CARA NOVA

Do lixão à Seleção Brasileira: conheça a trajetória de Alexsandro Ribeiro, zagueiro do Lille, convocado por Ancelotti

Cria da base do Flamengo, o defensor, que nunca atuou profissionalmente no Brasil, atua pelo time francês há três temporadas

Alexsandro Ribeiro, zagueiro convocado por Carlo Ancelotti
Foto: Lille OSC

Anunciada na tarde desta segunda-feira (26/05), a primeira lista de convocados do italiano Carlo Ancelotti à frente do comando técnico da Seleção Brasileira trouxe surpresas. Dentre elas, a maior, sem dúvidas, foi a presença do zagueiro Alexsandro Ribeiro, de 25 anos, que atua no Lille, da França. Esta foi a primeira convocação do defensor, que nunca jogou profissionalmente no futebol brasileiro.

Cria da base do Flamengo, Alexsandro atuou, no sub-17 do time carioca, ao lado de Hugo Souza e Vinícius Júnior, também convocados por Ancelotti. Juntos, conquistaram sete títulos pelo Rubro-Negro. Porém, os caminhos dos jogadores tomaram rumos diferentes. Enquanto Vini se tornou astro do Real Madrid e cotado como um dos melhores jogadores do mundo, o defensor chegou a ficar desempregado.

Ainda na base, Alexsandro também defendeu as cores do Resende, do Rio de Janeiro, após deixar o Flamengo. Mas seria na Europa que sua vida mudaria. Depois de quase um ano sem clube, o zagueiro recebeu uma oportunidade de atuar pelo Praiense, de Portugal, em 2019. À época, a equipe disputada a terceira divisão portuguesa. Por lá, se destacou e começou a alçar voos maiores.

Do Praiense, foi para o Amora e, na sequência, para o Chaves, ambos de Portugal. Em 2022-23, o Lille resolveu apostar na contratação de Alexsandro, que disputou 23 partidas e marcou três gols em sua temporada de estreia pelo clube francês. Pouco tempo após sua chegada, assumiu a condição de titular e fez parte da campanha que levou os Dogues de volta à Liga dos Campeões da Europa.

Em 2024-25, esteve em campo em 47 das 51 partidas que o Lille disputou na temporada. No período, balançou as redes uma vez e ainda contribuiu com três assistências para gols. Agora, se prepara para os jogos contra Equador e Paraguai, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo. A convocação foi festejada pelos Dogues nas redes sociais, que lembraram de outros atletas que defenderam o time e a Amarelinha.

“Se Ismaily foi convocado para a Seleção Brasileira (mas não para jogar) antes de seus anos no Lille, Michel Bastos, Dante, Gabriel (Magalhães) e Léo Jardim vestiram a camisa Auriverde depois de sua passagem pelo LOSC. Alexsandro é o primeiro jogador da história a se juntar à seleção brasileira sob contrato com o LOSC. O LOSC está orgulhoso de ver seu jogador dar esse novo passo em sua carreira e o parabeniza calorosamente pelo evento”, escreveu o Lille em seu site.

Trajetória de superações

Natural do Rio de Janeiro, Alexsandro Victor de Souza Ribeiro cresceu na Comunidade do Dique II, na cidade de Duque de Caxias, no interior do Estado. Irmão mais velho, o zagueiro foi “pai dos outros quatro irmãos” e enfrentou várias dificuldades durante a infância e a adolescência, como ter de lutar diariamente para ter o que comer.

Para ganhar dinheiro e sustentar os cinco filhos, a mãe de Alexsandro ia à “Rampa”, um dos grandes símbolos do lixão de Jardim Gramacho, em Duque de Caxias, para vender objetos. No mesmo lugar, o futuro defensor da Seleção Brasileira ganhava algumas roupas. Hoje zagueiro, ele também já atuou em obras, com corte de grama, como feirante e até catador de latinha. Tudo pela sobrevivência dos irmãos.

Sem espaço no Flamengo, Alexsandro optou por deixar o Rubro-Negro, seu clube de coração, e buscar um novo clube. No entanto, passou por uma jornada de muitas portas fechadas até chegar ao Praiense, em Portugal. Foram mais de 10 testes, incluindo Botafogo e Vasco. No Fluminense, chegou a permanecer por um tempo. Mas acabou sendo dispensado depois de dois meses.

No Tricolor Carioca, acabou conhecendo um verdadeiro “paizão” em seu carreira. O uruguaio Leo Percovich, treinador do sub-20 do clube na época, foi fundamental para que Alexsandro ganhasse uma novo oportunidade. Comandando o Resende, o técnico “convocou” o defensor, que aceitou o desafio de atuar no Alvinegro, seu trampolim para o futebol europeu e, consequentemente, para a Seleção Brasileira.