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Petrobras diz não ter definição sobre vale-gás prometido por Bolsonaro

Após o presidente Jair Bolsonaro dizer que a Petrobras tem um plano para reduzir o…

Petrobras anuncia nova redução no preço do gás de cozinha para as distribuidoras
Petrobras anuncia nova redução no preço do gás de cozinha para as distribuidoras (Foto: Reprodução - Prefeitura de Goiânia)

Após o presidente Jair Bolsonaro dizer que a Petrobras tem um plano para reduzir o custo do botijão de gás para a população de baixa renda, a empresa afirmou em nota que “não há definição” quanto a programas do tipo e que qualquer projeto dependeria de aprovação pela área de governança da companhia.

O estatuto da estatal a proíbe de financiar políticas públicas que gerem prejuízo às suas operações. Segundo o texto, a participação em investimentos ou a concessão de subsídios não lucrativos depende do estabelecimento de contrapartidas financeiras.

Na sexta (30), em entrevista ao Programa do Ratinho, do SBT, Bolsonaro disse que a Petrobras tem “uma reserva de aproximadamente R$ 3 bilhões para atender realmente esses mais necessitados”. “Seria um vale-gás, seria o equivalente —no que está sendo estudado até agora— a um bujão de graça a cada dois meses”, afirmou.

Desde o início do governo Bolsonaro, o preço do gás de cozinha vendido pela Petrobras acumula alta de 66%, reflexo da desvalorização cambial e de uma mudança na política de preços da estatal, que deixou de subsidiar o produto vendido para envase em botijões de 13 quilos.

Na semana passada, segundo a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás e Biocombustíveis), o botijão custava, em média no país, R$ 92,79. Em alguns locais, a pesquisa da agência encontrou o produto sendo vendido por R$ 130.

A escalada, que atinge de maneira mais forte a população de baixa renda, vem tendo impacto na popularidade do presidente, que isentou o produto de impostos federais, mas sem grande efeitos sobre os preços.

Na nota divulgada no sábado (31), a Petrobras indica que os R$ 3 bilhões citados por Bolsonaro referem-se aos dividendos que a empresa distribuiu ao governo pelos lucros realizados no ano. Ao todo, disse a companhia, foram distribuídos R$ 10,3 bilhões durante o ano.

Mas afirmou que, embora contribua com discussões sobre eventuais programas voltados a famílias vulneráveis, “não há definição quanto à implementação e o montante de participação em eventuais programas”.

A Petrobras defendeu ainda que manterá sua política de acompanhamento das cotações internacionais, criticada por sindicatos, partidos de oposição e por caminhoneiros, que sofrem com a disparada do preço do diesel, mas apoiada pelo mercado financeiro e pela área econômica do governo.

O descontentamento com a elevação dos preços levou Bolsonaro a demitir, em fevereiro, o ex-presidente da Petrobras Roberto Castello Branco, que comandava a estatal desde o início do governo, por indicação do ministro da Economia, Paulo Guedes.

Seu substituto, o general Joaquim Silva e Luna, assumiu sob expectativa de recuo na política de preços, mas até o momento vem seguindo as cotações internacionais, embora com uma frequência de reajustes menor do que a praticada por seus antecessores.

Empresas do setor veem como solução a instituição de um subsídio direcionado à população de baixa renda, nos moldes do vale-gás citado por Bolsonaro, que teria maior impacto social do que o corte dos impostos federais para todos os consumidores.

O tema tem gerado debates no Congresso, diante de notícias sobre o aumento do uso de lenha ou carvão para cozinhar alimentos por dificuldade para adquirir o gás de cozinha em um cenário de desemprego e alimentos também em alta.

Na entrevista ao SBT, Bolsonaro atribuiu os altos preços do gás de cozinha no país à cobrança do ICMS por governadores, à margem de lucro dos vendedores e ao custo do frete. Mesmo discurso adotado quando o assunto é a alta de outros combustíveis, como gasolina e diesel.

A crítica encontra eco entre os revendedores de botijão. “Alguns estados estão exagerando no apetite da arrecadação de ICMS sobre o gás de cozinha!”, escreveu em suas redes sociais nesta segunda (2) a Abragás (Associação Brasileira das Entidades de Classe de Gás LP).

Os estados defendem que o valor do ICMS apenas acompanha a alta nas bombas e que a responsabilidade pelos aumentos é da política de preços da Petrobras.