Meio Ambiente

Governo prepara incentivo para biocombustíveis

As ações do Brasil para cumprir as metas climáticas acertadas na COP 21, realizada no…

As ações do Brasil para cumprir as metas climáticas acertadas na COP 21, realizada no ano passado em Paris, começam a tomar forma. O País se comprometeu a cortar em 43% as emissões de gases do efeito estufa (GEEs) até 2030, tendo como base as emissões de 2005. Uma das propostas envolve biocombustíveis, principalmente o etanol, e deve integrar o RenovaBio, programa do governo federal lançado esta semana que pretende impulsionar a produção de combustíveis não fósseis.

A ideia é fixar um limite para o lançamento de poluentes na atmosfera e, a partir daí, aumentar o uso de fontes renováveis para que o teto de emissões, calculadas em toneladas de gás carbônico equivalente, seja respeitado.

Na última terça-feira, a presidente da União da Indústria de Cana de Açúcar (Unica), Elizabeth Farina, disse, no evento realizado no Ministério de Minas e Energia (MME), em Brasília, que o modelo apresentado pelo setor sucroenergético prevê que os agentes privados tenham metas individuais, não podendo ultrapassar o teto de emissões definido pelo governo. “As empresas distribuidoras (de combustíveis) terão de, gradativamente, ampliar a participação do etanol em relação à gasolina, de forma a cumprir suas metas anuais”, afirmou.

Inspirado em projetos já adotados nos Estados Unidos, como o Renewable Fuel Standard (RFS), esse programa de controle de emissões valeria para o volume de biocombustíveis destinado à frota de veículos leves, o que inclui motocicletas, automóveis e caminhonetes. Assim, para que as emissões desses veículos se reduzam ao longo dos anos, mais etanol terá de ser distribuído pelas companhias.

“Esse mecanismo inclui vários tipos de energia renovável e outras que possam surgir daqui para a frente. Além disso, teríamos metas anuais ou bianuais (de redução de emissões de GEEs). Trata-se do método menos intervencionista”, explicou Elizabet ao Broadcast Agro, serviço de notícias do agronegócio em tempo real do Grupo Estado. A intenção é que a proposta entre em vigor em 2019, após toda a tramitação do RenovaBio.

Sustentabilidade. Ainda em fase de elaboração, o RenovaBio é um programa do governo federal que tem como horizonte o ano de 2030. Entre as premissas do projeto está a definição do papel dos biocombustíveis na matriz energética e das regras de comercialização desses produtos, além do apelo à sustentabilidade ambiental e ao desenvolvimento de novas tecnologias renováveis. O RenovaBio receberá propostas até o fim do ano, vai para consulta pública no primeiro trimestre de 2017 e deverá ser encaminhado como projeto de lei entre 2017 e 2018.

Representantes do setor sucroenergético chegaram a se reunir com o presidente Michel Temer na terça-feira passada para discutir o programa e apresentar a proposta que liga emissões de GEEs aos volumes de uso de biocombustíveis.

Para o ministro de Minas e Energia, Fernando Coelho Filho (PSB-PE), que participou do encontro, a cadeia produtiva de açúcar e etanol foi “uma das que mais sofreram nos últimos anos” em razão de políticas energéticas que acabaram por privilegiar a gasolina. “Nosso tempo é muito curto para olhar para trás. Temos de pensar em uma agenda para o País, para o meio ambiente, para o setor sucroenergético. Temos de iniciar uma nova fase.” Segundo ele, o objetivo com o RenovaBio é “melhorar a integração entre o governo e o setor privado”.

Investimentos. A boa relação entre essas partes é de vital importância para que o Brasil cumpra suas promessas. De acordo com a Unica, o País terá de produzir 50 bilhões de litros de etanol carburante em 2030 – hoje, esse volume é inferior a 30 bilhões de litros. Para que essa expansão ocorra, a entidade avalia que será necessário construir 75 unidades produtoras de álcool, considerando uma moagem média, por usina, de 3,5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por safra. Ao todo, o investimento seria de US$ 40 bilhões.

Na avaliação do governo, o controle de gastos pelos próximos 20 anos, estipulado pela proposta de emenda constitucional (PEC) aprovada nesta semana, não deve ter efeito sobre o RenovaBio. Ao Broadcast Agro, o diretor do Departamento de Biocombustíveis do MME, Miguel Ivan Lacerda, salientou que o programa não prevê transferência de recursos e, por essa razão, não seria prejudicado pela limitação dos gastos públicos. “O RenovaBio é uma sinalização para o mercado e pode se tornar a grande agenda microeconômica do governo.”