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Toffoli arquiva pedidos de investigação contra Guedes e Campos Neto sobre empresas em paraísos fiscais

O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), arquivou pedidos de investigação contra o…

Toffoli nega suspender cassação de Deltan pelo TSE
Toffoli nega suspender cassação de Deltan pelo TSE (Foto: Nelson Jr. - SCO - STF)

O ministro Dias Toffoli, do STF (Supremo Tribunal Federal), arquivou pedidos de investigação contra o ministro da Economia, Paulo Guedes, e o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, no caso das empresas mantidas por eles em paraísos fiscais.

Toffoli extinguiu notícias-crime apresentadas contra Guedes pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e por um grupo de entidades encabeçadas pela Abed (Associação Brasileira de Economistas pela Democracia). As ações solicitavam que o STF pedisse à PGR (Procuradoria-Geral da República) a apuração do caso.

O pedido de investigação apresentado pelo senador também abarcava Campos Neto.

Normalmente, os membros da Suprema Corte encaminham esse tipo de representação para a PGR, mas Toffoli decidiu pelo arquivamento dos pedidos.

Como justificativa, Toffoli disse que cabe exclusivamente ao procurador-geral da República o pedido de abertura de inquérito contra autoridades com foro por prerrogativa de função.

“Em hipóteses como a presente, portanto, em respeito ao sistema acusatório, não há como o Judiciário substituir a atividade ministerial exercendo juízo valorativo sobre fatos alegadamente criminosos, atribuição exclusiva do Parquet [Ministério Público], tampouco cabe ao Judiciário que ‘solicite a abertura de investigação’ como constou na inicial. O requerente pode apresentar a noticia crime diretamente à Procuradoria-Geral da República, não cabendo ao Judiciário imiscuir-se na atuação daquele órgão ou substituir o cidadão nesse encaminhamento”, argumentou.

A revelação de que Guedes e Campos Neto mantêm offshores ocorreu em 3 de outubro, como parte dos documentos da Pandora Papers. A investigação foi promovida pelo Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos e, no Brasil, participaram veículos como a revista Piauí e o jornal El País.

Offshore é um termo em inglês usado para definir empresa aberta em outros países, normalmente locais onde as regras tributárias são menos rígidas e não é necessário declarar o dono, bem como a origem e o destino do dinheiro
Não é ilegal ter uma offshore, desde que declarada à Receita Federal, mas a falta de transparência desse tipo de empresa faz com que, frequentemente, elas sirvam para fins ilícitos, como ocultação de patrimônio.

Guedes e Campos Neto afirmam que declararam suas respectivas empresas.

No entanto, há um questionamento adicional: o possível conflito de interesses. Guedes e Campos Neto ocupam cargos públicos que lhes dão acesso à elaboração das leis que tratam como o Brasil vai lidar com esse tipo de empresa, bem como das regras que regem o fluxo de recursos entre o país e o exterior.

Após os arquivamentos das ações, a defesa de Guedes divulgou um comunicado em que afirma que as decisões mostram que “não há ilegalidade em manter um veículo de investimento no exterior, declarado à Receita e demais órgãos competentes”.

“Os documentos apresentados pela defesa à PGR demonstram de forma clara que o ministro se afastou da gestão da empresa e que jamais se beneficiou, de qualquer forma, do cargo que ocupa, seguindo, sempre, as determinações da Comissão de Ética Pública, do Código de Conduta da Alta Administração Federal e da Lei de Conflito de Interesses”, afirmaram os advogados.

Nesta semana, a PGR abriu uma apuração preliminar sobre o caso das empresas no exterior de Guedes e Campos Neto.

Guedes enfrenta ainda uma forte pressão política. Em um forte sinal de insatisfação, o plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta (6) a convocação de Guedes para explicar a existência de recursos dele em um paraíso fiscal.

O placar da aprovação do requerimento explicitou o nível de desgastes do chefe da economia de Jair Bolsonaro (sem partido) com o Congresso. Foram 310 votos a 142.

O pedido de investigação feito por Randolfe –e agora arquivado– afirma que o caso das empresas em paraísos fiscais pode representar uma série de irregularidades.

A manutenção de offshores pelo titular da Economia e pelo presidente do Banco Central, destacou o parlamentar, pode configura improbidade administrativa, conflito de interesses e, na esfera penal, pode indicar crimes de peculato, corrupção passiva, advocacia administrativa entre outros.

A segunda representação arquivada por Toffoli traz argumentos semelhantes.

O presidente do Banco Central é dono de quatro empresas, segundo o El País. Duas delas no Panamá, em sociedade com sua esposa, outra delas nas Bahamas. Uma quarta é de “gestão de bens imóveis”. Em suas respostas às reportagens, o presidente do Banco Central afirmou em nota não ter feito operações nessas offshores após assumir o cargo.

Segundo as reportagens, Guedes, sua esposa e sua filha são acionistas de uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, conhecido paraíso fiscal. Em 2015, ela tinha US$ 9,5 milhões (aproximadamente R$ 51 milhões, em valores atuais), detalham as reportagens do consórcio de jornalismo investigativo.