INVESTIGAÇÃO

CPI quer começar por Pazuello, vacinas, dados do TCU e remédios sem eficácia

A maioria dos membros da CPI da Covid trabalha para que os primeiros requerimentos sejam…

Senadores da CPI querem convocar intermediário que negociou Coronavac com Pazuello
Senadores da CPI querem convocar intermediário que negociou Coronavac com Pazuello (Foto: Marcello Camargo/ Agência Brasil)

A maioria dos membros da CPI da Covid trabalha para que os primeiros requerimentos sejam para convocar três ex-ministros e buscar por material do Ministério Público Federal (MPF) e do Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a atuação do governo no combate à pandemia.

As prioridades das sessões iniciais da comissão devem ser as convocações de Eduardo Pazuello, que era responsável pelo Ministério da Saúde, Ernesto Araújo, que chefiava a pasta das Relações Exteriores, e Fernando Azevedo, que comandou a Defesa. Senadores também discutem a convocação do atual ministro da Saúde, Marcelo Queiroga. A compra de vacinas também está na mira desse começo de trabalho da comissão.

A primeira reunião deve ocorrer na próxima quinta-feira (22). A ideia dos parlamentares é ainda mapear logo no começo as ações do Executivo na aquisição de remédios para tratamento precoce, como a hidroxicloroquina, para verificar quanto de dinheiro público foi usado na compra de medicamentos sem eficácia comprovada.

​Outro objetivo de membros da oposição e dos independentes nas primeiras semanas é tentar comprovar que o Planalto agiu de maneira deliberada em busca da denominada “imunidade de rebanho”, na contramão da orientação de especialistas na área.

Além de investigar a condução de Bolsonaro no enfrentamento do coronavírus, a comissão deverá colher depoimento de instituições da sociedade civil, como planos de saúde e algumas associações médicas, que também estimularam o uso de remédios que não têm comprovação científica.

Vacinas

Em outra frente, os senadores pretendem investigar o motivo para o governo brasileiro ter rejeitado a compra de 70 milhões de vacinas da Pfizer em 2020, conforme mostrou a Folha, quando o imunizante ainda estava em desenvolvimento.

Parlamentares que apoiam o governo já planejam estratégias para evitar que o trabalho da comissão atinja o Palácio do Planalto. A oposição, porém, deve ter a ajuda dos chamados independentes para intensificar a investigação sobre as ações do Executivo e os motivos para o país ter ultrapassado a marca de 360 mil mortos pela Covid-19.

O mais provável é que a comissão trabalhe de maneira mista, com reuniões presenciais quando tiver depoimentos importantes e votação de requerimentos mais sensíveis, além de encontros remotos para discussões mais técnicas.

Na próxima quinta, os senadores devem fazer a primeira reunião para eleger o presidente e o vice e designar o relator da comissão.

A tendência é que o senador Omar Azis (PSD-AM), que tem apoio do governo, ocupe a presidência. Para relatoria, o nome mais forte é o de Renan Calheiros (MDB-AL), mas o Palácio do Planalto tenta evitar que ele assuma a função.

Depois de instalada, a comissão deve aprovar um cronograma de trabalho, que geralmente é apresentado pelo relator.

A convocação de ex-ministros na comissão é considerada essencial pelos senadores. O governo, porém, teme que a participação deles possa desgastar a imagem do governo.

Personagens

Eduardo Pazuello deve ser questionado sobre a compra de remédios que compõem o tratamento precoce e sobre os indícios de que soube antecipadamente da iminência do colapso do sistema de saúde de Manaus no início do ano e não atuou para reduzir seu impacto.

Ernesto Araújo, por sua vez, é considerado um ator importante para esclarecer as negociações do Brasil com governos de outros países e multinacionais em relação à compra de vacinas e insumos como agulhas e seringas.

Já Fernando Azevedo deve ser convocado por causa da atuação do Exército na produção da cloroquina.

O senador Humberto Costa (PT-PE), que é um dos 11 membros titulares da CPI, afirma que o requerimento para ter acesso a todos os processos em curso em órgãos como MPF e TCU sobre a atuação do governo deve ser um dos primeiros a ser votado.

O petista afirma que, além de investigar o que o governo já fez ou deixou de fazer para enfrentar a doença, a comissão também pressionará o Executivo a tomar providências para reduzir os números da pandemia no Brasil.

Para isso, ele defenderá que a convocação do atual ministro seja prioridade do colegiado.

“A CPI é um instrumento importante para cobrar que o governo cumpra com a sua responsabilidade. Queremos saber o que está sendo feito para garantir a ampliação da vacinação, para assegurar medicamentos necessários para intubação de pacientes, para aumentar o número de leitos hospitalares e para promover o isolamento social”, diz.

Técnicos do TCU (Tribunal de Contas da União) recomendaram a aplicação de multa ao ex-ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello, pela falta de gestão de medicamentos e insumos para a Covid-19.

A orientação enviada aos ministros do tribunal também pede a mesma penalidade ao ex-secretário-executivo Élcio Franco Filho e ao secretário de Ciência, Tecnologia, Inovação e Insumos, Hélio Angotti Neto.

Como mostrou a Folha, o Ministério Público Federal investiga supostas irregularidades nos preços pagos pelo Ministério da Saúde em contratos para a compra de máscaras durante a pandemia. Entre as máscaras do tipo cirúrgico, principal modelo escolhido, a variação chegou a 116%. Um segundo modelo comprado, a KN95, custou até 783% a mais.

O ministro Luís Roberto Barroso, do STF (Supremo Tribunal Federal), mandou o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), instalar a CPI da Covid em 8 de abril. Seis dias depois, o plenário do STF confirmou a decisão do ministro.

A decisão representa uma derrota para o presidente Jair Bolsonaro, que trabalhou para evitar a instalação da comissão, e reforçou a pressão sobre o Senado.

Após a ordem judicial de Barroso, Bolsonaro mobilizou sua base aliada e conseguiu ampliar o objeto da CPI para que também apure os repasses do governo federal a estados e municípios, o que dilui a pressão de uma investigação focada apenas no Palácio do Planalto.

O requerimento de criação da CPI foi lido na terça-feira (13) por Rodrigo Pacheco.

A decisão do plenário do Supremo foi recebida pelos senadores como uma pressão contra eventuais medidas que busquem retardar a comissão.

A crise política desencadeada com a decisão de Barroso foi ampliada após Kajuru divulgar um diálogo que teve com Bolsonaro por telefone em que o tema era o assunto entre os dois.

Na ligação, o presidente pressiona o senador para ampliar o objeto da CPI e pede para o parlamentar também pedir ao Supremo que seja determinada a abertura de impeachment contra ministro da corte no Senado.

Não é a primeira vez que o STF determina a instalação de CPIs a pedido da oposição. Em 2005, o Supremo mandou instaurar a dos Bingos, em 2007, a do Apagão Aéreo, e, em 2014, a da Petrobras.