Filho do presidente

Flávio lucrou R$ 813 mil com negócio relâmpago de imóveis

Filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) realizou…

Filho do presidente Jair Bolsonaro, o deputado estadual e senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) realizou de 2012 a 2014 operações de compra e venda de imóveis com características consideradas suspeitas de lavagem de dinheiro. As transações lhe renderam um lucro equivalente a 260% no período.

Em novembro de 2012, Flávio adquiriu dois imóveis em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro. Localizados em ruas pouco valorizadas do bairro, pagou um total de R$ 310 mil pelas duas unidades e as revendeu, um ano e três meses depois, por mais que o triplo do preço.

Os dois imóveis haviam sido adquiridos em 2011 pelos proprietários anteriores por um total de R$ 440 mil. Em pleno boom imobiliário na cidade, eles tiveram um prejuízo de 30% ao revendê-los ao senador eleito, segundo dados do 5º RGI (Registro Geral de Imóveis) da capital do estado.

O deputado revendeu um imóvel em novembro de 2013 (por R$ 573 mil) e outro em fevereiro de 2014 (por R$ 550 mil). Somadas, as transações lhe renderam um lucro de R$ 813 mil -diferença entre os R$ 310 mil investidos nas compras e o R$ 1,12 milhão que recebeu com as vendas.

Flávio afirma que as transações foram normais.

A dinâmica das operações, porém, é considerada suspeita, segundo resolução do Cofeci (Conselho Federal de Corretores de Imóveis). A entidade determina que sejam comunicadas ao Coaf (Conselho das Atividades Financeiras) negociações com “aparente aumento ou diminuição injustificada do valor de imóvel”.

A resolução em que consta a determinação é de outubro de 2014, posterior às vendas realizadas por Flávio, motivo pelo qual possivelmente não foram comunicadas ao Coaf.

A queda repentina de valor de imóveis é alvo de suspeitas dos órgãos de controle porque podem encobrir um possível pagamento não declarado (fora dos registros oficiais), o que caracteriza a lavagem de dinheiro. Não há elementos adicionais para indicar que isso tenha ocorrido nas transações feitas pelo filho do presidente.

O policial militar aposentado Fabrício Queiroz, ex-assessor de Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio, é investigado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro sob suspeita de participar de um esquema de lavagem de dinheiro e ocultação de bens.

Flávio Bolsonaro não é formalmente investigado na esfera criminal, mas sim na área cível, que apura improbidade administrativa. A suspeita é de que Queiroz recolhesse parte do salário de servidores. O senador eleito nega a prática.

A investigação do caso está suspensa após liminar do ministro Luiz Fux, do STF (Supremo Tribunal Federal).

O Rio de Janeiro viveu desde 2008 um forte aumento de preço nos imóveis. De acordo com dados do Secovi, contudo, a média de valorização não triplicou o preço dos apartamentos de 2012 a 2014, como no caso do senador eleito.

Segundo Flávio, os dois imóveis são quitinetes de 29 metros quadrados. As tabelas do Secovi apontam que unidades de um quarto em Copacabana tiveram valorização de até 70% no período -não há dados para conjugados.

Em março de 2011, o engenheiro americano Charles Eldering comprou o apartamento na av. Prado Júnior por R$ 200 mil. Ele vendeu para Flávio por R$ 140 mil, que, por sua vez, o revendeu por R$ 550 mil em fevereiro de 2014.

Em novembro de 2011, o médico americano Paul Maitino adquiriu a unidade da rua Barata Ribeiro por R$ 240 mil. Ela foi transferida para o senador eleito por R$ 170 mil e revendida pelo filho do presidente Jair Bolsonaro por R$ 573 mil em novembro de 2013.

Os dois imóveis, contudo, não foram vendidos diretamente pelos proprietários. O responsável pela transação foi o corretor americano Glenn Dillard. Ele tinha uma procuração de ambos para negociar imóveis no Rio de Janeiro.

Em 2016, Eldering acusou Dillard na Justiça de ter lhe aplicado um golpe. O engenheiro declarou que o corretor vendera a unidade a Flávio sem o seu consentimento, omitiu a concretização da negociação e ficou com o dinheiro. Dillard tinha, contudo, procuração para realizar as vendas. Flávio não é acusado no processo, já que o corretor tinha poder para as transações.

Eldering afirma que foi vítima do mesmo golpe com outros quatro imóveis. Dois deles tiveram transações em datas semelhantes aos de Flávio.

Maitino não processou Dillard. A reportagem apurou que ele se diz vítima do mesmo golpe.

Outro lado

Flávio Bolsonaro afirmou, em nota, que o negócio foi fechado “de forma legal entre as partes, numa negociação normal, como qualquer outra compra e venda de imóvel”.

“Todos sabem do boom imobiliário pelo qual passou o Rio de Janeiro à época, razão pela qual as quitinetes foram vendidas por valores superiores”, disse o senado eleito.

O deputado não quis comentar o motivo pelo qual os imóveis sofreram perda de valor no momento em que ele os adquiriu. “Necessário esclarecer também que eram quitinetes, de 29 m² cada, e foram anunciadas na internet. […] Esclareço ainda que tudo foi realizado em acordo com as leis, constando nas escrituras, e devidamente declarado à Receita Federal”, afirmou.