para a Covid e agora, perdemos minha mãe nesse trágico acidente. Estamos dormindo à base de remédios. Fiquei de quinta à noite até domingo sem comer e foi minha filhinha que me fez comer. Dói demais saber que ela nunca mais vai me ligar para ficar horas conversando. Queremos respostas”, desabafa.

Filhos de idosa que morreu em acidente com ônibus perderam pai há um ano para Covid

Filhos de idosa que morreu em acidente com ônibus perderam pai há um ano para Covid (Foto: Reprodução – Arquivo Pessoal)

Wylla também comenta o que acha que causou o acidente. Ela afirma que quando chegou ao local do acidente, na manhã de sábado (25), não havia boa parte da sinalização que há atualmente. “Eu fui lá em busca da minha mãe e todo aqueles cones que vocês vem agora, depois do local do acidente, não tinha! não tinha nem metade daquilo, não estava sinalizado. O carro da Triunfo estava sem o giroflex ligado. Ai você imagina, de noite, chovendo, a BR com postes desligados, sem sinalização….Era inevitável”, desabafa Wylla.

 

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O que se sabe sobre o acidente?

Freios com problema

O ônibus envolvido no acidente na BR-153 pertence à empresa Real Expresso. O veículo saiu de São Paulo, capital, e seguia para Brasília. Porém, por ser tratar de um trajeto longo, o ônibus parou em diversas cidades, onde permitiu a entrada de mais passageiros e realizou a troca de motoristas.

O condutor que dirigia o veículo no momento do acidente é Edimar Carlos da Mota. Ele assumiu a viagem na cidade de Uberlândia, em Minas Gerais, por volta das 19h30. Ao chegar em Goiânia, um outro motorista deveria assumir a viagem.

Em Araguari, Minas Gerais, Edimar se deparou com um problema nos freios do ônibus. Ele informou a situação através de um áudio enviado em um grupo da empresa Real Expresso. “Estou saindo de Araguari, Minas Gerais, seguindo para Brasília. Observação: Muita chuva e o carro está com problema de freio, freando só de um lado. A gente está indo no sapatinho para evitar transtornos maiores”, diz o motorista na mensagem.

Concessionária voltou atrás e diz que aguarda laudo técnico para executar desvio na BR-153 (Foto: Reprodução - TVAnhanguera))

Concessionária voltou atrás e diz que aguarda laudo técnico para executar desvio na BR-153 (Foto: Reprodução – TVAnhanguera))

Chuva e má sinalização

Ao chegar em Aparecida de Goiânia Edimar se deparou com dois novos problemas. Isso porque, segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) chovia muito no momento do acidente. O que, naturalmente, dificulta a direção dos veículos.

As chuvas fortes, inclusive, foram as responsáveis por abrir uma cratera em um trecho do KM-508 da BR-153, em Aparecida de Goiânia. O local está interditado desde o último dia 6 de dezembro. Por isso, nas proximidades há um desvio contingencial em razão de obras na pista.

Por motivos ainda investigados, na madrugada de sexta-feira (24), Edimar não notou a sinalização, invadiu a divisão entre as pistas da rodovia que está funcionando em sentido de mão dupla, bateu na lateral de uma viatura da concessionária Triunfo Concebra, que é a empresa responsável pela rodovia, e de frente contra uma carreta. Logo em seguida, o ônibus capotou e caiu de uma ribanceira.

O trânsito no local ficou interrompido das 2h às 12h. O ônibus foi retirado do córrego por volta de 10h30.

Vítimas

Segundo a Triunfo Concebra, concessionária que administra a rodovia, 46 pessoas estavam envolvidas no acidente, sendo seis mortos dentro do ônibus, cerca de 40 feridos dentro do ônibus e o motorista do caminhão ferido. Edimar também se feriu.

Um número incerto de vítimas com ferimentos leves foram encaminhadas ao Hospital de Urgências de Goiânia e ao Hospital Estadual de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol). Outros, foram para Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e outros para o Hospital Estadual de Aparecida de Goiânia Caio Louzada (HEAPA).

