“Reabrir comércio pode agravar situação que já está no limite”, diz infectologista
Retomada ideal das atividades comerciais exige, no mínimo, 35% dos leitos de UTI em Goiânia disponíveis. Atualmente, apenas 9 leitos estão vagos
O médico Boaventura Braz de Queiroz, referência em infectologia em Goiânia, afirma que a eventual reabertura total do comércio da Capital vai provocar aumento no número de casos de covid-19 e o agravamento da situação epidemiológica da cidade, que já é preocupante. Boaventura afirma que o momento exige cautela, já que a rede pública de saúde possui apenas 9 leitos de UTI disponíveis.
Estava prevista, para esta segunda-feira, a reabertura de shoppings, galerias, camelódromos, centros comerciais, setores varejista e atacadista, além de escritórios e consultórios onde atuam profissionais liberais. A autorização para estes segmentos do comércio abrir as portas caiu por força de uma liminar concedida pelo juiz Claudiney Alves de Mello por volta das 19 horas deste domingo.
Para o infectologista, o momento pelo qual Goiânia passa não é favorável à retomada das atividades comerciais. Ele ressalta que, mesmo com as medidas de segurança e higienização, a liberação do comércio apresenta perigo e “pode agravar uma situação que já está no limite”, principalmente por conta da falta de leitos de UTI para o tratamento do novo coronavírus.
O especialista alega que atualmente é preciso ter cautela. “Praticamente todos os leitos hospitalares e de UTI na rede pública estão esgotados. Isso significa que, se mais pessoas precisarem desse atendimento, não vão conseguir. O risco de morte por causa da falta de atendimento ficará mais acentuado com a volta do comércio”, disse.
O Mais Goiás apurou que, nesta segunda-feira (22), apenas 9 vagas de UTI estão disponíveis nos três hospitais na capital que realizam o tratamento da covid-19. A Maternidade Célia Câmara tem 48 leitos, sendo que apenas 5 estão livres. O Hospital das Clínicas (HC) possui 7 UTIs e nenhuma está disponível no momento. Já o Hospital Gastro Salustiano tem 24 leitos, mas somente 4 estão vagos. Os dados são do Painel de Regulação da Prefeitura de Goiânia.

No último dia 16 de junho, todos os leitos destinados para a covid-19 na capital estavam ocupados. Na última sexta-feira (20), data da publicação do decreto que permitia a flexibilização, a taxa de ocupação era de 95%.
Retomada ideal
O infectologista Boaventura Braz relata que, do ponto de vista científico, um cenário ideal para a volta das atividades comerciais exige, no mínimo, 35% dos leitos disponíveis. “Para que o comércio volte com menos impacto para a população, o ideal é que a taxa de ocupação dos leitos disponíveis seja de 65%. Assim, há possibilidade de eventuais internações e tratamento adequado”.
Segundo o especialista, a grande questão no momento é diminuir o risco de morte pela doença. “A gestão vai ter que reinventar o atendimento. Vai ter que buscar formas de conseguir ampliar os leitos e conseguir equipamentos como respiradores. Somente depois disso é possível pensar em uma flexibilização”, ressaltou.
Aglomeração
Boaventura salienta que a liberação de tais atividades aumenta consideravelmente a possibilidade de aglomeração. Segundo ele, o perigo não concentra-se apenas dentro dos estabelecimentos, mas, também, no deslocamento dos trabalhadores, principalmente daqueles que necessitam do transporte público para chegarem até o local de trabalho.
“É preciso levar isso tudo em consideração. O distanciamento nas lojas tem de ocorrer, mas é preciso pensar mais do que apenas dentro do estabelecimento. Tem pessoas que vão para o trabalho utilizando ônibus coletivo. Tudo isso precisa ser avaliado para minimizar o impacto da covid-19 na sociedade com essa liberação”, disse.
O infectologista não acredita que a fiscalização será suficiente para diminuir o contágio. “A fiscalização é uma forma de tapar o sol com a peneira. Primeiro porque é quase impossível fiscalizar minuciosamente todos os estabelecimentos e segundo porque parâmetro primordial para a liberação é a taxa de ocupação dos leitos. A discussão tem de começar por aí”.