SEM CONCLUSÃO

Hacker “de Padre Robson” fugiu da delegacia em 2016; caso segue sem desfecho

Há mais de quatro anos, dois procedimentos de investigação – um administrativo, na Corregedoria da…

O hacker Welton Ferreira, que estava preso na Deic, fugiu da delegacia pela porta da frente. Corporação investiga o envolvimento de policiais há quatro anos (Fotos: divulgação/PC)
O hacker Welton Ferreira, que estava preso na Deic, fugiu da delegacia pela porta da frente. Corporação investiga o envolvimento de policiais há quatro anos (Fotos: divulgação/PC)

Há mais de quatro anos, dois procedimentos de investigação – um administrativo, na Corregedoria da Polícia Civil; e outro criminal, no Ministério Público de Goiás (MP/GO) – seguem em aberto, tentando desvendar as circunstâncias da fuga de  Welton Ferreira Nunes Júnior, de 29 anos, ocorrida em 2016. Ele, que agora ficou conhecido como o hacker que liderou o esquema de extorsão contra o padre Robson de Oliveira, foi preso e saiu um mês depois pela porta da frente da delegacia, no que investigadores avaliaram como suspeita de fuga facilitada mediante pagamento de propina.

Welton foi preso há quatro anos, no âmbito da Operação Reis do Gado, suspeito de liderar um grupo de roubo de bovinos em Goiás. Ele ficou detido na carceragem da Delegacia Estadual de Investigações Criminais (Deic), em Goiânia, que era monitorada por funcionários da Delegacia Estadual de Capturas (Decap).

No dia 1º de julho de 2016, ele saiu da cela no momento em que outros presos eram tirados para serem levados para audiências de custódia. O caso só veio à tona sete dias depois, sendo noticiado pela mídia no dia 7 de julho.

A Corregedoria da Polícia Civil de Goiás disse ter instaurado, na época, um procedimento administrativo para investigar o fato. O procedimento, entretanto, ainda permanece em andamento, apesar dos fortes indícios de favorecimento e pagamento de propina a agentes. A reportagem apurou que pelo menos dois são considerados suspeitos de recebimento de dinheiro por terem facilitado a fuga.

O atual corregedor, delegado Eraldo Augusco, terceiro a ocupar o cargo nos últimos dois anos, confirmou à reportagem que o procedimento segue inconcluso, faltando ainda algumas diligências para serem feitas. Ele afirma que uma resposta será dada em breve e alega que o caso segue em sigilo.

Na parte criminal, a investigação foi instaurada na época pelo então coordenador do Grupo Especial de Controle Externo da Atividade Policial do Ministério Público de Goiás (MP-GO), promotor Giuliano da Silva Lima. Uma cópia do relatório foi enviada à Corregedoria da Polícia Civil e o inquérito encontra-se hoje no Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), responsável pela investigação de todo o caso envolvendo o padre Robson.

Por meio de seu advogado, Welton disse que não se manifestará sobre um procedimento administrativo ao qual ele não responde. Em relação ao inquérito instaurado pelo MP/GO, de caráter criminal, o advogado do rapaz, Ricardo Silvestre, diz que não há o que manifestar, já que o fato ainda não gerou ação penal.

Tempo e suspeitas

Welton só foi recapturado pela polícia um ano depois, no dia 30 de junho de 2017, no Rio de Janeiro, quando já era procurado pelo crime de extorsão do padre. Segundo a denúncia oferecida à Justiça pelo MP-GO, referente ao caso, as extorsões ocorreram entre março e junho daquele ano.

Descobriu-se que ele liderou tudo, contra o padre, enquanto estava escondido, morando em um apartamento próprio na Barra da Tijuca. A reportagem conversou com promotores e delegados que estiveram à frente da investigação sobre as circunstâncias da fuga dele em 2016. A maioria pediu para não ser identificada.

Um promotor explicou que o tempo que ele ficou sem ser localizado acabou dificultando a elucidação. Outro afirmou que a principal linha de investigação é, sim, referente ao pagamento de propina a agentes para a facilitação da fuga.

“Ele saiu pela porta da frente da delegacia, normalmente. Foi algo sob condições que, certamente, aponta para a prática de corrupção e soltura indevida”, diz esse promotor, que pediu para não ser identificado.

A investigação que desencadeou a Operação Reis do Gado, em 2016, descobriu que Welton tinha um patrimônio avaliado em torno de R$ 6 milhões. Ele foi preso, na época, em uma residência de alto padrão, no condomínio Jardins Valência, em Goiânia.

O gado era roubado e levado para uma fazenda dele em Anicuns, a 84 quilômetros da capital. Ao abordar caminhoneiros nas estradas, o grupo se passava por policiais civis, usando um veículo similar a uma viatura.

Ex-policial sócio

Um dos investigados no procedimento de investigação criminal da fuga de Welton, inclusive, e que teria atuado para intermediar a negociação com os agentes e acertar o pagamento, em 2016, é o ex-policial civil e sócio de Welton, Elivaldo Monteiro de Araújo, de 48 anos.

Ele é um dos que estão presos, condenados pelo crime de extorsão contra o padre, em março do ano passado. Segundo a assessoria de comunicação da Polícia Civil, Elivaldo foi demitido da função em maio deste ano, mais de um ano após a condenação na Justiça. Nos últimos meses em liberdade e no cargo de agente, ele estava afastado por licença médica.

De acordo com a investigação do MP-GO, Elivaldo estava lotado na Deic durante os meses em que o padre Robson foi alvo de extorsão, em 2017. Em uma das situações apuradas, após um plantão na delegacia, ele foi pessoalmente buscar parte do dinheiro pago pelo padre.

Welton e Elivaldo são sócios, donos da empresa Escava Gyn Locações de Máquinas Ltda., cuja sede fica na Avenida Perimetral Norte, em Goiânia.

A demissão da função de policial civil fez com que ele deixasse de ser investigado pela Corregedoria no procedimento administrativo referente à fuga de Welton.

Já em relação ao crime de extorsão, a Gerência Especial de Correições e Disciplina da Polícia Civil de Goiás chegou a representar contra ele no MP-GO pela abertura de ação civil pública por ato de improbidade administrativa.

O pedido foi analisado pela promotora Leila Maria de Oliveira, da 50ª Promotoria de Justiça de Goiânia, em julho deste ano. Ela entendeu que não houve a prática do ato de improbidade por parte de Elivaldo, pois ele não teria usado do cargo público para praticar o delito e, tampouco, o praticou no exercício do cargo, ou seja, os crimes ocorreram em horários fora do expediente.

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