A idosa Sueli Ilário, de 68 anos, é uma das sobreviventes. Ao Mais Goiás, a irmã dela, Aparecida Ilário, disse que a Sueli decidiu viajar de última hora, pois estava com medo de acidentes. “Esse ano o natal vai ser diferente. Mas graças a Deus ela está viva, está bem. Só muito assustada ainda”, desafaba a irmã.

"Ela estava com medo de acidentes antes de ir", diz irmã de idosa que estava em ônibus

“Ela estava com medo de acidentes antes de ir”, diz irmã de idosa que estava em ônibus

Óbitos

Ao Mais Goiás, a Superintendência de Polícia Técnico-Científica informou que entre os óbitos reconhecidos estão Aparecida Ribeiro, Lourival José dos Santos, Maria Eunice da Silva Santos, José Joaquim Macedo Santos e Fabiana Tomussi Quirino Xavier. Há ainda a sexta vítima, que não teve a identidade revelada.

Wylla, filha de Aparecida, ficou durante o dia todo procurando pela mãe. Mas, somente na manhã do dia de natal (25), foi que recebeu a notícia de que o corpo de Aparecida havia sido encontrado no leito do Córrego Santo Antônio.

"Queremos saber quem foi o culpado", diz filha de vítima de acidente na BR-153

Aparecida Ribeiro, de 63 anos, morreu no acidente na BR-153. (Foto: Reprodução – Arquivo pessoal)

Investigação

Depois do acidente a Polícia Civil, por meio da Delegacia de Investigação de Crimes de Trânsito (Dict), esteve no local. O caso está sendo investigado pela delegada Adriana Fernandes.

Ainda na sexta-feira (24), peritos realizaram uma perícia no ônibus e na rodovia. De modo geral, estão sendo apuradas quais as possíveis causas do acidente, segundo a polícia. Entre as hipóteses estão: falha humana, falha mecânica, má sinalização e condições do tempo.

Acidente entre ônibus e caminhão termina com 5 mortos, em Aparecida (Foto: CBMGO - Divulgação)

Acidente entre ônibus e caminhão termina com 6 mortos, em Aparecida (Foto: CBMGO – Divulgação)

Falha humana

A Polícia Civil exigiu que a Real Expresso apresente explicações sobre o acidente envolvendo um ônibus da companhia. Segundo a delegada, a empresa deverá apresentar a cartela de horários do motorista Edimar. O objetivo é entender se o condutor do ônibus estava tendo excesso de carga de trabalho, em especial, durante o turno da noite.

A Real Expresso não deu explicações, até o momento da publicação desta reportagem, sobre esse assunto.

Falha mecânica

Um outro ponto analisado pela polícia é a possibilidade de falha mêcanica, por isso, pediu uma nova perícia no ônibus. Como mencionado, Edimar se deparou com um problema nos freios do ônibus e informou a situação através de um áudio enviado em um grupo da empresa Real Expresso. A delegada busca entender se a mensagem enviada pelo motorista chegou ao conhecimento de funcionários aptos a tomarem providências de segurança.

“Queremos saber se esse grupo é formado apenas por motorista. Tudo leva a crer que é um grupo com outros funcionários da empresa, aptos a tomar as atitudes corretas quando o motorista reclamou dos freios, aptos a interromper a viagem, fazer a troca do ônibus por outro e etc, providências que melhorassem a segurança da viagem”, declarou a investigadora.

Acidente na BR-153: ônibus caiu em ribanceira após colisão com caminhão e carro em Aparecida (Foto: Jucimar de Sousa – Mais Goiás)

Sobre isso a Real Expresso se manifestou. Segundo a companhia, o veículo envolvido no acidente não apresentou nenhum problema mecânico ou técnico, e já havia percorrido mais de mil quilômetros desde São Paulo, sem apresentar qualquer problema.

