ESTRANGEIROS

Governador do Texas envia 130 imigrantes à casa de vice-presidente dos EUA

Esta não é a primeira vez que a residência de Harris é o destino final de uma viagem involuntária de migrantes

Governador do Texas envia 130 imigrantes à casa de vice-presidente dos EUA
Governador do Texas envia 130 imigrantes à casa de vice-presidente dos EUA (Foto: Reprodução - Vídeo)

Mais de uma centena de imigrantes vindos do Texas chegaram no final de semana à porta da residência oficial da vice-presidente dos Estados Unidos, Kamala Harris, em Washington. Em um ônibus fretados pelo governador do Texas, o republicano Greg Abbott, cerca de 130 imigrantes — em sua maioria famílias com crianças — se juntaram aos milhares de enviados por Abbott a redutos democratas como Washington e Nova York nos últimos meses, em uma forma de protesto contra a política migratória do presidente Joe Biden.

Esta não é a primeira vez que a residência de Harris é o destino final de uma viagem involuntária de migrantes. No início de outubro, Abbott enviou um número similar de estrangeiros, em sua maioria venezuelanos, para a casa da democrata.

Desta vez, no entanto, as circunstâncias mudaram. Além da frente fria polar que atinge mais da metade do país, há ainda o adiamento da votação pela Suprema Corte do Título 42, uma norma adotada pelo governo de Donald Trump durante a pandemia que, alegando razões sanitárias, autoriza o Estado a deportar automaticamente e sem possibilidade de requerer asilo aqueles que cruzarem as fronteiras do Sul do país.

De maioria conservadora, a expectativa de é que o tribunal ceda à pressão dos estados republicanos, que querem que a medida continue em vigor, depois que uma ordem judicial expedida por um juiz federal de Washington considerou-a ilegal.

Temperaturas próximas aos -10ºC em El Paso, no Texas, transformaram as noites de quem busca asilo no estado republicano em um frigorífico a céu aberto. Mesmo diante do clima extremo, os imigrantes foram informados por voluntários que enfrentariam uma viagem até a capital federal.

ONGs que prestam assistência na fronteira coordenaram com parceiros em Washington o recebimento dos imigrantes, alguns vestindo apenas camisetas. De acordo com fontes da ONG SAMU First Response ouvidas pela Reuters, eles foram transferidos para uma igreja no bairro onde fica o Capitólio, sede do Congresso americano.

Abbott, crítico feroz do governo Biden, passou a recorrer a essa arma política juntamente com outros governadores republicanos, enviando milhares de pessoas para cidades governadas por democratas como Washington, Nova York e Chicago — consideradas, na teoria, refúgios para imigrantes, segundo definem as próprias autoridades locais.

Por meio da estratégia, os republicanos também pretendem acender o debate nacional sobre a imigração nos EUA. Na semana passada, outros nove ônibus chegaram da fronteira a Washington, muitos com equatorianos e colombianos, segundo a ONG SAMU First Response.

No entanto, as cidades democratas, por mais que se definam como portos seguros para imigrantes, lutam com outro problema em ascensão, sobretudo diante do frio extremo: ajudar também os milhares de desabrigados, muitos com transtornos mentais, que vivem nas ruas.

A falta de vagas em abrigos se tornou um desafio para Nova York após a chegada de mais de 21 mil imigrantes desde abril. O prefeito, o democrata Eric Adams, pediu ajuda ao governo federal para responder à emergência, que poderia sair de controle caso a Suprema Corte pusesse um fim definitivo ao Título 42, a chave para a deportação quase automática.

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No início de outubro, o prefeito de Nova York declarou estado de emergência devido ao grande fluxode imigrantes. Em novembro, ele ampliou a rede de recursos para os recém-chegados, com a criação de oito centros para requisição de asilo ou obtenção de itens essenciais para a circulação pela cidade (como os cartões usados no transporte público, por exemplo).

Em um movimento criticado por opositores, Adams abriu e depois fechou em poucas semanas um controverso acampamento na Ilha Randalls, ao norte de Manhattan, com capacidade para mil camas e que teoricamente deveria abrigar homens viajando sozinhos.

Os poucos moradores do local foram realocados para um antigo hotel convertido em abrigo no centro de Manhattan — o mesmo sistema usado durante a pandemia para abrigar sem-teto e que se revelou insuficiente e disfuncional, segundo ONGs de direitos humanos.

Diante de uma dupla crise habitacional, com desabrigados e imigrantes precisando ser acomodados ao mesmo tempo, a Prefeitura de Nova York pediu às igrejas, templos e sinagogas que ajudassem a abrigar os requerentes de asilo. Um comissário da prefeitura esteve em locais de culto religioso há dez dias para “garantir um espaço com banheiro e cozinha onde uma família ou indivíduos solteiros possam dormir à noite ou viver temporariamente”.