TENSÃO

STJ manifesta preocupação com pedido de impeachment feito por Bolsonaro contra Moraes

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) expressou, em nota divulgada neste sábado (21), preocupação com…

Ministro Alexandre de Moraes
Moraes determina que PF ouça ex-estagiária de Lewandowski usada como informante por bolsonarista (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

O STJ (Superior Tribunal de Justiça) expressou, em nota divulgada neste sábado (21), preocupação com o pedido de impeachment apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal).

No comunicado, sem assinatura de ministros, a corte superior lembrou a previsão constitucional de independência dos Poderes. “Os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário são independentes e harmônicos entre si”, afirmou o tribunal.

“O Poder Judiciário tem como função preponderante a jurisdicional, diretamente vinculada ao fortalecimento da democracia e do Estado de Direito. A convivência entre os Poderes exige aproximação e cooperação, atuando cada um nos limites de sua competência, obedecidos os preceitos estabelecidos em nossa Carta Magna.”

O texto prossegue afirmando que o país se constitui em um Estado de direito, “cujas decisões judiciais podem ser questionadas por meio de recursos próprios, observado o devido processo legal”.

“O Tribunal da Cidadania [como o STJ é chamado] reafirma a importância do Poder Judiciário para a segurança jurídica e desenvolvimento do País, garantindo a democracia e a cidadania.”

Nesta sexta-feira (20), Bolsonaro ignorou apelos e ingressou com um pedido de impeachment contra Moraes.

A formalização ocorreu no mesmo dia em que a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do cantor Sérgio Reis e do deputado Otoni de Paula (PSC-RJ), aliados do presidente.

As medidas foram solicitadas pela PGR (Procuradoria-Geral da República) e autorizadas por Moraes. Eles são investigados por organizar levante contra as instituições democráticos, em ato marcado para o dia 7 de setembro.

Auxiliares palacianos viram na apresentação do pedido uma reação do presidente à operação da PF. Bolsonaro havia anunciado que também pediria o afastamento do presidente do TSE (Tribunal Superior Eleitoral), Luís Roberto Barroso, o que não ocorreu.

Também neste sábado, associações de magistrados divulgaram uma nota de repúdio à iniciativa de Bolsonaro e cobraram reação por parte do Senado.

De acordo com o comunicado da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros) e da Ajufe (Associação dos Juízes Federais) o pedido de abertura de processo de impeachment contra Moraes “representa um ataque frontal à independência e à harmonia entre os Poderes”.

“As decisões tomadas pelo magistrado Alexandre de Moraes são oriundas de sua independência funcional —valor constitucional instituído como proteção da sociedade”, afirmaram os presidentes das associações, Renata Gil (AMB) e Eduardo André Brandão (Ajufe).

“Decisões judiciais devem ser contestadas no âmbito do Poder Judiciário e jamais por meio de instrumentos políticos. Temos a certeza de que as instituições —em especial, o Senado Federal— saberão reagir a toda e qualquer tentativa de rompimento do Estado de direito e da ordem democrática”, escreveram.

Ainda nesta sexta, o STF também reagiu a Bolsonaro. A corte divulgou uma nota oficial para repudiar o pedido de impeachment contra Moraes.

O comunicado, também sem assinatura, em nome de todo o tribunal, disse que a corte “manifesta total confiança” no ministro.

“O Supremo Tribunal Federal, neste momento em que as instituições brasileiras buscam meios para manter a higidez da democracia, repudia o ato do Excelentíssimo Senhor Presidente da República, de oferecer denúncia contra um de seus integrantes por conta de decisões em inquérito chancelado pelo plenário da corte”, diz o texto.

Segundo o STF, “o Estado democrático de Direito não tolera que um magistrado seja acusado por suas decisões, uma vez que devem ser questionadas nas vias recursais próprias, obedecido o devido processo legal”.

O tribunal reforçou ainda que, “ao mesmo tempo em que manifesta total confiança na independência e imparcialidade do ministro Alexandre de Moraes, aguardará de forma republicana a deliberação do Senado Federal”.

Nesta sexta, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), disse que não vai se render a “nenhum tipo de investida que seja para desunir o Brasil”.

Pacheco fez a afirmação, em São Paulo, ao comentar o pedido de impeachment de Moraes.

O senador garantiu que irá dar tratamento normal à representação e encaminhá-la para área técnica da Casa e depois decidir se dará continuidade ao procedimento ou não. Ele ressaltou, no entanto, que não antevê motivos para o afastamento de Moraes.

“Eu terei muito critério nisso e sinceramente não antevejo fundamentos técnicos, jurídicos e políticos para impeachment de ministro do Supremo, como também não antevejo em relação ao impeachment de presidente da República”, afirmou.

Pacheco voltou a defender que o impeachment “é algo grave, excepcional, de exceção, que não pode ser banalizado”.

A tensão entre os Poderes subiu mais um degrau no sábado passado (14). Um dia após a prisão de seu aliado Roberto Jefferson (PTB), Bolsonaro anunciou que iria apresentar a ação. A detenção do ex-deputado ocorreu por ordem de Moraes, após ataques do político às instituições.

“De há muito, os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, extrapolam com atos os limites constitucionais. Na próxima semana, levarei ao presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, um pedido para que instaure um processo sobre ambos, de acordo com o art. 52 da Constituição Federal”, escreveu em rede social.