Ainda segundo a empresa, todos os veículos da frota são submetidos a um rigoroso programa de inspeção e de manutenção antes de todas as viagens, onde todos os itens de segurança são checados, como sistema de freios, pneus, luzes, sistemas de alarmes e controle de tração e frenagem, e somente são liberados para a viagem depois que a engenharia técnica libera.

A filha de Aparecida, Wylla, questiona. “Se sabia que estava com defeito no freio, porque não fez nada? Alguém tem culpa nisso. Essa falha foi crucial pro acidente acontecer”, indaga.

Má sinalização

A investigação também apura sobre a má sinalização na rodovia a respeito do desvio. A investigadora afirma que o local recebia sinalização com cones e a própria viatura que acabou envolvida no acidente. “A sinalização é importante. Sobretudo em uma rodovia deste porte”, aponta.

No entanto, o motorista do ônibus diz o contrário. Edimar alega que não havia nenhum tipo de sinalização quilômetros antes do acidente, que indicasse o desvio ou a interdição na rodovia. “Do nada só senti tumulto de cone, obra, caminhão parado e não vi sinalização pra trás. Aí senti o impacto. Pela minha experiência, sinalização deve ocorrer a cada quilômetro pra trás da obra e dessa vez não tinha. […]. Quando eu vi já tava em cima. desviei pra direita, que era onde tinha espaço sem gente trabalhando (sic)”, relatou o motorista.

A Real Expresso confirma a versão do motorista. A empresa afirma que a via não estava sinalizada e, por isso, o acidente aconteceu. A companhia nega que o veículo estivesse em velocidade acima da permitida.

“A causa do acidente foi a falta de sinalização adequada da pista, que encontrava-se bloqueada por conta de um buraco. A sinalização limitava-se à alguns cones muito próximos ao bloqueio sem qualquer informação anterior (200 metros) para o motorista que trafegava na rodovia. A Real Expresso informa ainda que o veículo estava respeitando os limites de tráfego”, disse em nota.

O que dizem os especialistas?

A sinalização do desvio no KM-508  deveria estar a, pelo menos, um quilômetro do trecho desviado, segundo as normas do Conselho Nacional de Trânsito (Contran). A análise foi feita pelo professor do Instituto Federal Goiano (IFG), especialista e engenheiro de trânsito, Marcos Rothen. “A área de advertência é uma área ou distância que antecede o local da interdição onde o motorista deve ficar atento e começar a diminuir a velocidade.”, afirma Marcos.

A Polícia Civil de Goiás investiga a causa do acidente.

A Polícia Civil de Goiás investiga a causa do acidente. (Foto: Jucimar de Sousa – Mais Goiás)

O que diz a Triunfo?

Em contra partida, a Triunfo Concebra, que é responsável pela rodovia, afirma que o local está devidamente sinalizado. No entanto, não respondeu sobre até onde ia a sinalização. A reportagem aguarda a resposta.

“A Triunfo Concebra reforça a recomendação aos motoristas que vão pegar a BR-153 saindo de Goiânia para destinos no sentido sul do estado ou mesmo aqueles que chegam à capital goiana, que redobrem a atenção ao passar pelo km 508. O local está sinalizado com painéis eletrônicos nas proximidades informando o desvio contingencial em razão de obras na pista, contando ainda com cones refletivos, dispositivos luminosos e diversas viaturas com sinalização intermitente para orientação e suporte aos usuários”, disse somente sem responder aos questionamentos.

Sobre a iluminação pública, a concessionária esclarece que a responsabilidade não compete à empresa. “A concessionária ainda lamenta o ocorrido e presta solidariedade aos envolvidos e às famílias”, diz a nota.

IML identifica quarta vítima fatal de acidente com ônibus na BR-153, em Aparecida - veja lista (Foto: Jucimar Sousa - Mais Goiás)

IML identifica vítima fatal de acidente com ônibus na BR-153, em Aparecida – veja lista (Foto: Jucimar Sousa – Mais Goiás)

Condições climáticas

Como já mencionado, chovia no momento do acidente. A Polícia Civil averigua também se somente essa circunstância seria capaz de causar o acidente.