CPI DA COVID

Pfizer diz que governo Bolsonaro ignorou cinco ofertas de vacina em 2020

Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (13), o gerente-geral da Pfizer na América…

Representante da Pfizer, Carlos Murillo, na CPI da Covid no Senado (Foto: Reprodução)
Representante da Pfizer, Carlos Murillo, na CPI da Covid no Senado (Foto: Reprodução)

Em depoimento à CPI da Covid nesta quinta-feira (13), o gerente-geral da Pfizer na América Latina, Carlos Murillo, afirmou que a empresa fez em 2020 ao Brasil ao menos cinco ofertas de doses de vacinas contra o coronavírus e que o governo ignorou proposta para comprar 70 milhões de unidades do imunizante.

Murillo disse à comissão que, se o contrato com a empresa tivesse sido assinado pelo governo federal em agosto do ano passado, o Brasil teria disponíveis 18,5 milhões de doses da vacina até o segundo trimestre deste ano.

O Ministério da Saúde só firmou acordo com o laboratório em março deste ano, em que adquiriu 100 milhões de doses, das quais 14 milhões devem ser entregues neste segundo trimestre, e os 86 milhões restantes, no terceiro trimestre.

As falas do representante da Pfizer confirmam o que foi dito um dia antes na comissão pelo ex-secretário Fábio Wajngarten (Comunicação), segundo o qual o Brasil deixou parada a negociação com o laboratório durante dois meses.

Senadores do grupo majoritário da CPI e integrantes da equipe do relator Renan Calheiros (MDB-AL) avaliam que o depoimento foi importante e atesta inanição por parte do governo de Jair Bolsonaro.

Segundo Carlos Murilo, as negociações começaram em maio e, em agosto, foi feita a primeira oferta para compra de 30 milhões ou de 70 milhões de doses, ignoradas pelo Executivo, como mostrou a Folha no início de março deste ano.

Em oitiva na CPI, o representante da Pfizer construiu uma linha do tempo. Segundo ele, após ter iniciado as conversas com o Brasil em maio, a primeira oferta ocorreu em 14 de agosto.

Depois, o laboratório fez mais duas ofertas, em 18 de agosto e 26 de agosto. Nas três foram feitas propostas separadas de entregas de dois quantitativos: 30 e 70 milhões de doses para entrega parcelada até o final de dezembro de 2021.

“A proposta de 26 de agosto tinha validade de 15 dias. Passados 15 dias, o governo não rejeitou e nem aceitou a oferta”.

As duas ofertas previam que ao menos 1,5 milhão de doses chegariam ao Brasil em dezembro de 2020. Como a oferta foi ignorada, segundo Murillo, em novembro as negociações foram retomadas com mais duas propostas.

Desta vez, só estava na mesa a possibilidade de compra de 70 milhões de doses e não havia mais a chance de alguma vacina da Pfizer chegar ainda em 2020. O Brasil receberia 8,5 milhões de doses nos dois primeiros trimestres.

CONVOCADOS NA CPI DA COVID

  • Presidente da Pfizer no Brasil (quinta-feira, 13.05)

  • Ernesto Araújo (terça-feira, 18.05)

  • ​General Eduardo Pazuello (quarta-feira, 19.05)

Já em 2021, a Pfizer fez nova oferta em 15 de fevereiro. Só havia uma proposta na mesa, para a compra de 100 milhões de doses. Mais uma vez, o governo não fechou o acordo.

Em 8 de março deste ano, de acordo com o representante da farmacêutica, foi feita mais uma oferta, semelhante à de fevereiro, para a entrega de 100 milhões de doses, sendo 14 milhões no segundo trimestre de 2021 e mais 86 milhões no terceiro trimestre –esta foi aceita pelo Brasil.

Murillo disse que só ficou confiante com o fechamento do acordo para o fornecimento da vacina com o governo brasileiro no dia 19 de março deste ano, quando o contrato foi assinado.

Durante a oitiva nesta quinta-feira (13), senadores, entre eles o presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), fizeram questão de ressaltar o cálculo feito pelo geren-geral da Pfizer de que, caso o Brasil tivesse firmado trato no ano passado, poderia ter recebido 18,5 milhões de doses.

Isto porque pela oferta feita em agosto do ano passado, teriam sido entregues 1,5 milhões de doses, 3 milhões no primeiro trimestre, e 14 milhões no segundo.

A CPI EM CINCO PONTOS

  • Foi criada após determinação do Supremo ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG)

  • Investiga ações e omissões de Bolsonaro na pandemia e repasses federais a estados e municípios

  • Tem prazo inicial (prorrogável) de 90 dias para realizar procedimentos de investigação

  • Relatório final será encaminhado ao Ministério Público para eventuais criminalizações

  • É formada por 11 integrantes, com minoria de senadores governistas

No depoimento, o gerente-geral da Pfizer confirmou que representantes da empresa mantiveram reuniões com o ex-secretário Wajngarten (Comunicação). No entanto não soube dizer se pessoas de fora do governo participaram, em especial o vereador Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República.

“Eu confirmo, mas não posso confirmar que outras pessoas estiveram presentes nessa reunião”, disse, após ser questionado pelo relator da comissão, Renan Calheiros (MDB-AL), se o filho do presidente estava presente.

Renan então afirmou que vai apresentar requerimento para convocar as duas representantes da empresa que participaram do encontro, para esclarecer essa questão.