Rubro-Negro

Jesus tumultua Flamengo, gera suspeita política e pressiona Paulo Sousa

As declarações de Jorge Jesus ao colunista do UOL Esporte Renato Mauricio Prado sacudiram o…

Jorge Jesus, treinador do Flamengo
Declarações de Jorge Jesus não caíram bem no Flamengo e aumenta a pressão sobre atual treinador. Foto: Alexandre Vidal - Flamengo

As declarações de Jorge Jesus ao colunista do UOL Esporte Renato Mauricio Prado sacudiram o Flamengo e fizeram um velho fantasma voltar a assombrar um clube que busca dias de paz e estabilidade. Além disso, a diretoria suspeita de manobra política.

Ao afirmar que deseja voltar ao Fla e fixar uma data-limite para seu retorno, o treinador campeão da Libertadores e do Brasileirão colocou a direção contra a parede e, consequentemente, causou enorme desconforto para o atual comandante Paulo Sousa. O termo “confusão” foi o mais repetido entre membros da diretoria e caciques da política vermelha e preta.

As afirmações de JJ não foram bem digeridas por Marcos Braz, vice-presidente de futebol, que viu a manobra como espécie de “fogo amigo”. O dirigente, que tem boa relação com o treinador, ficou em uma saia justa após o episódio. Avalista do trabalho de Sousa, ele entende que eventual imposição do nome do campeão da Libertadores de 2019 significaria perda de prestígio.

Além disso, outros membros da diretoria rubro-negra veem uma manobra política por trás do lobby por Jesus. O jantar onde ele deu as declarações ocorreu na casa do ex-presidente Kleber Leite, que tem defendido nos bastidores a contratação do treinador. Só que Leite tem uma relação ruim com os atuais dirigentes e com o presidente Rodolfo Landim. Ele quase foi expulso do quadro social por conta das dívidas geradas em sua gestão na década de 90 – até hoje há uma ação na Justiça do Banco Central cobrando impostos não pagos pelo clube em sua época.

Para os cartolas da cúpula rubro-negra, Kleber tem como objetivo sair como o responsável pela contratação do técnico que é querido pela torcida. E, no futuro, o dirigente poderia faturar com essa contratação ou poderia desgastar a atual diretoria, acusando-a de não se esforçar para trazer de volta Jesus.

Por ora, uma substituição no comando não está em pauta. Braz e Spindel são defensores de Paulo Sousa. E dirigentes da cúpula do clube também se uniram na rejeição da ideia pela condução como foram feitas as declarações públicas de Jesus e pela participação de Leite no episódio.

A questão é que o posicionamento enfático de Jesus gera pressão externa de parte da torcida em favor do técnico. A depender do andar da carruagem, a pressão de torcedores e de integrantes da opinião pública pode tornar o ambiente do clube insustentável, especialmente se o time tiver dificuldades nas próximas rodadas.

Procurado pela reportagem, Braz não se manifestou até o fechamento desta reportagem, assim como Bruno Spindel, diretor de futebol rubro-negro. Ao colunista do UOL Esporte, Jesus questionou o “timing” da viagem da dupla para Portugal e deixou a cúpula em situação de fragilidade. Os dois evitam o embate franco, mas o entendimento é de que JJ fez suas escolhas ao optar pelo retorno ao Benfica pouco depois de renovar seu contrato em 2020.

“A conversa foi superficial e em momento algum me fizeram um convite ou, ao menos, me perguntaram se eu queria voltar. E aquele era um momento difícil, pois se eu pedisse demissão do Benfica, teria que pagar uma multa de 10 milhões de euros (cerca de R$ 52,9 milhões na cotação atual). Por isso, tinha sugerido que só viajassem para Portugal em final de janeiro, quando a situação seria mais fácil para negociar. Mas quiseram ir em dezembro e a sensação que tenho é que, quando me visitaram, já tinham tomado a decisão de contratar o Paulo Sousa. Foram apenas cumprir uma obrigação social comigo”, disse.

De fato, Braz e Spindel estavam inclinados por Sousa, porém a passagem de ambos pela capital portuguesa causou também desconforto para o Mister. Pressionado no Benfica, o técnico se viu em meio ao noticiário sobre a possível volta ao Rio de Janeiro. Sua situação foi se deteriorando e a queda foi selada dias depois. Há quem afirme que o caos provocado em Lisboa tenha motivado uma “doce vingança” de JJ agora.

Anfitrião do encontro, o ex-presidente, acusado por opositores de ser um dos maiores responsáveis pela dívida do clube, também não quis se manifestar. À reportagem, Kleber Leite enviou apenas um texto publicado em seu blog.

Amigo pessoal do técnico, o ex-dirigente nunca escondeu o desejo de ver o casamento reatado. Em seu artigo, ele explicou a reunião e pediu que os dirigentes considerem a possibilidade.

“Outro ponto que precisa ficar bem claro, pois pode haver alguém imaginando que, quando é tornado público que Jorge Jesus tem uma data para dar um novo rumo à sua vida profissional, haja a intenção de encostar os dirigentes do Flamengo na parede. Nada disso! Como qualquer ser humano que depende do seu trabalho há um limite para se esperar o emprego que o coração pede. Nada além disso! Enfim, como rubro-negro torço, sem nenhuma intenção em interferir, para que nossos dirigentes tenham sensibilidade em decidir, atentos ao momento único que pode definir o destino, feliz ou não, do nosso futebol”, escreveu Leite.

Virtualmente classificado às oitavas da Copa Libertadores e vivo na disputa do Brasileiro e da Copa do Brasil, o Rubro-Negro se vê novamente assombrado por Jorge Jesus, um fantasma que não para de rondar sobre o clube