Israel invade Cisjordânia com tanques pela primeira vez em mais de 20 anos
Operação militar de Israel desocupa campos de refugiados, e ministro da Defesa descarta retorno de 40 mil palestinos deslocados

(Folhapress) As Forças de Defesa de Israel enviaram tanques para a Cisjordânia, expandindo sua operação na área de Jenin. As informações são do periódico Times of Israel.
É a primeira vez desde a Operação Escudo Defensivo, uma campanha israelense semelhante no mesmo território em 2002, que tanques das forças israelenses estão operando na Cisjordânia.
Tropas da Brigada de Infantaria Nahal e da Unidade de Comando Duvdevan começaram operações em várias vilas perto de Jenin neste domingo (23), de acordo com os militares. Ao mesmo tempo, um pelotão da 188ª Brigada Blindada está se preparando para operar em Jenin, ainda de acordo com informações do jornal. Jenin é uma das maiores cidades da Cisjordânia, com cerca de 50 mil pessoas.
Também neste domingo, o ministro da Defesa, Israel Katz, anunciou que o Exército israelense esvaziou três campos de refugiados no norte da Cisjordânia ocupados e que tinha ordens de não permitir que moradores retornassem.
“Quarenta mil palestinos já deixaram dos campos de refugiados de Yenín, Tulkarem e Nur Shams, e esses campos estão agora vazios”, afirmou Katz em um comunicado.
Segundo Katz, a instrução dada aos soldados é que se preparem para uma estadia prolongada nos campos desocupados durante o próximo ano, e que não permitam o retorno de seus habitantes, acrescentou.
As movimentações israelenses vêm ocorrendo na Cisjordânia desde meados de fevereiro e, de acordo com Tel Aviv, têm como objetivo eliminar grupos terroristas armados. Mas palestinos temem que seja uma tentativa velada de deslocá-los permanentemente de suas casas e exercer maior controle sobre áreas administradas pela Autoridade Palestina.
A ação faz parte do objetivo militar do gabinete de segurança do governo de Binyamin Netanyahu, algo visto como uma concessão do premiê aos setores de ultradireita religiosa que o apoiam, mas estão insatisfeitos com o cessar-fogo na guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza.
A retirada de 40 mil habitantes dos campos de refugiados na Cisjordânia acontece em um contexto de grande tensão sobre o cessar-fogo entre Israel e Hamas.
O grupo terrorista armado acusa Tel Aviv de colocar a trégua em Gaza em perigo ao bloquear a libertação de prisioneiros palestinos. Neste sábado (22) o Hamas entregou de volta a Israel uma nova leva de seis reféns. Assim como em libertações anteriores, os exibiu em um palco antes de entregá-los ao Comitê Internacional da Cruz Vermelha, situação que já havia sido criticada pela organização, pela ONU e por Israel.
A troca previa a libertação de 620 prisioneiros palestinos, mas Netanyahu anunciou neste domingo que essa etapa não vai acontecer “até que se assegure a próxima libertação de reféns aconteça sem cerimônias humilhantes”.
O Hamas pediu aos mediadores internacionais, em particular os Estados Unidos, que pressionem Israel para cumprir sua parte do acordo.
A primeira fase do cessar-fogo, que entrou em vigor em 19 de janeiro após mais de 15 meses de guerra, termina no dia 1º de março sem que os termos da segunda fase tenham sido negociados.
Dos 251 sequestrados em 7 de outubro, 62 continuam em cativeiro em Gaza, dos quais 35 estariam mortos, segundo o exército israelense. Desde que a trégua entrou em vigor, 29 reféns israelenses (quatro deles mortos) foram entregues a Israel, em troca de mais de 1.100 detentos palestinos.