Crítica: Tár (2022)
Longa-metragem foi indicado a 6 Oscars - incluindo Melhor Filme

“Tár” é um filme hipnotizante. É longo, muitos irão achar lento e não será para todos, mas é um estudo de personagem – e atualidade – tão crível, pertinente e sem abraçar os clichês que poderiam tornar a trama repetitiva, que o resultado é uma obra poderosa sobre a vida de uma maestrina e as consequências de seu ego, sua manipulação e do abuso de seu poder.
Dirigido e escrito por Todd Field, “Tár” acompanha a história de Lydia Tár, principal maestro e coordenadora da orquestra de Berlim e uma bem-sucedida compositora ganhadora do Emmy, Grammy, Orcar e Tony (uma EGOT). Mas no momento em que se passa o filme, logo após a pandemia de 2020 e o crescimento do movimento Me Too um pouco antes, Lydia terá que enfrentar as consequências de seu comportamento. Ela mora e mantém um relacionamento com sua primeira violinista e ambas possuem uma filha. Mas corre nos corredores da orquestra rumores de que Lydia favorece musicistas estreantes em troca de favores sexuais, e tudo torna-se ainda mais acentuado quando acusações começam a surgir na internet sobre a sua pessoa, colocando em cheque toda a sua carreira – principalmente após o suicidio de uma garota com quem ela teve um breve caso meses antes.
“Tár” é um filme misterioso. O diretor Todd Field nunca abraça as obviedades do texto e segue pelo caminho menos confortável. Ele não coloca sua personagem como uma vilã para ser odiada pelo expectador, pelo contrário, o longa trabalha de forma sútil, desde a obcessão de Lydia pelo trabalho e controle, até a erupção de tudo em sua vida que culmina, justamente, na perda deste controle.
Cate Blanchett como Lydia Tár é hipnotizante. A atriz traz o equilibrio magistral entre a profissional e a chefe manipuladora e egocêntrica, mas nunca soa desrespeitosa, ofensiva e um ser humano para não se confiar – lembrei de Meryl Streep como Miranda Pristley em “O Diabo Veste Prada”, e aqui Blanchett convence como a gênio da música que é, e também como a profissional impetuosa e ousada que precisou se provar em um universo de homens para alcançar o reconhecimento. Mas o abuso de poder é inerente ao ser humano, independente do sexo.
Todd Field também não deixa de utilizar a problemática em questão para falar sobre a cultura do cancelamento. Uma cultura que acusa e condena de imedito sem ouvir ambos os lados ou ter julgamento prévio – e como isto afeta Tár! Alguém tão obcecada por organização e a hamornia do som, ela passa a ouvir barulhos dissonantes, se sentir vigiada e perseguida, e tudo dentro de uma atmosfera angustiante e claustrofóbica criada por Field. É magistral! Ao mesmo tempo em que o roteiro também faz questão de questionar: é possível separar a obra profissional da vida pessoal de seu artista? Tár possui uma opinião fervorosa sobre o assunto, até porque ela sabe que sua vida pessoal lhe condena. Mas o interessante é que Field não assume um lado, mas deixa o público pensar e se decidir.
Estava preocupado com a duração de 2 horas e 40 minutos. Apesar de não ser um filme para todos, “Tár” é um lento que enfeitiça, arrebata, assombra, que te faz acompanhar o cotidiano desta personagem e se sentir parte do desmoronamento de sua vida. Field trabalha contrastes e não entrega todas as respostas, mas consegue entregar uma história rica em detalhes e nunca chata (ao menos para mim). Enfim, um filmaço com uma masterclass de atuação de Cate Blanchett – que venha seu 3º oscar!

INDICAÇÕES AO OSCAR:
- Melhor Filme
- Melhor Diretor (Todd Field)
- Melhor Atriz (Cate Blanchett)
- Melhor Roteiro Original
- Melhor Fotografia
- Melhor Edição
Tár/EUA – 2022
Dirigido por: Todd Field
Com: Cate Blanchett, Nina Hoss, Noémie Merlant, Sophie Kauer, Mark Strong…
Sinopse: Situado no mundo internacional da música clássica, a cinebiografia centra-se em Lydia Tár (Cate Blanchett). Amplamente considerada uma das maiores compositoras/regentes vivas e a primeira maestrina chefe de uma grande orquestra alemã.
