Eleições 2020 | Segundo Turno

Urnas dirão se Goiânia vai manter tabu de eleger prefeitos adversários ao governo

Goiânia foi uma das capitais brasileiras que decidiu levar a decisão de saber quem será…

Goiânia pode manter tabu de eleger prefeito sem alinhamento político com governador
Goiânia pode manter tabu de eleger prefeito sem alinhamento político com governador

Goiânia foi uma das capitais brasileiras que decidiu levar a decisão de saber quem será o chefe do Executivo Municipal nos próximos quatro anos para o segundo turno, que será realizado no próximo domingo (29). Com isso, 971.221 eleitores podem manter ou desmitificar um tabu curioso: desde a redemocratização, nenhum dos prefeitos eleitos pelo voto popular foi alinhado politicamente com o governador do Estado.

Atualmente, o candidato do governador Ronaldo Caiado (DEM) é Vanderlan Cardoso (PSD), que não conseguiu a dianteira no primeiro turno e configura a última colocação em todas as pesquisas do segundo turno. Maguito Vilela (MDB) é o representante da oposição.

Em um rápida busca histórica, vemos que em 2016 Iris Rezende (MDB) foi eleito prefeito e que, na época, enfrentava Vanderlan Cardoso – que fora apoiado pelo então governador Marconi Perillo (PSDB). Em 2012, Paulo Garcia (PT) foi reeleito pela população e, mais uma vez, era o candidato opositor a Marconi. Quatro anos antes, a capital preferiu Iris, consagrando-se – mais uma vez – oposição ao governador.

Em 2004, o governo do PSDB queria a eleição de Pedro Wilson (PT) para o Executivo Municipal, mas Iris foi o preferido e teve sua redenção após perder o Senado para Demóstenes Torres e Lúcia Vânia. Esta mesma, inclusive, era a preferência do governo para a prefeitura da capital em 2000, mas sequer foi para o segundo turno.

A mesma lógica foi notada na eleição de Nion Albernaz e Luiz Bittencourt, em 1996; de Darci Accorsi sobre Sandro Mabel, em 1992 e na eleição do primeiro prefeito eleito após redemocratização, Daniel Antônio. Um fato também chama muito atenção: a prefeitura de Goiânia sempre esteve nas mãos do MDB e PT enquanto o governo do estado sempre triunfou sobre o PSDB.

O Mais Goiás decidiu ouvir Itami Campos, Marcos Marinho e Pedro Célio. Os três são cientistas políticos e deram seus respectivos pontos de vistas sobre essa situação, no mínimo curiosa, que se formou durante mais de 30 anos na nossa capital.

Por que Goiânia sempre elege prefeitos que são oposições aos governadores?

Itami Campos

[olho author=””]Eu acho que o eleitorado goianiense é menos conservador que o eleitorado goiano de modo geral. E, então, há uma certa resistência dos governadores se satisfazerem na capital. Mesmo com um bom trabalho que Marconi Perillo realizou na capital, nunca conseguiu eleger nenhum prefeito. Nion, que foi eleito prefeito de Goiânia pelo MDB, desenvolveu um trabalho diferente em Goiânia e notamos que poucas cidades no Brasil teve o PT a tanto tempo à frente de um cargo. Em Goiânia, a vitória desse partido é muito expressiva. Então, nota-se que há um certo oposicionismo presente no eleitorado da capital.[/olho]

Goiânia pode manter tabu de eleger prefeito sem alinhamento político com governador

Itami Campos (Foto: Arquivo Pessoal)

Marcos Marinho

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É uma situação muito complexa para se determinar um motivo específico, mas a que mais parece plausível é que a disputa regional se baseia em um grupo que domine todas as cabeças da região, seja ela falando de capital ou Estado. Qualquer partido terá dificuldade de monopolizar estado e capital, como acontece em São Paulo. Sempre é o PSDB e MDB. São dois núcleos de poder que, de forma pragmática, se acirraram nessas disputas para reforçar um lado visando o próximo pleito. Por exemplo, quem perde no Estado desenvolve um trabalho para que este mesmo grupo vencedor não domine a capital.

