REQUALIFICAÇÃO

Requalificação do Centro: quase metade dos estabelecimentos da Rua do Lazer de Goiânia estão desocupados

Local foi revitalizado há menos de quatro anos, mas permanece subutilizado

Rua do Lazer em Goiânia (Foto: Domingos Ketelbey)

Pelo menos 12 dos 30 estabelecimentos comerciais que ficam na Rua do Lazer, no centro de Goiânia, estão fechados ou disponíveis para aluguel de acordo com apuração feita pelo Mais Goiás. Nem parece que há menos de quatro anos o espaço era revitalizado numa entrega feita pelo então prefeito Iris Rezende Machado (MDB).

Entre os dezoito estabelecimentos ocupados, há uma companhia de teatro, algumas óticas, revenda de aparelhos celulares, uma loja de produtos naturais e duas igrejas. Ainda havia na porta de uma rede varejista de calçados um comunicado: aquela unidade a partir do dia 1º de julho fecharia as portas.

Para abrir um negócio na região é necessário ter pelo menos R$ 2,8 mil para gastos mensais em aluguel. É o que os donos dos estabelecimentos cobram por meio de corretoras de imóveis. “A gente espera que com a revitalização que a Prefeitura fala que vai lançar, possamos conseguir colocar as salas para funcionar novamente”, disse um corretor à reportagem do Mais Goiás.

“O preço atual é o menor possível. A região é boa, há sempre gente no centro. É uma pena ver o abandono da forma como está”, complementa. A reportagem falou com outras duas corretoras e o preço médio dos estabelecimentos se repete.

Não parece, mas em outubro de 2019 o ex-prefeito de Goiânia, Iris Rezende entregou a obra que revitalizou o espaço. “Estou certo que este será o cantinho querido da população de Goiânia”, destacou. “Precisamos resgatar e cuidar do nosso patrimônio, tanto o Centro quanto Campinas, que deram origem ao que Goiânia se transformou, uma cidade pujante e que atrai gente do Brasil inteiro por suas potencialidades”.

Rua do Lazer: setor produtivo pede incentivos

O presidente da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Goiás, Marcelo Baiocchi, tem uma empresa que administra um imóvel no local disponível para aluguel. “O centro precisa de requalificação. Bate-se muito na revitalização mas o centro precisa de ser reocupado. O centro precisa de gente circulando dia e noite, consumindo e morando”, salienta ao portal.

Para ele é impossível falar em reocupação do centro da cidade sem fomento do poder público. “Precisamos incentivar o empresário e empreendedor a investir na região. O empresário vai onde tem rentabilidade e menor risco. Hoje, os custos de investimento no centro ou num bairro mais valorizado são os mesmos. Acaba não justificando investimentos no centro. Se houver apresentação de incentivos prometidos, isso fará que o empresário volte a investir no centro.”  

Requalificação do Centro

Ele está otimista que o projeto de requalificação do centro prometido pelo prefeito Rogério Cruz (Republicanos) seja apresentado ainda este ano. “Ano que vem é lei eleitoral e torna-se difícil a apresentação de novos projetos. É natural que em ano eleitoral o foco mude. A gente defende e acredita que este projeto seja apresentado este ano e tem todo apoio do Fórum Empresarial. Estamos muito ansiosos em ver esse projeto”, destaca.

Baiocchi destaca que nada referente à Rua do Lazer foi apresentado ao Forum de Entidades Empresariais. “Ainda não tem um fato concreto. É apresentado plano referente a todo o centro e aquele pedaço da Rua 8. Eu acredito que se fazendo esses investimentos, a Rua do Lazer terá sua melhoria. A população precisa circular por toda aquela região”, salientou.

Para além dos incentivos, a arte e a cultura…

A gerente-geral do Conselho de Arquitetura e Urbanismo de Goiás, Maria Esther de Souza destaca que uma revitalização do centro não se faz apenas com incentivos. Ela parte do pressuposto que o próprio termo utilizado para o debate está equivocado.