No caso do PSDB foi o marconismo, que teve início em 1998. Desde então, o MDB e o PT sempre fizeram a oposição. Agora que o cenário deu uma mudada pelo fato da perda da força do PSDB por causa de 2018. Tanto que o resultado do candidato do partido foi vergonhoso nessas eleições. Apesar do cenário ainda caminhar devagar, a situação está se costurando para 2022. PSDB ainda vai ter que lutar muito para se restabelecer. O PT também vai ter que trabalhar para acabar – ou ao menos diminuir – o antipetismo. MDB será um grande opositor de Caiado em 2022, já que ele tirou o Vanderlan do pleito e o deixou bem enfraquecido, mesmo com o seu apoio para a prefeitura de Goiânia e a possível perda dele nessas eleições – como as pesquisas indicam. Vanderlan não sairá do Senado para disputar um novo governo em 2022 já que poderá pegar muito mal para ele.

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Pedro Célio

[olho author=””]Por mais que a evidência empírica constate esta observação, eu desconheço explicação baseada em padrões de comportamento político que correspondam a essa “tradição”. Nós temos dois exemplos para essa ausência de padrão: num deles, a composição das câmaras de vereadores nem sempre seguem a linha do oposicionismo verificado na eleição para prefeito; no outro, também os resultados para pleitos a governador a senador, em que os candidatos do poder estadual saem bem votados em Goiânia. Enfim, eu prefiro tratar diferenciadamente cada eleição e nela investigar os condicionantes internos e externos à cidade que influenciam e ajudam a entender os resultados.  [/olho]

 

Qual o impacto desse desalinhamento político para o desenvolvimento da cidade?

Itami Campos

[olho author=””]Uma coisa é que a característica de Goiânia é que, desde a inauguração da cidade, o governo estadual sempre teve muita participação. Até a década de 1950, a administração municipal era subordinada ao governo do Estado. Foi quando Mauro Borges ganhou como governador de Goiás que a administração de Goiânia se tornou autônoma, já sobre regime de Hélio Seixo de Brito. Mas a gente sabe que o mundo político vive de parcerias e, apesar de opositores, quando um partido ganha, o político sempre se alinha para tentar alguns acordos para dar continuidades a certas obras na cidade. Isso não é incomum. Há desacordos e há problemas. E isso faz parte do jogo histórico de condições. Seja para o prefeito conseguir algo com o governador ou o governador conseguir algo com o presidente da República. Isso está no federalismo brasileiro.[/olho]

Marcos Marinho

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Essa é uma questão sensível. Há um desalinhamento entre o governador, o presidente e o prefeito que resulta no represamento de recursos. Isso é até comum para que haja a desestabilização do candidato para que o grupo político do adversário tente assumir o cargo. Neste caso, Goiânia é a vitrine porque o governador está na capital e a base dele também está aqui. Se ele tentar dificultar as coisas para o prefeito, pode ser que seja um tiro no próprio pé. Se o prefeito tiver uma boa estrutura de comunicação, ele consegue jogar toda essa conta no governo estadual.

O eleitor já está entendendo que o ente maior tem mais recursos, ou seja, a linha segue sendo presidente – governador – prefeito. Nessa pandemia a gente viu muito isso. Enquanto o presidente insistia em não acreditar na pandemia, muitos governadores foram contra a ele. E isso fez com que a popularidade desses políticos até saltassem nesse período. Mas é claro que se um prefeito eleito foi alinhado político doo governador, as coisa fluem melhor por ter menos entraves.

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Goiânia pode manter tabu de eleger prefeito sem alinhamento político com governador

Marcos Marinho (Foto: Arquivo Pessoal)

Pedro Célio

[olho author=””]Do ponto de vista prático, essa fator acaba não sendo decisivo, pois assim que o prefeito toma posse, ele é impelido pelas imposições de natureza administrativa da gestão. As diferenças políticas entre os comandantes dos dois níveis interferem pouco ou quase nada nas rotinas da prefeitura, pois a estrutura de repasse de recursos, da responsabilidade fiscal e a própria vigilância democrática dos órgãos de controle e da opinião pública tendem a atuar como vetores republicanos, ademais de serem cada vez melhor estruturados. [/olho]

 

Goiânia pode manter tabu de eleger prefeito sem alinhamento político com governador

Pedro Célio (Foto: Arquivo Pessoal)