“Revitalização da ideia de trazer a vida e o centro não está morto. Está velho, sujo e largado. O velho não serve mais e joga fora”, salientou. “Vida tem…”, garante. “Você vai ao centro durante o dia. O que falta? “Não tem manutenção, não tem iluminação, infraestrutura básica para uma pessoa que esteja lá sinta-se confortável e segura”, salienta.

Todos esses gargalos afugentam as pessoas do centro que buscam outras regiões para morar. “Precisamos de espaço público e gente morando. Atividades culturais e fomentar a vida noturna e o espaço de lazer”, sugere. Não há na Rua do Lazer por exemplo, programações noturnas.

Gente circulando

Maria Esther sugere que apenas incentivos fiscais não vão resolver esse problema. “O desconto para abrir um CNPJ, desconto de IPTU para novas igrejas… Pode até ser interessante, mas esse tipo de atividade não traz vida. O que traz vida é gente na rua. Porque vamos no centro se não há o mínimo de segurança, iluminação e qualidade de vida”, salienta.

Mais que incentivos fiscais então, é importante que a Prefeitura dê atenção a atividades artísticas na Rua do Lazer. “O poder público deve promover atividades de uso do espaço público e atrair a população para conviver naquele local. O imóvel comercial fechado é consequência de uma dezena de situações. Por mais que a pandemia tenha trazido centenas de prejuízos, a gente vive num tempo em que o comércio acontece de forma virtual”, destaca.  

“Se a Prefeitura começa a promover atividades nos espaços públicos, o comércio pode se interessar em abrir para fomentar aquele espaço. Um grande evento de música ou de apresentação cultural… Quando há gente num lugar, a chance de dar certo é muito maior.”, destaca.

O que diz a Prefeitura de Goiânia?

Por meio de nota, coube a Secretaria Municipal de Finanças responder às demandas encaminhadas à Prefeitura de Goiânia sobre os questionamentos feitos em relação à Rua do Lazer. Segue abaixo o posicionamento na íntegra:

A Secretaria Municipal de Finanças (Sefin) informa que as propostas que compõem o programa de requalificação do Centro de Goiânia ainda não foram apresentadas oficialmente para a sociedade por estarem em fase de desenvolvimento e estudo de impacto. 

O projeto observa diversos fatores como: infraestrutura e serviços; regime urbanístico e Legislação; fomento econômico; mobilidade urbana; desenvolvimento, cultura e esporte; valorização do patrimônio histórico-cultural; segurança e fiscalização.

A expectativa é que o programa seja lançado ainda neste segundo semestre. Na semana passada, o prefeito Rogério Cruz se reuniu com o Fórum Empresarial, ocasião em que foi discutido o projeto para revitalização do Centro de Goiânia.

No encontro, que é realizado periodicamente, foi divulgado um relatório de ações em que foram listados eixos temáticos e ações prioritárias no processo de revitalização da região.

A apresentação listou as principais iniciativas para a revitalização da região central. Dentre os pontos citados estão: incentivos fiscais para habitação e fomento à economia; melhoria da infraestrutura e mobilidade; retorno das pessoas ao Centro de Goiânia; retomada de atividades culturais e esportivas; e a preservação do patrimônio histórico-cultural.

Equipes da Sefin já se reuniram com membros do Fórum do Setor Produtivo para viabilizar encontros com todos os segmentos, associações e representantes empresariais com atuação na região e/ou que possam ser beneficiados, para ouvir demandas, discutir se as soluções são suficientes para o propósito de tornar o Centro atrativo para as atividades e fazer as adequações necessárias. 

Ressaltando, ainda, que todas as propostas, que ainda estão em análise, passarão obrigatoriamente pela validação do Conselho Municipal de Preservação de Patrimônio Histórico, Cultural e Ambiental da Cidade de Goiânia, que conta membros da sociedade civil organizada”.